Nei Duclós
Senador flagrado negociando voto no Congresso com bandido
era mestre em se indignar diante das mazelas dos adversários. Sua indignação
era uma impostura. A praga do politicamente correto acaba mascarando os
verdadeiros criminosos. Proíbem o uso de sacolinha plástica mas permitem que
soltem assassinos por bom comportamento. Corrigem dicionários encontrando
crimes em palavras. Ao mesmo tempo, tiram os crucifixos do Judiciário mas
jamais conseguem desmantelar as máfias das loterias oficiais. “O homem que diz
sou, não é”, já escreveu Vinicius de Moraes (plural de Moral, segundo Tom
Jobim).
Impostores são bem remunerados por seus artigos. Arnaldo
Jabor, ex-diretor de pornochanchadas, desanca Asas do Desejo, obra-prima
poética de Wim Wenders. Ganha bem para se indignar e servir de prato feito para
consciências sedentas. Frei Betto garante que aprendeu com Disney que os vilões
nunca são brancos, só pretos ou amarelos, o que é mentira, pois os irmãos
Metralha e João Bafo de Onça são brancos. Há o Mancha Negra, mas é um vilão
ligado com histórias de assombração e não tem conotação racista. É que pega bem
insurgir-se ao portador, ou seja, para encantar a platéia.
No livro “A verdadeira história do Clube de Bilderberg”, o
autor Daniel Estulin conta que a praga do politicamente correto é plantada por
um núcleo duro do poder mundial, que precisa manipular a opinião pública em
favor da tirania que impõe ao mundo. A mais explicita ditadura é a da especulação
financeira, que trabalha desregulamentada e suga a economia real das nações,
como vemos nas crises econômicas cíclicas, principalmente desde 1998. O grande
crack da bolsa de Nova York em 1929 foi desencadeada por alguns banqueiros que
queriam o monopólio. Conseguiram: fecharam 16 mil bancos menores em todo mundo.
Teoria da conspiração? É como batizam as evidências. Uma
série de campanhas publicitárias colocam dois craques namorando sorridentes.
Não suporto mais a postura metrossexual dos emasculados jogadores. Foi-se o
tempo de Vavá, Didi, Pelé, heróis de uma atitude perdida. Hoje vemos craquinhos
fazendo gol de pênalti sendo celebrados como gênios. Há mais brincos do que
bolas de futebol. São os modelos para multidões, que perdem assim os paradigmas
clássicos do comportamento em favor de um gigantesco Maria-vai-com-as-outras.
Clona-se a personalidade falsa para que ninguém se insurja.
Mas há resistência.O movimento anti-Wall Street é o cadinho
de uma nova liderança mundial emergente. Talvez o asco provocado pela censura
em nosso meio nos leve a repensar nossas reações de indiferença ou passividade.
É hora de bater na mesa, assumir posições, desmascarar. Não se pode achar que
vamos enfrentar nova campanha política em volta do tucano-petismo, das bolinhas
de papel, dos direita-esquerda. A ditadura que nos governa sob a máscara da
democracia precisa levar um calor da opinião pública. Precisamos bater firme.
Ou corremos o risco de passar a vida inteira nas mãos dos mesmos de sempre, os
que se acostumaram a mandar e a fazer o que bem entendem. Chega, não?
RETORNO - 1. Crônica
publicada no Jornal Momento de Uruguaiana. 2. Imagem desta edição: foto de Alain
Melka/Jean-Louis Darmyn.