Nei Duclós
Caí do alto da madrugada. Abriu o paraquedas
do teu sonho.
Leve consigo o recado dos deuses.
Eles falam em código, por sinais dispersos. Junte-os no poema
É difícil despertar para o que
parece ser o Mesmo. Mas o dia guarda um segredo. Procure em teu coração
tranqüilo.
A brisa que dobra a relva é igual à
minha vontade em voo de pássaro sobre teu arrepio.
Perca a paciência para a
desesperança. Há sempre lugar para o amor, despertar dos sentidos.
Gosto do teu remorso. quando
lamentas a amargura. Prepara o futuro, teu coração pronto para a doçura.
Estaremos prontos para partir quando
imaginarmos o mundo impregnado por nossa coragem.
O que deixas de dizer se perde. No
lugar dessa fuga assume o que sempre negas.
Não tema repetir as palavras que te
invocam. Basta mudar de posição que elas se revelam em mais sortilégios.
Cultura é o esforço de sentir e
compreender. Cruza o deserto da estranheza e se alimenta da água de plantas
amargas para gerar o fruto que permanece.
Vibre, mesmo sem motivo. A vida só
existe quando ficas trêmula.
Quando o silêncio é a indiferença,
melhor o ruído dos teus medos.
Não vamos perder a conta. Há dez
telefonemas não te vejo.
Crescente ganhou barriga, vai gerar
a Lua Cheia.
O mar é a representação do infinito.
Navegar nele é impor limites, recortar as bordas de um convés que abrigue teu
corpo líquido
Viver é gritar por socorro sem que
ninguém escute. A solidão é o ponto exato onde se situa a nossa natureza no
cosmo interminável.
Não ousamos ser amantes. Tínhamos
compromisso com o sofrimento
Você passou por isso, me entende. É
como ser trespassado por um trem e continuar ileso, mas com a ferida ainda
aberta, doendo.
Palavra não foge do expediente.
Cumpre sua sina, põe na mesa, depois retoma para sua vocação de beijo.
Não tente retomar o ritmo do nosso
entendimento. Rompeu-se para sempre. Não confiaste que eu estava te querendo.
Chegaste no ninho e nem disse nada.
Foi forte a balada.
Venha, bonita. Sou teu aperto, antes
e depois do banho.
Ficas monitorando, laço de fita.
Cabelo no ombro, olho de pérola fria.
Crescente no zênite, universo
cortado como queijo, metade para a noite, metade para o sereno.
O mercado da poesia tende a
desaparecer, dizia a manchete. Alguma vez existiu? perguntou o mendigo
trovador.
Só tenho um poema, disse o menino.
Serve, disse o contrabandista. Agora te manda.
Cheia de querer. Transborda. Sou o
vale onde estendes tuas águas.
É hora em que o dia recolhe suas
luzes como numa aldeia colocam crianças ao redor da lareira. Aí vem a Noite,
pontuada pela Lua, rainha, e o séquito de estrelas.
Onde fica tua ausência quando o
domingo desmaia? Se eu soubesse, poderia entender teu esconderijo.
RETORNO – Imagem desta edição: Anna
Bederke.