30 de julho de 2007

PLANETA SUBSTITUI MUNDO


PLANETA SUBSTITUI MUNDO

Mundo é o conjunto de países, planeta é terra de ninguém. Mundo tem fronteiras e História, composto de aduanas e guerras, cemitérios e cidades, populações e praças. Planeta é território disponível, só conta a água disponível, a terra arável, o habitat das espécies, montanhas e rios. Mundo atrapalha: quem quer saber por que existe até hoje a floresta amazônica?

O importante é colocar uma expedição lá em busca de biodiversidade, remédios milagrosos, pedras preciosas, petróleo, DNA de índio. Que importa saber que a Amazônia foi preservada no século 19, quando era proibido até navegação interna e por isso podemos hoje ver a floresta sendo invadida pela incúria e pelos sucessivos governos entreguistas.

O melhor do mundo aos poucos é substituído pelo melhor do planeta. O grande atleta deixa de pertencer a um país para se concentrar na própria individualidade. Confesso que fiquei chocado com o Cafu quando gritou o nome do seu local da infância no momento em que ganhamos o pentacampeonato. Esperava que ele gritasse o nome do Brasil soberano.

Mas esse sentimento de pertencer a um grande país, que não seja a América ou algumas dessas ricas nações européias, já entrou em desuso (a não ser quando há alguma campanha publicitária oportunista). Somos do planeta, e a geografia tradicional foi substituída pela ecologia.

Quando Al Gore mostra a terra perdida no universo, como se fosse apenas um pixel, um ponto de luz, ele está dando o seu recado: devemos nos sentir pequeninos diante da grandeza dos americanos, com suas tecnologias mostrando como somos minúsculos. Eles é que possuem os espaços siderais da percepção. A nós cabe a rua tomada pela violência, o esgoto que não chega, a ameaça dos vários apagões e, finalmente, a plantation, a cobertura de cana-de-açúcar, soja e milho para fornecer biocombustível para eles, que ainda disputam o petróleo matando todos os dias cidadãos de um não-país ocupado.

Os países periféricos só existem como fornecedores de exotismos para a indústria global de entretenimento. A miss de Barbados, a top brasileira, o goleador que veio da favela. Não temos um pesquisador, um inventor, uma personalidade séria de projeção internacional. Pertencemos ao planeta. O veneno da nossa jararaca foi registrado por patentes estrangeiras, aliás estão registrando todas as plantas para que não reste dúvida de que tudo é deles. Não pertencemos mais ao mundo, como antigamente. No tempo da rádio El Mundo de Buenos Aires, dos “mejores del mundo”, quando a boca dos locutores se enchiam de pompa.

Somos do planeta, que rima vocês bem sabem com o quê.

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