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21 de abril de 2012

IMPOSTURAS


 Nei Duclós

Senador flagrado negociando voto no Congresso com bandido era mestre em se indignar diante das mazelas dos adversários. Sua indignação era uma impostura. A praga do politicamente correto acaba mascarando os verdadeiros criminosos. Proíbem o uso de sacolinha plástica mas permitem que soltem assassinos por bom comportamento. Corrigem dicionários encontrando crimes em palavras. Ao mesmo tempo, tiram os crucifixos do Judiciário mas jamais conseguem desmantelar as máfias das loterias oficiais. “O homem que diz sou, não é”, já escreveu Vinicius de Moraes (plural de Moral, segundo Tom Jobim).

Impostores são bem remunerados por seus artigos. Arnaldo Jabor, ex-diretor de pornochanchadas, desanca Asas do Desejo, obra-prima poética de Wim Wenders. Ganha bem para se indignar e servir de prato feito para consciências sedentas. Frei Betto garante que aprendeu com Disney que os vilões nunca são brancos, só pretos ou amarelos, o que é mentira, pois os irmãos Metralha e João Bafo de Onça são brancos. Há o Mancha Negra, mas é um vilão ligado com histórias de assombração e não tem conotação racista. É que pega bem insurgir-se ao portador, ou seja, para encantar a platéia.

No livro “A verdadeira história do Clube de Bilderberg”, o autor Daniel Estulin conta que a praga do politicamente correto é plantada por um núcleo duro do poder mundial, que precisa manipular a opinião pública em favor da tirania que impõe ao mundo. A mais explicita ditadura é a da especulação financeira, que trabalha desregulamentada e suga a economia real das nações, como vemos nas crises econômicas cíclicas, principalmente desde 1998. O grande crack da bolsa de Nova York em 1929 foi desencadeada por alguns banqueiros que queriam o monopólio. Conseguiram: fecharam 16 mil bancos menores em todo mundo.

Teoria da conspiração? É como batizam as evidências. Uma série de campanhas publicitárias colocam dois craques namorando sorridentes. Não suporto mais a postura metrossexual dos emasculados jogadores. Foi-se o tempo de Vavá, Didi, Pelé, heróis de uma atitude perdida. Hoje vemos craquinhos fazendo gol de pênalti sendo celebrados como gênios. Há mais brincos do que bolas de futebol. São os modelos para multidões, que perdem assim os paradigmas clássicos do comportamento em favor de um gigantesco Maria-vai-com-as-outras. Clona-se a personalidade falsa para que ninguém se insurja.

Mas há resistência.O movimento anti-Wall Street é o cadinho de uma nova liderança mundial emergente. Talvez o asco provocado pela censura em nosso meio nos leve a repensar nossas reações de indiferença ou passividade. É hora de bater na mesa, assumir posições, desmascarar. Não se pode achar que vamos enfrentar nova campanha política em volta do tucano-petismo, das bolinhas de papel, dos direita-esquerda. A ditadura que nos governa sob a máscara da democracia precisa levar um calor da opinião pública. Precisamos bater firme. Ou corremos o risco de passar a vida inteira nas mãos dos mesmos de sempre, os que se acostumaram a mandar e a fazer o que bem entendem. Chega, não?


RETORNO -  1. Crônica publicada no Jornal Momento de Uruguaiana. 2. Imagem desta edição: foto de Alain Melka/Jean-Louis Darmyn.