Nei Duclós
És intensa porque tudo em ti conflui para o mesmo ponto. Mas
não profunda, pois o mel mergulha e a toda hora vem à tona.
Sei que virás em definitivo. Já
treino o olhar assassino para o entorno quando te colocar no colo.
Não acho que te mereça. Isso me
impede de chegar perto. Mas não de jogar pesado em quem se aproxima de ti,
beleza mortal
Brigamos tanto porque sem querer
viramos amantes e ainda estamos com a cabeça no tempo de antes, quando vivíamos
sós como duas bestas falantes.
Você dói. E não tem cura.
Não tenho mais medo. Você disse sim.
Tão
bonita que choramos de remorso ao conhecê-la pelo desperdício de tempo em que
ficamos distantes.
Existe a força da obra, teu corpo
que me comanda e o sopro imortal da chama que nos consome sem pausa
Foi inútil o tempo dispendido. E o
que se descortina está no frio. A não ser que habites a fantasia gerada no
convite.
Tua graça sobra e se esgarça, se
esparrama até a praça onde teu circo me chama.
Sombras imitam bichos, aproveitam a
cobertura fria para nos assustar no escuro. Fauna que apavora a ventania.
O que imagino não é falsidade, é a
vontade que tenho de ti, beldade.
Cansaste de esperar no sofá da
realeza. Precisei despachar com diplomatas de outros tempos. Agora voltei para
um despertar à noite.
Sumiste no calor da festa. Mas na
varanda o sonho te esperava
Avisei que iria te pegar de
surpresa. Quem manda duvidar da ameaça.
Agora chega de conversa. Deite-se,
palavra, sobre a mesa.
Estás ocupada sendo você mesma. Esqueça
um pouco e me dê um aceno.
O que devo fazer para ser parte do
teu dia? Ou devo permanecer em banho maria?
O vento está mexendo na fonte do
arrepio.
Não finja que me abandona quando eu
fingir que nem ligo. Antes eu tinha jogo agora já não consigo. Admito que te
amo vamos pular o conflito.
Saleiro de vidro estilhaçado no piso
era a lágrima seca do coração partido. Colei cada pedacinho e batizei de
açucareiro.
Toda essa boniteza mela o poema.
Exageras, tremenda.
RETORNO – Imagem desta edição: Anouk
Aimeé.