8 de março de 2009

CRIMES EM NOME DA HISTÓRIA


Em luta aberta contra o raciocínio lógico, o dono da Folha, Octavio Frias Filho escreveu e publicou o seguinte neste domingo, dia 8, no seu jornal: "O uso da expressão "ditabranda" em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis. Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda.”

É o mesmo que dizer: “Não é que a gente fique desconfiado, mas a gente fica com o pé atrás.” É simples a mutreta: basta colocar “não” na frente do que você acredita piamente e imediatamente repetir tudo aquilo que você acredita piamente e acabou de negar. Exemplo: “Não é que você seja safado, mas você é safado”. Isso é o que acontece quando o ensino é sucateado e não existe mais massa crítica no país em frangalhos, onde tudo é dito de maneira impune e com o apoio daquela cara de paisagem, sugerindo produção de pensamento.

Quer dizer que existiu leviandade, mas não “do ponto de vista histórico”? História, História, quantos crimes se cometem em teu nome. “Agora, um momento histórico”, diz o segurador de microfone, instaurado como o novo Heródoto. História é outra coisa. Sob o ponto de vista histórico, a Folha participa do artifício que maquiou o regime de 64 consolidado e batizou-o com o nome de democracia. Precisava esperar mais alguns anos antes de perdoar a tortura e a repressão dos anos 60, 70 e 80. Se adiantou e teve que aturar seus aliados na maquiagem, os ditos intelectuais progressistas, bem instalados em seus cargos e dinheiro público.

Já existem sinais evidentes de que tudo vai virar uma coisa só no imaginário do país, que por enquanto ostenta uma divisão entre 1964 e 1985. São eventos idênticos, dois golpes de estado contra a democracia. O primeiro foi explícito, precisou da truculência policial e militar. O segundo foi sutil, precisou da imprensa e da academia. Vejam Sarney, Collor e Renan se locupletando no Senado. Collor sendo apoiado por Lula. É preciso fazer salamaleques a Collor, que fez o serviço sujo, ajudou a erradicar a chance de o trabalhismo assumir o poder. Lula e Collor, mais FHC e Sarney, são cúmplices nessa jogada sinistra.

O Brasil de hoje, sob todos os pontos de vista, é uma ditadura explícita. Os políticos condenados ou suspeitos fazem gato e sapato das instituições, pois, como em toda ditadura, não há oposição de verdade (o DEM, ora o DEM...dêem um tempo!). E não há oposição porque tanto a profissão de jornalista foi praticamente extinta (com honrosas exceções) quanto foram fechadas todas as portas para que a política se renove de verdade. Ficou assim difícil de romper esse consenso de ladroagem sem fim, que tunga o dinheiro público de norte a sul, de leste a oeste, como se dizia antigamente, quando havia um país e seus pontos cardeais. Hoje somos um amontoado, um bando. Mais 88 mil pessoas empurrados para o subemprego. Vão fechar as vagas de passeador de cachorro!

Toda essa choldra é necessária para que o país continue sendo raspado. Vejam que o povo é jogado no lixo cada vez em maior número, mas as atividades econômicas, todas elas voltadas para o conforto dos outros países, continuam firmes. A indústria deu uma leve recuperada, a exportação de proteínas mantém seu ritmo, o recesso em outros lugares traz chances para mais soja e cana por aqui e por aí vai. “O Brasil vai bem, mas o povo vai mal” disse um dia o ditador Médici. Continua a mesma coisa. O povo não é o Brasil. Para eles, o Brasil é essa grande teta gorda onde mamam sem parar.

Ontem, relendo o Diário da Fonte (“Levei meu diário na viagem, assim tenho algo para ler” – Oscar Wilde), vi um comentário do Helcio Toth dizendo que eu deveria ser o ombudsman do governo Lula. Na época, reagi com contundência. Mas me dei conta do seguinte: tudo o que critico aqui, os poderes dão um jeito de arrumar, lá do jeito deles. Vejam a recente e absurda campanha a favor da soberania do governo Lula (absurda porque o governo é entreguista). De repente, começaram a falar sobre soberania. A Globo, que mostrava repórteres e apresentadores falando entre si, como notei uma vez aqui, acusando-os de autistas, exclusivamente voltados para dentro deles, agora adotou o “boa noite a todos”.

Não que eu seja levado em consideração pelos poderes, mas eu acho que levam sim em consideração. Virei ombudsman da canalha. E de graça.

RETORNO - Imagem desta edição: como queríamos demonstrar. O riso ostensivo deve ter sido provocado por alguma piada sobre o Brizola. Pois é isso que os une, além da fuça lombrosiana do quarteto.

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