18 de julho de 2015

SIMONE E MARILYN: DUAS PERSONAS DE GÊNIO



Nei Duclós

Dois documentários dirigidos por Liz Garbus traçam o perfil de duas artistas de gênio: What Happened, Miss Simone? (2015),  e Love, Marilyn (2012). Ambas com codinome: Nina Simone (o segundo nome tirado da atriz Sinome Signoret) é a menina sonhadora que queria ser a primeira pianista clássica negra dos EUA e virou superstar do blues e do soul com músicas decisivas dos direitos civis nos anos 1960. Marilyn Monroe (nascida Norma Jean e que escolheu seu novo nome em comum acordo com um produtor de Hollywood) é a órfã que deu duro para se tornar uma atriz e explodiu não apenas como estrela maior mas como símbolo de um tempo de mudanças profundas. 

Elas aparecem inteiras a partir de seus diários íntimos, em que dividem confissões, poemas, relatos, denunciando em seus redutos indevassáveis o jogo bruto a que foram submetidas pela indústria do espetáculo e pelo machismo hegemônico, sem falsas inocências mas inteiras como pessoas de gênio em luta por uma lugar à altura do próprio talento. E de como foram entregues à sanha devoradora das massas, o público que procuraram conquistar, e que as envolveram em espirais de fuga e loucura.  Ambas enfrentaram poderes do dinheiro e impuseram suas vontades, mas pagaram caro por isso.

Nina Simone viu que os líderes da luta pela libertação dos negros americanos tinham sido assassinados. Viu como suas músicas insurgentes tornaram-se difíceis de ser digeridas pelos rankings comerciais e pelos organizadores de shows. Sofreu horrores na mão do seu marido e empresário, um ex-sargentão a polícia que batia nela. Exilou-se na Africa, obedecendo o racismo que queria a pele escura fora da América e lá ficou por sete anos gastando sua fortuna. Acabou pobre em Paris onde morava numapocilga. Foi resgatada já avançada nos anos por amigos que impuseram uma rotina de antidepressivos e de shows. Mas a sorte estava lançada e ela jamais recuperou seu lugar de destaque.



De Marilyn todos sabem, ou acham que sabem O bom deste documentário sobre ela é que não tem os chatos dos Kennedys priápicos e poderosos e as falas de Marilyn (e de seus biógrafos) são interpretadas por grandes atores e atrizes como Adrien Brody, Ellen Burstyn, Glenn Close, Viola Davis. É sutil, é delicado, é respeitoso. Coloca Marilyn no seu ligar de gênio do cinema, que criou uma persona imortal a partir de seus exercícios, estudos e leituras. Explica como ela formatou seu andar inesquecível, que matou de inveja atrizes como Lauren Bacall e seduziu toda a população masculina do planeta.

Conta como Marilyn tentou ascender ao grand monde dos intelectuais via casamento com o cretino do Arthur Miller, e dos interpretes de primeira linha, como o bandido do Lawrence Olivier, que tentou humilhá-la depois que notou ter sido devorado em cena pelo gênio loiro. Seu esforço no Actor´s Studio, onde foi esnobada, mas não pelo casal dirigente da grande escola de atores, os Strasberg, que a adotou. Ninguém suporta o carisma de uma personalidade que se impõe pelo talento que transborda, pela coragem que falta à maioria das pessoas, ao destino manifesto de carreiras brilhantes, à predestinação de ocupar um lugar permanente no pódio dos artistas mais representativos de sua época.



Liz Garbus, jovem, bela e brilhante diretora de cinema, arrasa com essas duas obras  absolutamente obrigatórias. Vi no Netflix.


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