Nei Duclós
O que fazer do tempo
que perdemos na sobrevivência
ou que sobra quando estamos sóbrios
nas inúteis estações do calendário?
O que fazer da arte
que tenta resgatar a transcendência
se é que ela existe, deusa confusa
a sobrevoar as ruínas dos esporos?
O que fazer da memória
nobre a experimentar a lama do supérfluo?
Pedir socorro ao acaso, ideia de uma ciência
ou abandonar-se, aceitando o inviolável?
O que fazer da alma
e sua performance de luz que inflama
na cabeceira de trevas onde adormecemos
e que espera anoitecer junto com as plantas?
O que fazer do corpo
testemunha muda a retorcer-se
pelos espaços disponíveis do Mesmo
jugo e esplendor a fantasiar o eterno?
O que fazer do sentimento
esse líquen espalhado pelo ermo
a denunciar o espírito que domina
as perguntas sem sentido que fazemos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário