Nei Duclós (*)
Noto que se multiplicam as oficinas literárias, cada uma desenvolvendo métodos de orientação para futuros escritores. O convívio com pessoas da mesma vocação, acompanhadas por alguém talentoso e experiente, valoriza um ofício que precisa se espalhar junto com o hábito da leitura. Neste verão que termina, notei também que aumentou a presença dos livros nos passeios dos banhistas. É bom ver que os autores disputam espaço com o sorvete.
Dos mestres disponíveis da literatura universal, Joseph Conrad (1857 – 1924) é o mais esclarecedor na arte da narrativa. Principalmente em “O Agente Secreto”, filmado inúmeras vezes desde Sabotage, de Hitchcock, em 1935. Lançado em 1907, foi revisto na edição de 1920, quando Conrad explicou como foi elaborada a trama da mulher do anarquista que tinha amor maternal pelo irmão com problemas mentais. Ela desconhecia a dupla personalidade do marido e o livro é a súbita revelação de um mundo invisível, encoberto pela vida conjugal pragmática e obscura.
O livro parece ser a investigação sobre um atentado, mas é a exposição de técnicas de como criar uma história. Cada capítulo destaca um personagem, que assume provisoriamente a função de protagonista. Cada cena se refere aos antecedentes do crime e aos momentos em que ele foi praticado, preparando o desfecho trágico. Cada frase atinge o máximo de precisão e intensidade, cruzando o ambiente (uma Londres enlameada, escura, úmida) com perfis psicológicos. Os personagens são identificados por tipos, mas não por caricaturas. O autor fisga o leitor, levando-o poderosamente para nuances, brutalidades, superfícies, falas e silêncios.
Na nota introdutória, Conrad conta como foi atropelado pelo tema numa conversa de rua. A partir desse encontro, fez inúmeras fontes confluírem para compor sua galeria humana, teve o cuidado de não permitir a interferência nociva de vivências e memórias, limpou o texto original até o osso para que funcionasse e “encarnou” suas criaturas para que elas ganhassem vida.
Uma delas, o Professor, o especialista em explosivos que desprezava a humanidade, mantém a atualidade do seu carisma sinistro impulsionado pela força de uma literatura exemplar.
RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 17 de março de 2009, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem de hoje: Joseph Conrad, o Mestre absoluto. É ler e aprender.
Noto que se multiplicam as oficinas literárias, cada uma desenvolvendo métodos de orientação para futuros escritores. O convívio com pessoas da mesma vocação, acompanhadas por alguém talentoso e experiente, valoriza um ofício que precisa se espalhar junto com o hábito da leitura. Neste verão que termina, notei também que aumentou a presença dos livros nos passeios dos banhistas. É bom ver que os autores disputam espaço com o sorvete.
Dos mestres disponíveis da literatura universal, Joseph Conrad (1857 – 1924) é o mais esclarecedor na arte da narrativa. Principalmente em “O Agente Secreto”, filmado inúmeras vezes desde Sabotage, de Hitchcock, em 1935. Lançado em 1907, foi revisto na edição de 1920, quando Conrad explicou como foi elaborada a trama da mulher do anarquista que tinha amor maternal pelo irmão com problemas mentais. Ela desconhecia a dupla personalidade do marido e o livro é a súbita revelação de um mundo invisível, encoberto pela vida conjugal pragmática e obscura.
O livro parece ser a investigação sobre um atentado, mas é a exposição de técnicas de como criar uma história. Cada capítulo destaca um personagem, que assume provisoriamente a função de protagonista. Cada cena se refere aos antecedentes do crime e aos momentos em que ele foi praticado, preparando o desfecho trágico. Cada frase atinge o máximo de precisão e intensidade, cruzando o ambiente (uma Londres enlameada, escura, úmida) com perfis psicológicos. Os personagens são identificados por tipos, mas não por caricaturas. O autor fisga o leitor, levando-o poderosamente para nuances, brutalidades, superfícies, falas e silêncios.
Na nota introdutória, Conrad conta como foi atropelado pelo tema numa conversa de rua. A partir desse encontro, fez inúmeras fontes confluírem para compor sua galeria humana, teve o cuidado de não permitir a interferência nociva de vivências e memórias, limpou o texto original até o osso para que funcionasse e “encarnou” suas criaturas para que elas ganhassem vida.
Uma delas, o Professor, o especialista em explosivos que desprezava a humanidade, mantém a atualidade do seu carisma sinistro impulsionado pela força de uma literatura exemplar.
RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 17 de março de 2009, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem de hoje: Joseph Conrad, o Mestre absoluto. É ler e aprender.
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