12 de julho de 2015

MIGALHAS



 Nei Duclós


Somos pequenos diante das palavras. Elas sofrem de grandeza com suas vocações sagradas. Nós preferimos as tardes chovendo migalhas.

Domingo de manhã é quando aporta teu sorriso.

Seremos esquecidos, como somos agora. Nosso destino é preencher a paisagem indiferente do tempo, com folhas secas vistas da carruagem

Não faz sentido passarmos pelo tempo como promessas. Encarnamos o sonho, explosão de comportas.

A poesia vem de longe, do nosso entorno, lugar mais distante do que qualquer momento. Toca nossa vontade, como a fantasia que faço contigo na praia.

Não há contradição entre arte e força, entre sombra e deserto. Há apenas rodízio, como o beijo que me dás enquanto o vento nos varre.

Trazes a palavra pela mão como um filho. Sorris para mim, mulher que a vida escolhe. Fazes poesia como quem trabalha, as curvas denunciam tua intensidade.

És a soma de todas as musas, as antigas, as modernas, as que ainda não existem nem existirão. O poema é teu mendigo, solidão do infinito.

Jamais tocarei teu sopro, a anima da tua fonte. Ando pelas margens, onde esvoaças sem mim.

Entornei o tempo sem acompanhamento. Fez-me mal, mas não havia outro jeito.

A extrema beleza finge indiferença. Para compensar o alvoroço que provoca entre os bêbados.

O sorriso foi dormir e te expões desperta. Teu sonho preso no sótão, o olhar em êxtase.

O amor foi reduzido até o tamanho de uma semente. Talvez no barro e na lágrima germine novamente.

Inverno é perder tempo aguardando o clima bom. Mas talvez esta seja a última estação.

É compreensível que não tenhas paciência para o assédio sem imaginação. Queres pisar em nuvens ainda em formação

Poema com perfil de assombro cria vínculos da nossa sombra com vidas passadas. Quando partimos podemos descer nessas paradas

Diga o indizível e torne-se inacessível. Volte anônimo para ver o estrago

Gênio precisa tomar cuidado. É capaz de tocar na túnica de Deus no momento errado.

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