20 de setembro de 2005

CRIME É AÇÃO; DENÚNCIA, A IMOBILIDADE



Tudo ficou claro agora. Os municípios são dominados pelas quadrilhas que se adonaram dos serviços públicos essenciais. Elas venceram licitações acertadas e pagam em espécie uma grossa percentagem para quem ocupa os cargos públicos mais importantes ou está numa função estratégica por onde cruza a dinheirama do esquema. Elas agem impunemente, matando quem tenta denunciá-las e pouco se importando com as conseqüências. Ação: o prefeito de Santo André é torturado e morto e o inquérito é feito de maneira apressada porque era ano de eleição (2002). Imobilidade: o irmão do prefeito abre o bico, mas é voto vencido. Fica calado três anos, quando então tudo volta à tona. É uma tragédia shakespeareana. O prefeito olha-se no espelho e morre. O irmão olha-se no espelho e está sendo ameaçado. Hamlet: o prefeito participava do esquema, mas acreditava numa saída. Os parceiros do crime, não.

LIMITE - Tudo está dito. Depois dos textos de Chico de Oliveira (Tem limite?) e de Maria Sylvia de Carvalho Franco (A implosão da República) no primeiro caderno da Folha de domingo, em que fica claro o papel deste governo na entrega do país ao mercado (a pirataria internacional), o que nos resta? Resta a destruição, pelo fogo e pela marreta, por parte da população enfurecida, de todos os prédios e instrumentos públicos de Goianésia, no sudeste do Pará . Resta o riso sarcástico dos âncoras diante do roubo de mais de dois milhões de reais dos cofres da polícia. Resta a imobilidade das denúncias, já que os crimes continuam avançando, as quadrilhas se reaprumando, e todos se ajustam para as eleições de 2006. Por enquanto só existe uma pessoa punida, exatamente a fonte que expôs toda a bandalheira oficial, a pessoa que pôs a boca no trombone. Imobilizaram Roberto Jefferson na sua denúncia e sua cueca já está virada do avesso, aviso dos criminosos de que se trata de um traidor (foi o que fizeram com o prefeito de Santo André). Gravíssimo é a família do prefeito ir ao Jô Soares (que melhorou com a crise, assim como o Casseta & Planeta) e dizer com todas as letras que o governo (Dirceu, Greenhalg e o chefe de gabinete do Planalto) fez tudo para boicotar as investigações. Seis testemunhas foram assassinadas. O irmão do prefeito teme morrer. Tem limite? Jefferson diz que a Globo deve para o INSS mais de dois bilhões de reais, ou seja, tira dos funcionários e não repassa. Diz ter o número dos processos parados na policia do Rio. Quem investiga?

JORNALISMO - Existe jornalismo na internet? pergunta o Comunique-se. Claro que não. A Internet é muda e imóvel. Serve de repasto para a mídia impressa. Faz parte da periferia da vida nacional. É algo novo e emergente demais. Não repercute como deve, a não ser como territórios de vilanias, como não cansa de repetir a televisão. O que fazemos nos blogs não é jornalismo, é puro desespero. Exaustos da falta total de espaço decente na mídia impressa, nos refugiamos em espaços virtuais e desta trincheira atiramos. Para quê? Para nada. Serve apenas como ponte entre os contemporâneos na mesma situação, reduzidos que estamos à grossa marginalização. Isso não acontece apenas na internet. Os veículos sem capital simbólico (não considerados pela grande imprensa) servem de alavanca para os grandes grupos de comunicação, que os copiam e jamais citam as fontes. Adianta denunciar esses crimes? Claro que não. Mas resistimos e continuamos. Em blogs, em revistas fora do circuito central, em jornais perdidos nos grotões, em veículos obscuros, com nossa biografia sem sentido, nossa grandeza perdida, nossa palavra contaminada pelo silêncio ao redor.

ECO - Tem alguém aí? Tem, mas o que importa? Crime é verbo, denúncia é advérbio. O único substantivo somos nós, criaturas não catalogadas pela indiferença oficial.

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