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30 de julho de 2009
O QUE É OPOSIÇÃO?
Nei Duclós
Oposição é a lucidez em luta diária contra o obscurantismo. Lucidez é enxergar e expressar com clareza os eventos e processos que infelicitam a nação. Um país é a instituição reconhecida internacionalmente e criada para que seus habitantes sobrevivam. Oposição, portanto, faz parte da luta pela sobrevivência. Não se trata de encarnar o tucanato quando o petismo está no poder e vice-versa. Nem de bater no Sarney só depois que ele acumula um acervo patrimonial e financeiro para sua descendência até a milésima geração. Mas de denunciar o enriquecimento ilícito e a sucessão de crimes no momento em que eles acontecem ou logo depois que são vistos de maneira nítida.
No Brasil de hoje, e da última década, não há oposição, apenas pose. Faz parte do sistema ficar em frente as câmaras para insurgir-se contra algo. Opor-se virou uma negociata. Vemos isso no Congresso. Para anular a iniciativa de investigar determinada falcatrua, os políticos de uma bancada anunciam que, então, vão entregar os podres dos colegas que poderão prejudicá-los. Isso é conivência, não oposição. Sentir saudades da ditadura também não é oposição, é burrice, já que continuamos nela. E achar que Chávez, Lula ou Morales são de esquerda é pura debilidade mental.
Oposição não é denunciar as porcarias dos programas de televisão quando você ocupa o Palácio do Planalto, como aconteceu recentemente numa das arengas recorrentes do presidente, que usa sempre os mesmos truques histriônicos para defender o butim. Se eu estou na presidência, não vou ficar fazendo denúncias, eu assumo a responsabilidade de promover a mudança. Porque você não pode permitir a criminalização do país de nenhuma forma, principalmente deixando rolar uma sucessão inominável de baixarias. Se alguém, no futuro, desenterrar o que veiculamos hoje, vão achar que no Brasil não existiam escritores, por exemplo, mas moralistas mostrando as coxas ou idiotas disseminando sabedorias-minuto. Ou que as cantoras não cantavam, apenas faziam gestos de dar no palco. E que “olha a faca” era uma expressão falada por toda a população, já que foi reproduzida quinhentos milhões de vezes.
Perguntarão: “Você então faria censura?”! Censura é mais uma palavrinha manipulada pelos arautos da falsa democracia. O sistema de televisão, desde que se declarou que a continuidade da ditadura seria batizada de democracia, faz tudo para desmoralizar a liberdade de expressão. Faz sentido. Como vivemos no arrocho político e financeiro, a verdadeira democracia não pode ter vez num projeto de televisão que é a cara de um país que não distribui renda e dissemina a violência em todos os níveis e lugares. No Planalto, um presidente da República precisa intervir nas concessõe públicas de rádio e TV, desmontar os esquemas de reprodução infinita de baixarias e mediocridade e criar respiros na programação por meio de uma distribuição justa de canais e de incentivo à seriedade e à cultura. E não ficar sacudindo o dedinho para platéias compradas.
Não podemos entregar a sobrevivência nas mãos criminosas dos institutos de pesquisa, que medem a audiência como a cara deles. Oposição é não permitir que todo estrangeiro que aqui aporta seja brindado com algum espetáculo sobre nossa miséria moral e física, como se fôssemos um Pátio dos Milagres sem Paris em torno. Não pode mostrar favelado batendo lata para cabeças coroadas. Não se trata de esconder, mas de selecionar. Você coloca uma orquestra sinfônica, um grande coral, uma equipe estudantil bem nutrida nas fuças do estrangeiro. Você não põe brasileira rebolando na frente de olhos cobiçosos de marmanjos poderosos lúbricos. Você se opõe a isso e chama o Cabo Adão para ter um particular com o sujeito, se for o caso de o descarado lançar um olhar safado para alguma menor brasileira representante da Unicef.
Ou seja, em todas as ocasiões você manifesta soberania. Não se trata de cair na tentação da patriotata (a mentira vestida de verdade histórica), choramingar batendo no peito enrolado na bandeira por qualquer motivo, mas ficar firme na posição de brasileiro fundando na Independência do país. Oposição não é nacionalismo xenófobo do reacionarismo ame-o ou deixe-o, é parâmetro para quem está dentro ou fora do território nacional, quando dizemos: mantenham vivos os contratos, os reconhecimentos, porque aqui estamos atentos.
Devemos nos opor à demagogia de pagar para governo estrangeiro desmoralizado o triplo por uma energia que estava com o preço acordado em contrato. Não precisamos da popularidade sorridente dos porquinhos da vizinhança debochando de um paisão fracote e galinha. Isso não significa que devemos expor o machismo de nossas botas e esporas. Precisamos apenas acreditar que somos um país forte, que aqui temos oposição, temos grandeza e vivemos dentro da lei. O que não pode é ficar passeando bandido perigoso de avião de um estado para outro, ameaçar soltar a parricida, permitir que policiais estejam em milhares de delitos, achar que bala perdida de revólveres registrados seja considerada um acontecimento normal.
Temos que fazer oposição. Dar força aos profissionais do Ministério Público que arriscam a vida com seus processos, celebrar a coragem dos policiais que enfrentam bandidos armados, incentivar a misericórdia quando houver necessidade perdão. Temos que ser essa coluna mestra de um templo ferido, que se mantém de pé graças à nossa determinação. Temos que amar o país como a nós mesmos. Para quando nos virem em grupos em ruas de outras nações, digam: lá estão os brasileiros, um povo de verdade que vive bem e não esses malandrões ruidosos em que nos transformamos aos olhares alheios.
E quando um policial inglês der oito tiros na nuca de um brasileiro inocente e desarmado num metrô de Londres, não vá depois passear de carruagem com a rainha. Pega mal. Nem eles, que são os tais, gostam disso. Todo mundo prefere tratar com pessoas íntegras. É mais seguro e confiável. Quem precisa de espertalhões tomando conta de oito milhões de quilômetros quadrados de terras aráveis, montanhas, rios, lagos, planícies, vales e planaltos, cachoeiras e matas? Só mesmo essa turma que não sai do poder e precisa de oposição a cada segundo de nossas vidas.
RETORNO - Imagem desta edição: o Rio de Janeiro, eterna capital do Brasil Soberano.
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