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1 de setembro de 2005
UM LINK NA FRONTEIRA
Anderson Petroceli, do Portaluruguaiana, colocou um link permanente para este blog, o que me enche de novas responsabilidades. Estar online com meus conterrâneos é não só uma honra, como um necessidade. De cara, reproduzo o convite que Ricardo Peró Job me enviou para o lançamento, no próximo dia 16, pela Editora Holoedro, do livro Terra dos longos olhares, antologia organizada por Lúcia Silva e Silva. O evento será na sede da secretaria de cultura, rua Tiradentes 2801, a partir das 20 horas. Participo com um texto sobre o assombro de uma noite enluarada no meio do mato e diante da corredeira do rio, conto/crônica já conhecida pelos leitores do Diário da Fonte e do Diário Catarinense.
LENHA - A lista de autores é extensa, sinal de que Uruguaiana, terra de escritores, continua em forma: Alberto Moura, Luiz Humberto Janceski, Bebeto Alves, Marina Fagundes Coello, Carlos Omar Villela Gomes, Chico Alves, Onéu Prati Molina, Colmar Duarte, Pedro Grassi, Daniel Fanti, Luiz de Miranda, Rafael Ovídio da Costa Gomes, Elder Oliveira Filho, Ricardo Pereira Duarte, Fernando Pereira da Silva, Ricardo Peró Job, Gelsa Verdum, Rubens Montardo Jr, Genaro Alfano, Sílvio Genro, Hique Gomes, Tabajara Ruas, João Antônio (Tukano) Greco Neto, Túlio Urach, Lourival Gonçalves, Ubirajara Raffo Constant, Luiz Flodoardo Silva Pinto, Vera Ione Molina Silva. Gostaria de ir, mas uma série de dificuldades me impedem. Assim mesmo, gostaria já de receber meu exemplar para navegar na palavra de tanta gente boa. Conheço pessoalmente a maioria: Vera, Peró, Fernandinho, Taba, Colmar, Chico, Miranda, Rubens, Bira Tuxo, Bebeto. Minha cidade tem praça com busto de poeta. No de Gonçalves Viana, o verso que fala em exílio medonho me eletrizou. Até hoje acho essas palavras fundamentais. Tem o busto de Alceu Wamosy e pelo que o portal me informa, também o de Miranda, que ainda não me enviou seu novo livro, Nunca mais seremos os mesmos. Não há distribuição no Brasil, a não ser para best-seller e auto ajuda. Mandem seus livros, que serão todos bem tratados aqui no Sítio do Capivari. Acabo de sair da leitura de A Viagem, magnífico livro de contos de Cícero Galeno Lopes, contista maior e também de Uruguaiana. Minha cidade é assim: reúne numa antologia dezenas de escritores e ainda tem lenha para queimar, como Cícero, Pio de Almeida e tantos outros.
VENTANIA - Vivemos sob o pavor dos ventos. Um tornado revela, enquanto destrói, uma cidade de nome Muitos Capões, no norte do Rio Grande do Sul. Não ficou casa sobre casa. New Orleans não existe mais: num estádio cheio, 23 mil pessoas vivem o pavor de gangs que lutam por água e comida. Um músico americano que estava em São Paulo e precisava voltar para casa sofreu o impacto da eterna pergunta do telejornalismo brasileiro: como é que você se sente? A resposta foi feita com ironia e raiva: o que você acha? Minha casa está em baixo dágua, não tenho notícias dos meus parentes e não posso pousar na minha cidade. Como posso estar? A pergunta maldita é fruto da indiferença, da apelação, da ignorância e do escravagismo. Aqui, quando perguntam isso para as vitimas da enchente, estas choram. Perdi tudo, perdi tudo (zoom no rosto contorcido). Há também um desdobramento da pergunta maldita: como é que é essa coisa? É uma questão mais sofisticada. Coisa vem acompanhada de um gesto de mão. É quando o telerepórter produz pensamento. Sorte que Caco Barcelos voltou a campo. Quase matou o sobrevivente de uma acidente de avião, levando-o, de perna quebrada, pelo meio do lodo, para mostrar como foi a tragédia. Só Caco mesmo, o repórter que todos gostamos de ver, ouvir e ler.
CHANCE - Mil pessoas morrem pisoteadas ou despejadas da ponte em Bagdá, num evento religioso. O assassino foi o pânico, gerado pela guerra, criada pelos invasores do país, que pregam a democracia numa terra dividida em clãs. Democracia moderna é para comunidades de indivíduos desenraizados, que ultrapassaram as fronteiras mentais do fundamentalismo. Baseia-se (ou deveria) na lógica e na razão, e não na fé. Somos montanhas de indivíduos que se transformaram em avalanches de carne e osso a se despejar pelas ruas estreitas do mundo em guerra. O cotovelo é a arma do espaço que não existe mais. Os saltos pesados anunciam a passagem de corpos jovens. Não há mais paciência. O Estado sumiu, deixando tudo à entrega de quadrilhas, em todo o mundo. Os exércitos mercenários fazem de conta que defendem uma civilização, mas esta faz parte do imaginário e dos papéis, jamais da realidade. Há revolta surda e submissão explícita. Tudo o que acontece serve para reiterar o Mesmo. Eu não te disse? São todos iguais, é tudo a mesma coisa. Você lutou todo esse tempo para quê? Mas basta se aproximar de um indivíduo para entender a riqueza de toda uma vida. Só é preciso escutar, para que a paz tenha uma chance.
RETORNO - O Google informa: Muitos Capões, um antigo distrito de Vacaria, é um dos municípios mais novos do Rio Grande do Sul. Chamou-se primeiramente Raia da Capoeira. A origem do povoamento está associada à construção da Capela de Santo Antônio dos Muitos Capões, que foi inaugurada no dia 13 de junho de 1901, pelo vigário Mário Deluy, também responsável por sua construção.
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