9 de julho de 2007

ESFREGAÇÕES DO FALSO BEM


O final da noite da Globo mostrava Madona esfregando os países baixos diante de uma platéia numerosa. Ela estava salvando o planeta. Cercado por dançarinos-robôs, ao som do baticum tecno sincopado, tudo temperado por ginástica aeróbica fatalmente movida a drogas farmacêuticas legais (ninguém tem esse pique, a não ser que esteja turbinado), a megastar manobrava os gestos da platéia com sua vozinha de arame, rebolando o que não tem e se colocando no centro de um movimento de massa politicamente correto. A salvação do planeta é a nova bomba da babaquice global. Todos são contra o CO2 e estão prontos para levantar o dedinho contra esses poluidores, fatalmente gente pobre que não sabe o que é bom para tosse.

O assunto da hora é a violência nas escolas. Uma gurizada folgada quase matou uma servente na hora do recreio, quando se divertiam com um pega-pega. Um aluno decepou a falange da professora na porta, outros dois colocaram fogo no veículo da diretora da escola (na casa dela) e por aí vai. Claro que a direita se levanta para pedir laço e vara de marmelo e palmatória. É a gangorra da maldade: primeiro, a palmatória; depois vem os politicamente corretos e enchem a meninada de falsas liberdades; isso chama de volta a palmatória. A direita e seu clone mais fecundo, a pseudo esquerda pseudo politicamente correta, fazem um serviço e tanto.

Qual a solução? A disciplina do rigor dos estudos e do exemplo dos professores bem remunerados pelo poder público. Não se trata de castigar como se os alunos fossem merecedores das chamas da purificação. Mas realmente implantar a liberdade, que implica respeito mútuo, aprofundamento da disciplina e do aprendizado. Deixaram tudo às moscas para provar que a liberdade não funciona. Viu, deu no que deu. Vamos agora bater em todo o mundo. Tarde demais. Não dá mais para bater.

A verdade é que toda grande cagada monumental coletiva tem sempre uma panacéia no bolso do colete. Primeiro , sucateiam a educação. Depois, soltam as feras da adolescência e da infância contra o corpo docente despreparado. Ao mesmo tempo, enchem as escolas de determinações pseudo garantidoras de um aprendizado libertador. O modelo que funciona é o que dá banho no mundo todo: disciplina férrea nos estudos e tolerância no comportamento. Aqui é o contrário: frouxidão extrema nos estudos e detector de metal na porta do colégio.

Agora, prepare-se. Como todos estão conscientes do seu papel no planeta, que deve ser salvo dos poluidores como você, é preciso colocar as barbas de molho. A toda hora vão te ensinar como deves chupar aquele caramelo e como deverias tratar teu cão ou limpar teu nariz ou dirigir teu carro. Todo mundo faz o que quer ao teu redor. Mas a toda hora alguém vem te ensinar como a coisa funciona. Se não quiseres sofrer, tome uma dessas anfetaminas e vai levantar os braços diante de Madona e seus clones. Como conseguem se empolgar com um barulho tão asqueroso?

Para mim, aquelas platéias que aparecem na tv são todas compradas. Elas são uma minoria que dizem como o resto deve se comportar para que a máquina de fazer imbecis continue funcionando e dando dinheiro para seus donos. Vendo Madona esfregar a genitália no palco e falando em salvar o planeta, enquanto a platéia delirava com uma babaquice explosiva, fiquei me perguntando quando é que invadiram o mundo para tomar conta dele. Foi assim de repente ou aos poucos? Quem somos nós, sobreviventes de algo que não existe mais?

RETORNO - 1. Imagem de hoje: Meninos na chuva, de Marcelo Min. 2. Alertado por daniduc, que se deu o trabalho de pesquisar no Google, fui informado que a carta de Zé Roberto é falsa. Portanto, está eliminado o motivo do post que respondia à missiva. Maior mico. Acontece.

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