É de todos conhecida a importância que tiveram os sucessivos títulos de Campeão do Mundo para um conhecimento mais profundo do futebol brasileiro. Muito oportunamente, também a crônica esportiva achou por bem aprofundar a questão, atendendo sobretudo à sua aplicação concreta: ou seja, em cada texto sobre futebol, sempre há a reiteração dos princípios e dogmas do futebol brasileiro, como por exemplo a obrigatoriedade de ser bonito, bem jogado e fazer história enquanto gera um rastro de glórias por onde passa.
O sucessivo trabalho dos cronistas, tendente a ilustrar com maior profundidade os múltiplos aspectos do futebol brasileiro, levou à produção de uma vasta literatura na matéria. Mas, se o tema se revelou deveras fecundo, foi também necessário proceder a algumas chamadas de atenção e esclarecimentos, como aconteceu com os títulos de 1970, ganho pelo Zagalo, considerado burro e incompetente na época, de 1994, ganho pelo professor Parreira, acusado de retranqueiro, ou de 2002, ganho pelo Felipão, acusado de tudo antes de levantar a taça.
A complexidade estrutural do tema, bem como a novidade de muitas afirmações, como é o caso de acusar Dunga de ser horroroso porque é um “anão de cabelo espetado”, tosco e anti-craque, como disseram dele, entre outras barbaridades, continuam a alimentar a anti-reflexão sobre o tema. Daí que, tendo presente a doutrina íntegra e global sobre o futebol brasileiro, entendemos dar com clareza a genuína interpretação do que ocorre em campo, quando o Brasil enfrenta seus adversários tradicionais e emergentes.
Primeira questão: Terá o Tempo modificado a precedente doutrina sobre o futebol brasileiro?
Resposta: O Tempo não quis modificar essa doutrina nem se deve afirmar que a tenha mudado; apenas quis desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la com maior fecundidade. No lugar de mitos, temos suor. No lugar de resultados já conhecidos, temos a dúvida e a emoção dos desenlaces. No lugar da Memória, tão seletiva, temos os Fatos, tão incômodos.
Segunda questão: Como deve entender-se a afirmação de que esta seleção nada tem a ver com o futebol brasileiro, por ter sido convocada toda em países estrangeiros?
Resposta: O Brasil soberano "constituiu sobre a terra" uma única escola de futebol brasileiro, que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá, e na qual só permaneceram e permanecerão todos os elementos já instituídos, quais sejam: a cultura sofisticada do gesto que transcende o jogo bruto; a invenção de espaços inexistentes em dribles e chutes a gol; a força do carisma que deságua nos atletas, vinda de sucessivas gerações craques. Este futebol, como realidade constituída e organizada neste mundo, subsiste nos atuais jogadores convocados, que diante do desafio assumem o caráter fundamental do futebol ao qual pertencem, estejam onde estiverem, venham de onde vierem. Basta ver não apenas Robinho como cumpre a escrita, mas como outros jogadores, sobre os quais pesavam todas as calúnias e dúvidas, se sobrepõem nos momentos decisivos.
Terceira questão: Por que a crônica esportiva sempre erra quando se trata de futebol brasileiro? Afinal, o que eles querem?
Resposta: Os cronistas esportivos querem se apropriar dos resultados dos esforços da garotada
Quarta questão: Por que chamam de futebol a correria de certas seleções que possuem a precisão do relógio cuco?
Resposta: Porque há uma retenção perversa na crônica esportiva colonizada, louca para cair de quatro diante do primeiro estrangeiro que parece ser bom de bola. Vejam o caso do Forlán ontem. Pois Forlán isso, Forlán aquilo, mas que craque! Nos pênaltis, Forlán foi lá e virou florzinha: enterrou seu time no primeiro chute decisivo.
Quinta questão: Será que eles jamais vão aprender a respeitar a seleção canarinho e o futebol brasileiro?
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