Nei Duclós
Arisca, espia. Pousa quando não
vejo. Voa além da vista. Pia quando me sente distraído. Bandida.
A distância não cura, adia.
O coração bate sempre quando te
vejo. Pulsa a esmo. Fica sem rumo. Depois me esqueço. Preciso cultivar a
sobrevivência.
Deves estar alimentando passarinhos.
Evitando me encontrar, amor perdido.
Não me contrarie. Pelo menos hoje,
dia de São Nunca.
Basta encostar para saber. O toque
revela os arquivos zipados do coração.
Você está tão bonita! Pena que ainda
não veio.
Poesia é como visita de domingo:
todos se reúnem para se ver fora da semana.
Quando segurei tua mão o mundo caiu
sobre nós como os meteoros que ferem de paixão a terra.
Desconhecido, te tirei para dançar.
Foi só uma volta no salão. Em forma de anzol.
Não entendo o que vês em mim, disse
ele. Costumo não olhar disse ela.
O amor substitui todos os planos.
Troca-se o futuro pelo sentimento insano.
Muito viva, você não cai mais na
mesma armadilha. Só em outra, pior ainda.
Pássaro que canta insistente na
gaiola está pedindo socorro. Ermo da liberdade, o voo.
A liberdade gera as melhores
lembranças.
Fecharam a porta da rua. Entrei pelo
espelho.