11 de julho de 2007

RESPOSTAS SOBRE A DOUTRINA DO FUTEBOL BRASILEIRO


É de todos conhecida a importância que tiveram os sucessivos títulos de Campeão do Mundo para um conhecimento mais profundo do futebol brasileiro. Muito oportunamente, também a crônica esportiva achou por bem aprofundar a questão, atendendo sobretudo à sua aplicação concreta: ou seja, em cada texto sobre futebol, sempre há a reiteração dos princípios e dogmas do futebol brasileiro, como por exemplo a obrigatoriedade de ser bonito, bem jogado e fazer história enquanto gera um rastro de glórias por onde passa.

O sucessivo trabalho dos cronistas, tendente a ilustrar com maior profundidade os múltiplos aspectos do futebol brasileiro, levou à produção de uma vasta literatura na matéria. Mas, se o tema se revelou deveras fecundo, foi também necessário proceder a algumas chamadas de atenção e esclarecimentos, como aconteceu com os títulos de 1970, ganho pelo Zagalo, considerado burro e incompetente na época, de 1994, ganho pelo professor Parreira, acusado de retranqueiro, ou de 2002, ganho pelo Felipão, acusado de tudo antes de levantar a taça.

A complexidade estrutural do tema, bem como a novidade de muitas afirmações, como é o caso de acusar Dunga de ser horroroso porque é um “anão de cabelo espetado”, tosco e anti-craque, como disseram dele, entre outras barbaridades, continuam a alimentar a anti-reflexão sobre o tema. Daí que, tendo presente a doutrina íntegra e global sobre o futebol brasileiro, entendemos dar com clareza a genuína interpretação do que ocorre em campo, quando o Brasil enfrenta seus adversários tradicionais e emergentes.


Primeira questão: Terá o Tempo modificado a precedente doutrina sobre o futebol brasileiro?

Resposta: O Tempo não quis modificar essa doutrina nem se deve afirmar que a tenha mudado; apenas quis desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la com maior fecundidade. No lugar de mitos, temos suor. No lugar de resultados já conhecidos, temos a dúvida e a emoção dos desenlaces. No lugar da Memória, tão seletiva, temos os Fatos, tão incômodos.

Segunda questão: Como deve entender-se a afirmação de que esta seleção nada tem a ver com o futebol brasileiro, por ter sido convocada toda em países estrangeiros?

Resposta: O Brasil soberano "constituiu sobre a terra" uma única escola de futebol brasileiro, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá, e na qual só permaneceram e permanecerão todos os elementos já instituídos, quais sejam: a cultura sofisticada do gesto que transcende o jogo bruto; a invenção de espaços inexistentes em dribles e chutes a gol; a força do carisma que deságua nos atletas, vinda de sucessivas gerações craques. Este futebol, como realidade constituída e organizada neste mundo, subsiste nos atuais jogadores convocados, que diante do desafio assumem o caráter fundamental do futebol ao qual pertencem, estejam onde estiverem, venham de onde vierem. Basta ver não apenas Robinho como cumpre a escrita, mas como outros jogadores, sobre os quais pesavam todas as calúnias e dúvidas, se sobrepõem nos momentos decisivos.

Terceira questão: Por que a crônica esportiva sempre erra quando se trata de futebol brasileiro? Afinal, o que eles querem?

Resposta: Os cronistas esportivos querem se apropriar dos resultados dos esforços da garotada em campo. Usam para isso os mais torpes expedientes. Brandem jogadas eternas do passado, elogiam o que passou para esculachar o que está sendo construído.

Quarta questão: Por que chamam de futebol a correria de certas seleções que possuem a precisão do relógio cuco?

Resposta: Porque há uma retenção perversa na crônica esportiva colonizada, louca para cair de quatro diante do primeiro estrangeiro que parece ser bom de bola. Vejam o caso do Forlán ontem. Pois Forlán isso, Forlán aquilo, mas que craque! Nos pênaltis, Forlán foi lá e virou florzinha: enterrou seu time no primeiro chute decisivo.

Quinta questão: Será que eles jamais vão aprender a respeitar a seleção canarinho e o futebol brasileiro?

Resposta: Nunca, jamais. Mas assim como a Igreja Católica precisa dar um tranco nesses caras que chegam na nossa porta para falar mal do Papa, achando que somos uns bunda moles que vão na conversa ridícula dessa teologia de banheiro do protestantismo que virou produto de massa, assim também o futebol brasileiro vai continuar dando lições como nesta Copa América, em que estamos na final, com volantes, sem Kaká nem Kuku e com o gauchão campeão do mundo no comando.

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