Nei Duclós
Somos pequenos diante das palavras. Elas sofrem de grandeza
com suas vocações sagradas. Nós preferimos as tardes chovendo migalhas.
Domingo de manhã é quando aporta teu sorriso.
Seremos esquecidos, como somos agora. Nosso destino é
preencher a paisagem indiferente do tempo, com folhas secas vistas da carruagem
Não faz sentido passarmos pelo tempo como promessas.
Encarnamos o sonho, explosão de comportas.
A poesia vem de longe, do nosso entorno, lugar mais distante
do que qualquer momento. Toca nossa vontade, como a fantasia que faço contigo
na praia.
Não há contradição entre arte e força, entre sombra e
deserto. Há apenas rodízio, como o beijo que me dás enquanto o vento nos varre.
Trazes a palavra pela mão como um filho. Sorris para mim,
mulher que a vida escolhe. Fazes poesia como quem trabalha, as curvas denunciam
tua intensidade.
És a soma de todas as musas, as antigas, as modernas, as que
ainda não existem nem existirão. O poema é teu mendigo, solidão do infinito.
Jamais tocarei teu sopro, a anima da tua fonte. Ando pelas
margens, onde esvoaças sem mim.
Entornei o tempo sem acompanhamento. Fez-me mal, mas não
havia outro jeito.
A extrema beleza finge indiferença. Para compensar o alvoroço
que provoca entre os bêbados.
O sorriso foi dormir e te expões desperta. Teu sonho preso
no sótão, o olhar em êxtase.
O amor foi reduzido até o tamanho de uma semente. Talvez no
barro e na lágrima germine novamente.
Inverno é perder tempo aguardando o clima bom. Mas talvez
esta seja a última estação.
Poema com perfil de assombro cria vínculos da nossa sombra
com vidas passadas. Quando partimos podemos descer nessas paradas
Diga o indizível e torne-se inacessível. Volte anônimo para
ver o estrago
Gênio precisa tomar cuidado. É capaz de tocar na túnica de
Deus no momento errado.
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