17 de setembro de 2007

ENTREVISTA SOBRE DIOGO E DIANA


A foto acima foi tirada na Feira do Livro de Uruguaiana em 2004. Estão, pela ordem: Tabajara Ruas, Miguel Ramos, eu e Rubens Montardo, todos sob a guarda do Barão do Rio Branco e da Catedral de Santana. Foi nesse evento que Taba me falou sobre o seu projeto de três livros sobre dois adolescentes, Diogo e Diana, com superpoderes, na ilha de Santa Catarina. O convite para escrever junto com ele veio depois. Agora, que o primeiro volume está em todas as livrarias, a editora Galera Record está distribuinmdo a seguinte entrevista dos dois autores do pampa, moradores de Florianópolis, que estréiam na literatura juvenil com "Meu vizinho tem um rotweiller (e jura que ele é manso...)".


"Tabajara Ruas, que também é cineasta, revela que a série Diogo & Diana deve virar filme brevemente: “Meu vizinho tem um rottweiler (... e jura que ele é manso) tem todos os ingredientes para um bom filme de aventuras para jovens: amizade, ação, mistério, magia e o duro aprendizado da vida e do amor.”

Escolados na literatura para adultos, esta é a primeira incursão dos escritores nas histórias infanto-juvenis. “Existe uma excelente literatura infanto-juvenil no país, o Nei e eu apenas pretendemos entrar nesse caminho e andar por ele”, disse Tabajara Ruas. A possibilidade de escrever para outro público também encantou Nei Duclós: “A literatura infanto-juvenil ambientada no Brasil pode ter o mesmo charme e exercer a mesma atração do que os produtos estrangeiros. É nisso que acredito.”

O que gerou a idéia inicial do livro?

Tabajara - Primeiro a vontade de escrever uma história com uma só responsabilidade: a de contar uma boa história. Sem esteticismos, sem maneirismos, sem frescura nenhuma. Uma história para a garotada, que sabemos muito bem, não é nada boba. E segundo, o mundo cultural da ilha de Florianópolis, onde o Nei e eu vivemos, cheia de bruxas, fantasmas, aparições e monstros exóticos.

Como foi escrever um livro a quatro mãos? Como foi o processo criativo?

Nei - Trabalhar com Tabajara Ruas é uma tranqüilidade. Além de dominar o ofício, saber exatamente como se constrói a trama de um romance (o que é sempre base sólida para criarmos em cima do que é proposto), Taba abre o leque para toda espécie de contribuição. Isso me deu grande abertura para trabalhar. Participei ativamente da criação de personagens e do desenvolvimento da trama. Ao mesmo tempo, nas nossas reuniões, interagíamos com alto nível de sintonia sobre o que deveríamos aprontar nos episódios que se sucediam.

Tabajara - O Nei é um poeta maior, um romancista sólido e um jornalista de grande experiência. Além do mais, somos amigos de infância, na distante Uruguaiana. Foi tudo muito natural. Algumas reuniões, algumas leituras, um esboço e muito trabalho.

Por que escolheram ambientar a série em Florianópolis, já que ambos são gaúchos?

Tabajara - Talvez porque moramos na maravilhosa Florianópolis. Nos últimos três anos vivo mais em Porto Alegre, em função do meu trabalho com cinema, mas tenho casa há 15 anos em Floripa e meus dois filhos nasceram lá. Mas somos escritores, inventamos coisas, fundamos novas mitologias. Da ilha tiramos o cenário de paraíso e a intimidade do ilhéu com o mundo mágico.

Nei - Este lugar [Florianópolis] mágico e assombroso é o espaço ideal para uma série de aventuras, pois mantém ainda a presença forte da natureza. Toda obra de aventura tem o mar, a montanha, o gelo, a floresta, ou seja, a natureza, como personagem principal. É o que acontece com Diogo & Diana.

Acredita que os jovens leitores brasileiros se ressentem de histórias ambientadas no Brasil?

Nei - Acho que existe um enorme fosso entre o que a meninada vive e o que consome na indústria cultural. Está tudo muito defasado. Essa diferença é extremamente alienante, pois a vida diária acaba se confrontando com um imaginário produzido em ambientes completamente diferentes, mesmo que falem tanto em globalização. Existe também muito equívoco em relação a esse público (e, acredito, em relação ao público em geral). O mercado procura ter idéias definitivas sobre o consumo e isso engessa demais a criação. Há também o medo eterno de não se arriscar nada, entre o mesmo se reproduz indefinidamente. O que estamos propondo é abrir uma janela nesse cerco, retomar o que foi abandonado, trazer de volta a literatura para o chão, sem que isso signifique cortar as asas de ninguém. A literatura juvenil ambientada no Brasil pode ter o mesmo charme e exercer a mesma atração do que os produtos estrangeiros. É nisso que eu acredito.

Diogo & Diana vai ser uma série? Podem nos contar as próximas aventuras da dupla?

Tabajara - Diogo & Diana já nasceu como série. O Nei e eu temos um contrato de três livros com a Editora Record. Meu vizinho tem um rottweiler (...e jura que ele é manso) é o primeiro. O segundo livro já está quase pronto e deve sair no ano que vem. Se chamará A trilha da lua cheia. E do terceiro já temos um esboço bem alentado.

O livro também pode virar filme?

Tabajara - Meu vizinho tem um rottweiler (... e jura que ele é manso) tem todos os ingredientes para um bom filme de aventuras para jovens: amizade, ação, mistério, magia e o duro aprendizado da vida e do amor.

Ambos são escritores conhecidos por seu trabalho com romances para adultos. Como foi escrever para outro público?

Nei - Já tinha me aventurada na literatura infantil, escrevendo uma história curta em prosa e outra em poemas. Mas tinha ficado nisso. Essas duas incursões permanecem ainda inéditas. Agora foi a oportunidade de me dirigir à juventude. É fácil, basta não abrir mão da intensidade dramática, da qualidade do texto, da complexidade da trama. Adolescentes são exigentes e não se deixam enganar por qualquer tipo de facilitação. Se pensam por aí ao contrário, é porque estão enganados.

Tabajara - As aventuras de Diogo e Diana trazem o encanto da juventude, sua graça e sua doçura. Foi um bom exercício tentar alcançar esse parâmetro, nada fácil na confusa e frustrante realidade dos nossos dias.

Quais os cuidados que tiveram com a linguagem para que Diogo e Diana e seus amigos falassem com as mesmas gírias da geração que eles retratam?

Nei - Fiz algumas pesquisas com pessoas próximas e também fico atento como falam e o que dizem ao meu redor. Por alguns anos convivi com os estudantes que pegavam a mesma linha de ônibus aqui na ilha. Mas procurei não me limitar ao que percebi. Trabalhei a linguagem como obra literária. As gírias aparecem mas não são determinantes, servem como ambientação. O certo é sempre apostar nas soluções clássicas da linguagem culta. Não tentar a esperteza de clonar o que imaginamos ser a linguagem da juventude. Esse é o respeito devido que temos para esse público. Não somos “amigões” dos leitores. Somos escritores.

Tabajara - Trabalhamos como escritores. Usamos a intuição, ouvimos com cuidado, perguntamos a nossos filhos, acompanhamos conversas no orkut e fomos aprendendo muito. Escrever as aventuras de Diogo & Diana foi estimulante e achamos que escrever os próximos livros da série também será.

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