28 de março de 2018

PARA VIAGEM


Nei Duclós

Você emociona pelo que seleciono de ti? Esse rio amigável onde passamos a tarde como paisagem pintada por um pintor de Paris?

O que fazer quando tuas águas invisíveis apontam o abismo? O leito que guarda criaturas carnívoras? As margens desmatadas pelo sofrimento? As ilhas que não me acolhem? Terei de abandonar o que nos une e abraçar o medo que nos distancia?

Sentirei remorso por ter sido alheio ao que tinhas oculto aos meus olhos? Será o conjunto um defeito e a seleção a virtude?

Somos inviáveis como civilização. Não cabemos no mesmo espaço. Eu também escondo o pior pedaço. Não quero que ele encontre teu mar de sargaços.

Talvez a solução seja a arte que leve toda a nossa natureza para viagem.


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