7 de setembro de 2007

SETE DE SETEMBRO: GRITO, RESISTÊNCIA, GUERRA


O Grito do Ipiranga definiu as posições da Guerra da Independência (1821-1823): não era mais possível adiar a soberania, mesmo que isso custasse a vida. A partir do Sete de Setembro, não restava mais dúvidas sobre o que deveria ser feito para expulsar o domínio português. Foi por isso que meses depois da declaração de D. Pedro I, a 13 de março de 1823, piauienses, maranhenses e cearenses lutaram, praticamente de mãos limpas, na Batalha do Jenipapo, contra o bem armado Major João José da Cunha Fidié, que era o comandante das tropas portuguesas, encarregadas de manter o norte da ex-colônia fiel à Coroa Portuguesa. Correu bala.

Informa-se que os patriotas “perderam a batalha, mas fizeram com que a tropa desviasse seu destino. Caso o Major continuasse a marchar para Oeiras, então capital, talvez não encontrasse resistência e cumpriria com seu objetivo. Os brasileiros lutaram com instrumentos simples, não com armas de guerra, não tinham experiência; ou seja, mesmo sabendo da condição de luta, eles partiram para o combate.” Ao contrário do que diz a enciclopédia , esta não foi a única batalha sangrenta pela independência do Brasil.

A Imperatriz Leopoldina não nos deixa mentir. Veja o que ela escreveu para seu marido: “Sinto muito dar-lhe notícias desagradáveis, mas não quero faltar à verdade, mesmo se é penoso a meu coração; a tropa de Lisboa entrou na Bahia, e dizem que desembarcou; a nossa esquadra não se sabe o que fez, se é falta de ânimo dela é preciso o mais rigoroso castigo, chegarão três navios de Lisboa, os quais dão notícias de que os abomináveis portugueses querem sua ida para lá mesmo se voltasse ao Brasil outra vez, e que ia ao poder executivo a decidir se deve vir mais tropa para cá, é certo que aprontem a toda pressa dois navios; ontem deram a falsa notícia que estava uma esquadra de Lisboa fora da Barra de modo que todo se aprontou para recebê-la com fogo e bala.”

Tanto sangue derramado e o que temos hoje nos jornais? Absolutamente nada. Temos o olhar pânico do Renan Calheiros sendo apoiado por Lula (claro). Temos o José Sarney pontificando sobre a Pátria (citando a globalização e Geisel, claro). Temos um historiador falando informalmente (uma declaração cheia da palavra “coisa”), pontificando sobre o link entre símbolos nacionais e ditadura. Mas não temos a celebração da soberania, naturalmente porque soberania não há mais.

Essa é a grossa traição a que se dedicam todos os poderes sob o jugo da pirataria internacional. Fazem pouco da data porque fazem pouco do Brasil. São todos estrangeiros, até já juraram bandeiras de outros países. Entregaram a nação de mão beijada, enquanto atraem a pior espécie de gente (especuladores, turistas sexuais, bandidos) com as iscas mais apetitosas (juros altos, mulheres peladas, riquezas). Não há soberania portanto não há ética. A mega-sena milionária provoca um impasse em Joaçaba, onde um marceneiro, que confiou no amigo, diz quer foi tungado no prêmio.

Mas o Brasil é maior do que toda essa imensa traição. Na frente da minha casa, vejo a escola uniformizada carregando bandeiras e marchando, treinando para o desfile de hoje. No interior do município de Uruguaiana, houve também um desfile, no chão batido de terra, com os símbolos nacionais tremulando ao vento. Sarney, na época do Plano Cruzado, disse que o Brasil é uma hidra de muita cabeças, em que não basta matar uma, pois sempre tem outra que se manifesta. Vejam a imagem que ele usou, esse fundador da ditadura civil.

O Brasil não é uma monstruosidade, nem uma piada, nem faz parte do “planeta”. Uma parte do planeta é que faz parte do Brasil. O que seria de nossa percepção de terra, espaço, céu se não fôssemos donos do chão que habitamos? Tente eliminar as fronteiras e verás toda sorte de gente te passando a mão. Nós conquistamos esse pedaço, este naco, este patrimônio e nele colocamos as mais árduas sementes. Colhemos cardo, colhemos espinho. Mas aqui é o que somos.

Não devemos esquecer jamais: as tropas portuguesas entraram na Bahia. Não foi uma luta incruenta. Independência ou Morte. Alguma dúvida? Não basta repetir, diante de tanta incúria (e que estas palavras não sirvam para mais ditadura): “Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste.” Te queremos de volta, Pátria amada.

RETORNO - Imagem de hoje: foto de Ivete Carvalho, do Portal Uruguaiana. Desfile no interior de Uruguaiana, dias atrás (hoje, 7, a comemoração é na majestosa avenida Presidente Vargas).

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