Nei Duclós
Passei o dia meio de lado. Era tua
ausência que pesava.
Não sei o que dizer quando me
desarmas. Minha saída é o gesto arriscado de um achego.
Estocas meu sentimento para ter o
que viver mais tarde, quando a sombra do cosmo cobrir teu quarto. Estarei só, como
sempre, com o telefone interno ligado.
És tão minha que virou encrenca. O
que vamos dizer quando surgirmos a pleno, de coração escancarado no sereno?
Não saí a tempo pois perdi a brisa
da manhã. Agora aguardo teu sopro, criatura da noite.
Lembro de ti, a mais bela da
planície. Quanto desperdício, minha fada. Dizes amor e me enredas.
O que dizes não é sincero. É preciso
ser o poema antes do verbo. Abandonar o pântano da verve, se transformar na
lama do verso. Falar com todas as águas que a partir de ti se manifestam.
Regaste com fogo a semente que eu
trouxe da fonte. Era de flor, mas brotará uma folhagem de lava.
Depois te arrependes e me tratas com
teu lambuzar de beijo. Mas fiquei seco e custo a despertar o que me faz
inteiro.
Foi difícil recolher os restos do
amor destruído para compor um verso. Por isso não repare o jeito do poema recém
saído da fisioterapia.
Te provoco porque sinto tua vibração
chegando perto. É uma espécie de celebração espontânea
Me acusas de ficção permanente, como
se o amor fosse invenção minha. É destino, sua linda indiferente.
O gênio sabe o que desconhece
O tempo é um túnel circular cheio de
portas. Ele vai tocando o trinco: sexta-feira,segunda. Avança em espiral de
outubros,varanda de si mesmo
RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn
Monroe.