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10 de abril de 2012
SURPRESA
Nei Duclós
Vou te fazer uma surpresa. Quando acordares, estarei ao lado.
Sou o que imaginam teus óculos escuros. Estou oculto, pele com pele. Longe, como um inútil. Próximo, como um amante.
Ombros. Não preciso de mais nada. Gloriosa.
Não falo por charadas. Digo na pétala.
Agora que me descobriste, o que faço com as mãos? Posso pousar em teu sorriso?
Quando digo linda, digo tudo: soma de brilhos, camadas de vidas, abraços que nos deixam lívidos.
Colho tua lágrima num cálice de espanto. Por que me tens assim, coração de ouro?
Vivo no deserto e só de ti aceito água.
Te traduzo porque aprendi contigo, quando meu sonho pediu colo e deste.
Toco fundo porque és minha superfície onde molho o rosto exausto.
Entro em teu sonho com o passo de pluma. não faço barulho. imagino um beijo, sussurro.
Durma abraçada ao verso que te dedico. Sou eu que respiro quando te falta ar.
Ficas muda porque o amor que não cala nos ronda.
Eu também não consigo. Fico me despedindo até clarear o dia.
Não consegues ir embora? É que, se fores, me tira pedaço.
És a pastora do meu rebanho de vontades.
Nossas mãos vão deslizando para o adeus mas querem outra coisa, a véspera do abraço bem dado.
Deitamos no campo de olho nas estrelas. Somos cadentes de tanto abandono. O que virá agora, ombros?
Virá aquele sentimento de querermos alguma coisa, indefinível. Um beijo demorado, que dure um século. Ou algo parecido.
O que fazer com esse beijo? Vamos deixar que nos surpreenda.
Beijar-te, experimentar teu sabor, deitar-se. Felicidade está na mão, como um flor.
Amar é tão simples. Leve-me contigo. Sou teu lençol de linho.
Adivinho o gosto da tua boca. Doce, como o mel do mato.
Agora te foste. Fiquei com um sorriso engatilhado. Vai durar muito.
EIXOS
Quem me curte, molho.
Deixas que eu fale sem dar corda ao meu deslumbramento. Me colocas nos eixos, portento.
Sensualíssima. Tua beleza é fruto desse afloramento em pele e boca, essa armadilha da natureza que cultivas com a indiferença das deusas.
Não preciso ficar aqui dizendo coisas. Daqui a pouco fujo para o espaço mítico do sonho, o vale de sol cercado pela intempérie montanhosa. Xangrilá, prisão de quem não se satisfez com os conflitos do amor e cai numa arapuca mais complicada..
É muita coisa, eu sei. É que estoco para o inverno.
Ela deixou acumular beijos numa encomenda para depois me entregar a pacoteira. E aí, sumiu de novo.
A tarde avança com seu troar de pássaros. És a distante a se aproximar do náufrago.
Ela me trata por aumentativos. Só porque é mignon, a gatíssima
Você se repete, ela me disse. É porque lembro de ti, falei.
O dia foi embora. Agora, ceda.
Passei por aqui e não te vi. Não importa. Como vai?
Você não consegue sumir de vez. Sempre belisca para eu não abandonar a pescaria. E assim passam as semanas, e os sóis em rodízio.
És a sessão de um noturno, pianíssima.
O tempo bate o bumbo nos tímpanos, mas só obedeço à regente dos meus sonhos.
Estava pensando: de onde vem teu talento? Esse, de me deixar sem fôlego?
EXCESSO
Ganhei um chapéu branco de aba larga do meu irmão. Tenho usado, para espanto das nuvens.
Precisamos do excesso em tudo o que fazemos, para compensar a ausência eterna antes e depois desta passagem.
O vampiro se interessa apenas pelo sangue que a emoção faz circular. A emoção mesmo e seus motivos, não importam.
A Lua encoberta pela nuvens aparece desfocada como se o olhar miope tentasse decifrá-la.
Desconfiou que ela tinha outro. Deu o flagrante com sua câmara digital e viu no visor: era ele o suspeito que aparecia nas fotos.
RETORNO – Imagem desta edição: Marylin Monroe.
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