Nei
Duclós
Parem
as máquinas! era o grito para suspender a impressão do jornal por força de um
furo, uma notícia importante de última hora. Com a revolução digital, que
dispensa intermediários da notícia e transforma cada pessoa numa fonte e numa
mídia, o jornalismo acaba cumprindo a ordem, mesmo à revelia. O poder da imprensa, com isenção e
credibilidade, entra em parafuso com o avanço da tirania mascarada de
democracia, como a que temos no Brasil.
A
censura se transformou. Em vez de submeter o trabalho jornalístico para um
censor, como acontecia nos anos de chumbo (hoje, com 60 mil assassinatos ano,
são os anos de chumbo grosso), mata-se repórter investigativo, compra-se
colunistas e blogueiros, e mexe perversamente na ess~encia do ofício, que em
vez de jornalismo se transformou em comunicação, o que inclui publicidade e
assessorias. Quem não comunica e tenta fazer jornalismo, se trumbica. Não
deixam.
Para
isso contam com os sabichões sem redação, os que pontificam sobre o trabalho da
imprensa sem nunca ter que enfrentar um fechamento. Instala-se a cultura do
Boletim de Ocorrência e da submissão as fontes oficiais. N~çao se reporta mais,
apenas se transcreve, infinitamente em milhares de sites, a mesma frase tosca
travestida de hard news. É sobre esse rolo que tenho falado no Twitter, onde produzo
uma grande quantidade de frases que são reproduzidas indefinadamente.
Meu
amigo no TT, Ricardo Nester @NesterTweets , teve a manha de reunir tudo o que
escrevi sobre o assunto. Ponho aqui no blog a coleção que ele reuniu das frases
de minha autoria sobre jornalismo hoje no Brasil. Veterano de 40 anos de
profissão, tendo trabalhado em Folha, IstoÉ, Senhor etc., posso falar do que
sei. E acompanho a mudança, pois sou blogueiro pioneiro, desde 2002. Os tuits
são de autoria de @neiduclos. A imagem é foto de German Lorca.
E para não dizer que só critico, tenho um PDF com
uma série de artigos com o título O JORNALISMO QUE APRENDI A FAZER. Quem quiser
adquirir um exemplar, é só escrever para neiduclos@gmail.com Alguns
desses artigos estão neste link http://www.consciencia.org/neiduclos/categoria/edicao
JORNALISMO
EM TEMPOS DE TIRANIA
Nei
Duclós
Conteúdo
é o acordo entre publicidade e jornalismo.
Suspeito
é o suposto culpado."Suposto suspeito" (Folha) é o suposto suposto.
Esse "jornalismo" vai chegar ao suposto suposto suposto?
Se
fossem proibidas as expressões "Pois é" e "Isso mesmo", o
jornalismo e a publicidade do Brasil seriam reeduzidos à metade do seu volume
Link em São Joaquim para dizer que está frio
ou no shopping para perguntar se vale a pena é o máximo de jornalismo que a
ditadura suporta
O jornalismo analógico tenta fazer suspense
em plena era digital. Aguardem! Quem foi o zagueiro da Copa que não cometeu
falta? Puxa, quem?
Tanto
a política quanto o jornalismo precisam do espírito público, que não existe
mais. Triunfou a mesquinharia
A
TV é tão tosca que para comentar futebol convoca ex-jogadores, para arbitragem, ex-árbitro. A especialidade é
jornalismo, não futebol
Especialista
em futebol é o Dunga, não o jornalista. Este, precisa dominar seu próprio
ofício, o jornalismo. Saber escutar, saber escrever
O
jornalismo virou um prontuário de delegacia. Reproduzem B.O.s e não fazem
reportagem.
Polícia
retira suposta bomba do aeroporto. Suposto filho de goleiro é entregue a avô.
Suposto jornal supõe que faz jornalismo
Por
que não fazem uma matéria completa, com lead, sub-lead, miolo e pé, como
acontece no jornalismo normal de todos os países? "Inovamos"?
O
jornalismo atual no Brasil é apenas uma suposição.O fato é que abdicamos dele
para agradar políticos e anunciantes e escapar dos matadores
Quem
cobre futebol tem de entender de jornalismo, não de futebol. Basta consultar as
fontes e reportar decentemente. Essa é a especialidade
Jornalismo
agora só comunica, não investiga, não pergunta, não levanta questões. Por isso
só comunica o que não interessa. Se trumbicaram
No
Estadão: "Pato, que chegou aos Estados Unidos poucas horas antes do
TREINO, TREINOU separadamente". O jornalismo não entra em campo
Se
o editor te diz que texto de jornal e revista é a mesma coisa, só que o de
revista tem cereja em cima, então o jornalismo está perdido
Não
tenho mais estômago para as notícias. Nem para truques de linguagem nos
artigos. Nem para jornalismo mal escrito. Atingi a cota
O
princípio do jornalismo assassinado era muito simples e direto: você não
sobreviveria numa redação de qualidade se não soubesse escrever
A
mediocridade fareja e expulsa o talento das redações, depois os jornais querem sair
da crise. Não vão. É só tirar as patas do jornalismo
Jornalismo
é soma de linguagens, trabalhadas por autores, que abordam percepções pessoais
e coletivas. Todo fato vira versão na mídia
Jornalismo
não é caça às novidades, exposição de curiosidades ou atenção obsessiva em
lugares comuns da política, cultura e economia
Folha
: "A administração do Iguatemi informou que está colaborando com as
autoridades para esclarecer o caso."Que informação! Bye, jornalismo
“A boa notícia é” – outra coisa irritante. Como se o jornalismo fosse
culpado das merdas que ocorrem e precisasse dourar a pílula
Copiar
relatório do Corpo de Bombeiros, sem verificar o local do acidente nem
entrevistar acusados,sobreviventes e vítimas: adeus,jornalismo
Bom
Dia, Brasil, o esplendor do jornalismo de sofá
O
jornalismo de sofá da televisão brasileira serve de trono para figuras
carimbadas e fontes suspeitas. Que se lixe o público
"Rumores
dizem" é bom. O jornalismo pátrio se supera. Imaginem um grupo de Rumores
dando entrevista
O
jornalista é um especialista em jornalismo, não um especialista em
generalidades. Sua ciência é o ofício que abraçou
O
jornalismo é uma atividade em desuso, que foi substituída pelo formigar
incessante dos eventos supérfluos e pela mediocridade triunfante
Criança
morre soterrada e o jornal diz: "Familiares contaram que os pais da
criança estavam muito abalados." Impressionante, o jornalismo
Jornalismo
é produzir (e não reproduzir) uma leitura dos fatos. E os fatos são versões das
fontes
Escrivão de polícia não é repórter. Versão
policial não é reportagem. Reprodução de BO não é jornalismo
Em
anos de jornalismo, nunca usei ou vi usar por conta. Dava cascudo. De
repente visitamos os jornais e tem um por conta por parágrafo
Será q ñ existe editor que encarregue repórter de telefonar e
fazer perguntas básicas?
"A polícia informou, o general
confirmou, fontes médicas assinalaram, o subsecretário defendeu" que o
jornalismo acabou http://bit.ly/hFHKL
"Puxa, o que é a natureza" é
a expressão embutida na perplexidade do jornalismo diante das mudanças. Só que
nada mudou. Façam reportagens
Quanto mais você mente nos espaços nobres
do jornalismo econômico, mais credibilidade acumula e mais prêmios leva para a estante
"Segundo" várias vezes é pouco.
Os jornalistas usam "ainda segundo", já que insistem no BO. É o
jornalismo terceirizado
Mil vezes a notícia do desabamento e das
possíveis vítimas.Nada sobre a Real Engenharia,responsável pela obra.Eta
jornalismo rastaquera
Jornalismo não é reproduzir BOs. Não é
detectar sinalizações.Não é celebrar alavancagens.Não é dar conta de que. É
informar, lembram?
Fofoca é fofoca, não jornalismo. Jornalismo
é o que não deixam fazer para divulgar o fuc fuc das celebridades
O conteudismo é uma praga recente que
substituiu o jornalismo. Gera receita para os luminares do engessamento do
texto
"Segundo a Polícia/ o homem estava
embriagado/ o acidente ocorreu". Tantas décadas de jornalismo para cairmos
nesse ramerrão. É um crime
"Dias desses" e "ninguém
menos" usados por grifes do jornalismo. Degringolamos
O jornalismo mudou estruturalmente. Em vez
de reportagens, colunas. Em vez da verdade, dossiês. Em vez do talento, uma
súcia de nulidades
Jornalistas deveriam lutar contra censura
exercida por donos dos jornais e seus asseclas.Jornalismo é de interesse
público,garantido por lei
Sabe o jornalismo? Morreu. Os caga-regras,
os ditadorzinhos, os interesses corporativos e políticos mataram. Mas...
http://bit.ly/hBbY
A reportagem é uma espécie de crime hediondo
no Jornalismo Beócio, que exige a idiotia aparelhada para poder funcionar
O
jornalismo beócio exige submissão total para fazer tabula rasa do noticiario e
assim permitir que idiotas colunistas ganhem destaque
Nenhum
total de mortos deve prescindir do acompanhamento de ao menos ou pelo menos,
p/sugerir rigor dos dados (Máximas do jornalismo beócio)
Não
se diz o principal no primeiro parágrafo. Segue-se a estrutura do BO, narrativa
de escrivão de delegacia (Máximas do Jornalismo Beócio)
Uma
fonte basta, desde que seja citada em todas as frases. Por isso se usa segundo,
de acordo, no entender (Máximas do Jornalismo Beócio
Só
existe fato se houver Boletim de Ocorrência. Sem BO o fato é suposto (Màximas
do Jornalismo Beócio)
Quer
saber como foi a chuva? Não saberás. Terás alguns números empilhados e frases
soltas de fontes oficiais. O jornalismo não cuida disso
Jornalismo
é procurar saber quem treinou o matador de Realengo e não achar que foi um ato
isolado e que qualquer um aprende a atirar
Jornalismo
é não achar "normal" e procurar saber quem jogou o casal do mesmo
andar pelo espaço de dois meses. Uma herança está em jogo.
O
jornalismo feliz vive no mundo imaginário do Planeta, lugar onde os povos da
floresta tem orelha e rabo de macaco, como no filme Avatar
Elite
é uma palavra que enche a boca do jornalismo feliz. Cara, como eles gostam de
elite
Jornalismo
é uma atividade proibida por lei
"De
acordo" não basta. É preciso usar "ainda de acordo". É o jornalismo,
que não acorda. Ou ainda não acorda
O
ex-beatle acena para seus ex-fãs. Tudo é reportado pelo ex-jornalismo
Incrível
como o jornalismo brasileiro vive à revelia dos fatos. É pura soberba: acha que
as coisas só acontecem depois que viram pauta
Matéria
sobre vantagens do uso de pacotes de celular é publicidade, não jornalismo.
"Dá para fazer uma boa economia" diz a "entrevistada"
"A
policia se dirigiu ao local, a operação teve início e a Promotoria não
informou" dão o tom das notícias policiais. Adeus, jornalismo
Jornalismo
é peça de marketing. Pauta é evento de anunciante. Opiniões são as relacionadas
com o caixa. Reportagem é ilustração de anúncio
Meus
textos sobre jornalismo são decanos. Alguns são adotados em cursos, sem me
pedir licença. Outros são apropriados. Vale tudo
O
maior vício do jornalismo atual é completar as frases das fontes ou implantar
pergunta que já contém a resposta. É a velha pose do saber
A
indústria financeira, do espetáculo e do marketing devem se recolher a seus
espaços e permitir que o jornalismo se manifeste.Senão,é o fim
Credibilidade
é a separação entre jornalismo e publicidade
Notícia
é jornalismo. Boa notícia é propaganda
Os
fatos já são horríveis. Com esse jornalismo, ficam insuportáveis
Segundo
o porta-voz, não havia informação e ninguém estava lá. É o jornalismo pela
ausência, muito em voga
Acho
que não se usa mais, mas a pior expressão do jornalismo de negócios é
"abiscoitar uma fatia de mercado"
O
time do São Paulo "mira ponta", diz a Folha. O jornalismo é uma
miragem
Jornalismo
é um release corporativo emitido pela assessoria de imprensa do crime
organizado
Não
há informações, diz o jornal. O jornalismo agora serve para noticiar que não há
notícia
Jornalismo
é o que vai acontecer na novela
Em
certo momento do jornalismo, final dos anos , decidiu-se que o negócio eram os
Serviços. Até hoje estamos nessa. Dicas sobre tudo. Saco
"Condutor
do veiculo, ocorreu o acidente": o escrivão de BOs domina os textos das
hard news, um nicho do jornalismo atirado ao deus dará
.
Para
o Globo, jornalismo é a Sandra Annenberg com voz e cara de boi compungido
lamentando o acidente. Isso deixa para as vitimas. Informe!
.
Repórter não sai mais para rua levantar os
dados de uma reportagem? Fica fazendo plantão em delegacia? Jornalismo está
fora da lei?
O
jornalismo brasileiro tem certeza que tudo passa, por isso para que se
preocupar? Melhor ficar reportando celebridade na praia.
Nunca
foi usado o verbo mirar no jornalismo como hoje. Toda hora alguém mira. Saco.
O
comunicólogo é o cagador de teses sobre o que ajudou a matar, o jornalismo.
O
pior foram as cordilheiras de teses sobre o surto comunicativo. Tudo para
justificar o assassinato do jornalismo.
O
jornalismo foi substituído pela comunicação no final dos anos , quando virou
moda falar em sociedade de consumo.Cidadão virou consumidor
"Jornalismo
é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é
publicidade." (George Orwell). Eis a fonte.
O
jornalismo está em prisão condicional. Estaria, melhor dizendo.
Podemos
sintetizar assim: se houvesse jornalismo e isto fosse um jornal, você estaria
lendo uma suposta notícia,
Só
no jornalismo brasileiro os leitores são convidados a "conferir" tudo
que é merda. Nenhum jornal estrangeiro diz confira. Que mania.
É
insuportável o jornalismo que se repete ao infinito achando que é assim que
funciona. Não é assim. Pauta dá trabalho.
Jornalismo
é pauta. O resto é redundância. Pauta é seleção, idéia original, abordagem
específica, criação. O resto vai a reboque.
O
jornalismo engessado de hoje é fruto do jornalismo formatado nos chamados anos
de chumbo. O comércio dos dossiês é a disputa pelo butim.
Jornalismo
opinativo é quando a sua opinião coincide com a do dono do jornal.
Repórter
não é estrela e jornalismo não é espetáculo. A reportagem deve chegar limpa,
clara, sem obstáculos à percepção do público.
Os
jornais estão fechando por falta de jornalismo, mas nunca houve tanta
comunicação.
Comunicação
é a orquidea que medrou na árvore generosa do jornalismo e devorou-lhe o caule,
raiz,folhas e frutos.
Comunicação
é a Voz do Dono. Jornalismo é quando o repórter rifa seu emprego.
Comunicação
adora se fantasiar de Jornalismo. É seu personagem favorito. O problema é que o
rabo aparece.
Jornalismo
investigativo é a reportagem escrita pelos escrivães
Jornalismo
opinativo é quando a sua opinião coincide com a do dono do jornal.
G:
"Cariocas vão à praia em fim de semana quente no Rio ". É o
jornalismo brasileiro em ação.
Essas
matérias diárias, recorrentes, iguais na TV, rádio e jornal, sobre o gramado do
Maracanã dá a entender que o jornalismo pasta.
.
"Fumaça
preta indica que não há novo Papa", informa manchete da Folha. Indica
também a que foi reduzido o jornalismo.
Na
primeira página da Folha, três manchetes com isto: Após bombeiros, após ação,
após três anos. É o apóscalipse do jornalismo.
"Rodovias
têm manhã de trânsito intenso na saída de São Paulo". Já o jornalismo
parou faz tempo.
Folha:
"Paulistanos vão à praia durante o feriado". E o jornalismo, aproveitando
o furo de reportagem, continua dormindo.
"Volta
do feriado tem congestionamento e lentidão nas estradas". Acontece o mesmo
com o jornalismo.
"Ciclista
colide com poste". Ninguém "colide" num texto decente. Só em
jornalismo tosco.
Para
fazer jornalismo deveria ser obrigatória a alfabetização.
Boliviano
não corre "risco de morte", diz a Folha. Jornalismo de morte esse.
Corre risco de vida e não admite.
Porchat
se separa, Bell Marques deixará Chiclete com Banana, Ivete Sangalo dá uma de Beyoncé,
Bon Jovi adia show: o jornalismo fundamental
Jornalismo
é reportar o peido da celebridade.
Nos
jornalismo, policial não prende, efetua prisão; carros não batem, viaturas
colidem; criminosos confessos são tratados como suspeitos etc
O
jornalismo foi extinto pela tirania, que teme ser desmascarada. Ficaram os
sofás ocupados por pernas cruzadas e carinhas interessantes.
.
O
jornalismo existe para reportar a publicidade.
Após
sindicância, após silêncio, após ser traída, após acidente, após pressão: tudo
nas manchetes de capa da Folha. É o após jornalismo.
No
Estadão o após-jornalismo está pior: após tiroteio, após protesto, após Cook,
após mudança e após Itália. Tudo chamada de primeira página
Após
reunião, após pai, após cirurgia, após tragédia, após cair, após CEO: chamadas
de capa do G, também bamba em após jornalismo.
Na
Folha tem mais: após eleição, após casamento, após quase. É o esplendor do
após-jornalismo.
Após
cair, após chuva, após orquídea: chamadas de primeira página da Folha. É o
após-jornalismo.
Ex-BBB
só de lingerie "filosofa", diz jornal. É o que acontece quando o
jornalismo para de pensar.
Jornalismo
é o que a publicidade decide o que é notícia.
O
jornalismo no Brasil é uma profissão extinta que demitiu seus arqueólogos. Não
tem perigo de saber do que se trata.
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