17 de julho de 2007

OVERDOSE DE PETECA DE PRAIA



Tudo o que é proibido no futebol virou modalidade esportiva. Vamos imaginar que você seja um argentino. Acha que nasceu para a coisa, saltou da mamãe já com a faixa de campeones del mundo atravessada no peito e recebe um toco da seleção brasileira nas fuças de todo mundo. É claro que você vai fazer igual ao Tosco Tevez na final, vai dar uma saraivada de pontapés no adversário que levou a melhor na jogada. Pois isso no Pan é o Taekwondo.

Nada contra o rapaz que virou celebridade, o ouro (que ficou por um tempo solitário) na luta aos pontapés inventada pelos coreanos, mas eu bem que gostaria que a televisão gastasse alguns segundos para entrevistar um dos medalhistas de ouro dos Estados Unidos. Não, pegaram o pobre do lutador e o massacraram com milhões de entrevistas. E aí, como é que você se sente sentindo o sentimento dos sentidos? "Foi um dia de muito glamour", respondeu o Hércules.

A TV mostrou mas não disse que levamos um baile de 14 a dois da República Dominicana no beisebol. Soube pelo jornal, por acaso. O beisebol é um espanto. É um jogo em que os americanos agarram com todas as forças o pau que eles não possuem e gostam de meter no mundo e rebatem uma bolinha minúscula, que cruza os estádios. Aí eles ficam rodopiando num troço chamado base e acham isso uma coisa extraordinária. Experimente, num jogo de futebol, bater a bola com um taco e depois ficar rodopiando na área para ver se você faz ponto. É proibido. Virou, portanto, modalidade esportiva.

Outra coisa impressionante é o Badminton. Parece jogo inventado pelos caçadores de borboletas. Uns marmanjos seguram uma raquete de tênis para rebater uma peteca, que deve saltar uma rede de vôlei. Dizem que tem dois mil anos e é um dos esportes mais praticados no mundo. Duvido. Mas como não sei nada de coisa nenhuma, então deve ser. Nunca vi ninguém batendo raquete de tênis em peteca achando que está jogando vôlei. Também nunca vi ninguém atirando a bola com raquete num campo de futebol. Não deixam.

Se, por exemplo, como aconteceu numa partida na Venezuela, o estádio fica sem luz, não vá querer improvisar um vôlei de praia, colocar umas gostosas se esfalfando para disputar alguma coisa. É proibido, o futebol não deixa, mesmo nos intervalos. É por isso que o vôlei de praia, o esporte mais próximo do Hors Concours, o guspe (lá em Uruguaiana, nos anos 50, não era cuspe, era guspe) à distância, virou modalidade esportiva. O que era feito exatamente para se distrair de um jogo sério como o futebol virou coisa.

Acredito que os chambões em futebol, os caras que nunca decidiram uma partida nos pênaltis, como aconteceu comigo num torneio por mais de uma vez, ou que não fez um gol no ângulo ao pegar a sobra de uma disputa braba na área, como também aconteceu comigo numa aula de educação física, ou seja, aqueles caras que jamais conseguiram dominar uma bola como o Abeguar e o Altamir, craques do Uruguaiana, resolveram inventar todos esses jogos. São ruins de bola, chutam nas canelas e acham que isso pode virar modalidade esportiva.

Tem também as ginastas, que são garotas suicidas que se jogam no abismo. Você vê uns saltos mortais depois de gols feitos numa partida de futebol, mas isso não quer dizer que vá virar briga por medalha. Eu admiro aquela coragem, mas jamais permitiria que alguém próximo a mim se dedicasse com tanta fúria a esse tipo de atividade. Americanas e chinesas parece que adoram. Juízes colonialistas também. Ontem eu vi a Jade ser driblada pelos árbitros. Errou nas barras quando ficou nervosa ao sofrer uma injustiça. O choro é pela injustiça, não por não ter conseguido. É que a ginástica olímpica, ao contrário do guspe à distância, é esporte nobre e deve ser exclusivo do Primeiro Mundo. Só eles podem.


Quem manda ser brasileiro pentacampeão do mundo em futebol. Eles inventaram todas essas bobagens só para nos tirar o brilho de sermos os gigantes do esporte que realmente conta. Ou alguém duvida que o gol do Julio Batista, sem espaço para chutar, que cobriu o goleiro, não é uma obra de arte verdadeira? Quando que uma jogada de handebol, por exemplo, que é outro jogo inventado pelos ressentidos contra o futebol, vai chegar aos pés de um gol desses?

Aliás, o handebol deveria dar cadeia. É uma covardia. Os caras chegam com a bola na mão diante do goleiro e sentam a pua e ainda saem comemorando. Deveriam ser colocados a ferros e levados para a delegacia. Isso na minha rua era punido com surra coletiva.

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