Nei Duclós
O talento é invisível e perde a vaga
recolhe-se ao canto, som inaudível
mesmo fora continua produzindo
ao seu lado anjos limpam a garganta
Ignorado torna-se irreconhecível
mesmo para o autor, perfil partido
nas portas suntuosas agora mendigo
pedaço de pão no balcão do samba
Alguém passa ali e pronto pontifica
você erra por estar sempre triste
diz a infinita e falsa sabedoria
Aprume-se e faça o mundo contente
Quando todos se vão no final da festa
e palitam os dentes com o que resta
o criador se move em direção ao porto
onde os navios antigos jamais dormem
Pássaros noturnos lhe fazem companhia
aguardam o sol e sua ladainha
autora boreal do estremecimento
despertar da luz depois da desistência
O poeta espelha-se no piso indiferente
onde pousam encomendas para longe
é levado ao convés de bandeira tortuosa
falará nova língua em mar e continentes
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Caspar David Friedrich.
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