Nei Duclós
Provei uma estrela.
Sabor de luz, maciez de açucena.
Distante como flor que no toque
entra em pânico. Por isso deixei-a,
solidão na varanda.
Mar de lento mergulho
me ensinas a doçura
Aprendo o acervo do que digo
para teus olhos profundos
Coral de me queiras
Giramos em nossa órbita
durante anos. Peguei, largamos
mas o visgo não derrete
no tempo insano. Descoberta
tardia que te amo
Jurei que não mais te escreveria.
Porque apenas brigamos.
Mas bastam algumas horas
para jogarmos o coração fora
e ver quem pega primeiro.
Pensei que falavas comigo
mas era com o vento.
Tens essa mania de fugir
a tempo. Evitas o momento
em que não terá mais volta
Não esperneie. Cupido te fisgou
para sempre. Agora tente
se conformar com o batente:
tardes de amor ardente
noites de bruto assombro
Quando não houver mais jeito,
amanheça. Estarei presente
com o peixe que fisguei na lua
o pão que amassei contente
Seja o que o amor consente
Pensavas que estavas livre
da armadilha que inventei
Teço puçá de poemas
armo voz de bruxo duende
Querias, agora tens
Quando estiveres no ponto
vou fazer longa viagem
para que sintas saudade
pague pelo que passei
à tua espera, doce fera
Não é maldade ou vingança
é o sonho que faz a dança
poesia sem critério
palavra a sair do sério
É pura trova de amor
Mas sei do perigo certo
que me preparas na rede
me amarras ao sol e à sede
me pegas pela palavra
provo do minha farsa