30 de novembro de 2009

O CATCHORRINHO


O catchorrinho é um personagem trágico. Não ele em si, mas o que representa. Vamos pegar o exemplo do técnico Andrade, do Flamengo. Por muitos anos ele foi preterido do cargo em favor do catchorrinho. Toda hora pintava a vaga e colocavam Andrade de tampão, mas em seguida o substituíam. Nunca era efetivado no cargo porque a prioridade sempre era para o catchorrinho. Até que um dia caiu a ficha ou faltou opção e no lugar do catchorrinho deixaram Andrade como técnico. Bem, ele é quase campeão. Falta pouco. Assim mesmo, periga ele levantar a taça e voltar ao ostracismo. Alguém vai provar que o mérito é do catchorrinho, que agiu nos bastidores.

Você mesmo deve ter passado por algo semelhante. Alguém no seu trabalho quer saber alguma coisa, num tema que você domina, é especialista. Aí as pessoas ao teu redor começam a perguntar de maneira feérica para a cortina, a janela, a porta e o catchorrinho, jamais fazem a pergunta para ti, pois poderás responder e assim serão desmoralizados, pois as pessoas estão abraçadas, apaixonadas pelas suas duvidas e não dão colher de chá para ninguém. Só para o catchorrinho.

Na políica, então, nem se fala. Poderíamos ter bons candidatos, mas eles sempre são colocados de lado em favor do catchorrinho. Au, au, votem em mim. E as pessoas votam, não há opção. Aí o catchorrinho faz aquele estrago no sofá do país e todos colocam a culpa no povo. Viu? Foi votar no catchorrinho. Isso se repete sempre. O pior é que a corrupção, quando consegue ser flagrada e derruba alguém no Parlamento, quem é o substituto? Claro, ele de novo, o catchorrinho. Ruarr ruarr.

Para não dizer que estou implicando, vou lembrar outros casos. Imagine uma feira do livro inédita em Conceição de Mato Dentro. Enfim os escritores locais, o prefeito conseguem arrancar uma verba preta da publicidade e eis que há uma boa bufunfa para o evento. Quem eles convidam como participante especial? Alguma dúvida? Lá está o catchorrinho dando autógrafos. E isso se repete nas grandes bienais. Só o catchorrinho aparece nas matéria. Aqui estamos na mega plus extra Bienal de São Paulo e vejam quem está ao redor dos seus leitores e fãs? O nosso convidado especial. Diga alguma coisa, vai. Blau blau.

É insuportável como nas provas dos concursos não fazem perguntas pertinentes, como por exemplo “pode-se chamar de ditadura um governo eleito por assembléia constituinte, como aconteceu em 1934?” Eles fazem outra pergunta” Diga porque o catchorrinho fez doutorado em ditadura nos anos 30”. Pobres estudantes.

No noticiário, seja qual for o assunto, jamais chamam os verdadeiros especialistas, os caras que dominam a matéria. Sempre chamam o catchorrinho. “Precisamos criar um circulo virtuoso”, diz o canino. “A qualidade de vida é fundamental. O desenvolvimento sustentável pode muito bem se sustentar. O aquecimento global exige que tunguemos mais verbas”. É ele, o catchorrinho dando entrevista. É que nos ágapes noturnos, encastelados em palácios suntuosos, os donos do poder jogam os restos para alimentar o catchorrinho. É por isso que não temos chance.

RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

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