Nei Duclós
Desconfias que seja tudo mentira.
Pode até ser. Mas a alternativa são as verdades com ciúme da poesia.
Lês quietinha a poesia. Sinto teu
vibrar de chama, tímida.
Quero você para mim. Só que não
devolvo.
Quero ajudar a construir uma
linguagem tão poderosa que derrube o muro, enfrente o lixo, apague o escuro,
vicie o beijo, inaugure o dia.
Não decides o que vejo em ti. Não
noto o que me dizes, mas os detalhes que te escapam, jardim de delícia.
Por seres querida, te quero. Não
importa se amor ou amiga. Estamos a passeio na alameda, obra dos nossos olhos.
Já vai alto o dia. Acordei com as
nuvens, que se dissipam conforme ordena o clima. Agora espero que despertes os
pássaros da alegria.
Divida comigo a comunhão de frutas.
Sorria entre gomos que se desmancham. Imagino o quanto posso beber desse cálice
de sonho, a tua boca.
Tão cedo acordas, cheia de suspiros.
É porque sabes como fico alerta quando te aguardo na cabana que o vale da
paixão abriga em plena ventania.
Não somos biografias. Mas esse
relâmpago de amor entre manhãs de susto.
Quero firmar em você. Vou jogar fora
tudo o que me afasta.
Continue o que está fazendo. Comigo
não terás surpresa. Continuo celebrando tua beleza.
RETORNO – Imagem desta edição: Winona Ryder.