23 de outubro de 2012

A POESIA É A ARTE DAS POUCAS PALAVRAS

Nei Duclós

A poesia é a arte das poucas palavras. Não das palavras escassas, enxutas, áridas, secas, torcidas como arame farpado e expostas nos eventos suntuosos que celebram os talentos mínimos. Não das palavras úmidas e sebosas que compõem a redundância do sentimentalismo industrial. Mas das palavras como pontas de iceberg, para usar uma imagem comum, mas clara. Como bóia de gigantescas redes submersas, que ao serem vistas na madrugada dizem tudo sobre o que trazem no ventre, se peixes ou sargaços.


São como estrelas solitárias antes das tormentas, que representam todo o céu ainda encoberto, promessa do que virá na bonança. Palavras precisas, mas sem precisão cirúrgica, já que a poesia não serve para retalhos, cortes superficiais ou profundos, sangramentos ou costuras. Mas com grandeza suficiente para resumir uma legião num gesto, uma civilização num jarro, uma guerra perdida ao longo de dez continentes, representada por um único funeral, chorado por quem não deveria ter sobrevivido.


RETORNO - Abertura do ensaio "Poucas palavras em Manuel Bandeira".