7 de julho de 2007

PERDIDOS NA ENGRENAGEM


O que temos na capa de uma revista semanal? Naji Nahas, por certo, o megaespeculador que volta e meia vira coisa na mídia. Quem é a grande figura das finanças internacionais comparável aos maiores? O “megainvestidor” George Soros, por certo, incensado no noticiário noturno como o grande humanista que quer deixar de herança não a bufunfa que amealhou com a globalização, mas, digamos, suas “idéias”.

Quem é considerada poderosa por uma revista? A filha do ministro da Cultura, que aparece de frente na capa segurando as mamas. Como a filha de um servidor público pode ser considerada poderosa e ainda por cima aparecer pelada publicamente? Quem é o cara mais rico do mundo? Carlos Slim, o mexicano que manda nas grandes corporações surgidas depois das privatizações no Brasil. Faz sentido. Todo o dinheiro acumulado pelo país em décadas de soberania foi esbagaçado pelos grupos que se assenhoraram do país.

Continuo sem entender nada. O Brasil está rico, equilibrado, justo? Está se vendendo lá fora como paradigma das virtudes, lugar confiável para aqui se deixar os juros? Temos antecedentes históricos. Na década de 20 do século 19 (eu disse 19, ou seja, lá por 1825), a situação era a seguinte, segundo R. Walsh: “Os amplos recursos e crescente prosperidade eram tão prezados na Europa que suas perspectivas econômicas davam ao país uma grande segurança para investimento de capital e vários especuladores aplicaram aqui seu dinheiro, dando preferência ao Brasil não só em relação a todos os outros países como aos deles próprios. E isso se devia ao fato de não só dos bancos bancos brasileiros serem mais estáveis como a de se disporem a pagar juros mais altos”.

Terra dos especuladores desde criancinha, o Brasil pune o trabalho e o capital produtivo, incensando as nulidades e reiterando o obscurantismo. Mas está crescendo? Há mais distribuição de renda? Vejam o caso das usinas de álcool. A cana de açúcar é a praga do subdesenvolvimento, monocultura que fez a desgraça do Terceiro Mundo por séculos. Cuba, boicotada pelo Império, não saiu desse atraso. O Brasil, agora com a onda dos biocombustíveis, vai colocar mais cem usinas em seu território. E a ministra da Energia, na maior cara de pau, diz que na Amazônia não. Conta outra. A Amazônia é o principal alvo da brutalidade canibal do imperialismo.

Ms deslumbramos o mundo com nossa estabilidade. O fato de existir um Iraque na favela do Alemão, no Rio, não tem importância. O Brasil pode absorver tudo. O que vale é o marketing, a mentira em larga e profunda escala. Remédios falsos, nunca mais ninguém falou nada. Estão todos sob controle? E essa merda sem fim no Congresso, essa roubalheira explícita, faz parte da estabilidade e do crescimento confiável e sustentável? Não, isso não. Sabemos separar o joio (a roubalheira flagrada) do trigo (a roubalheira permitida).

E os aeroportos, sucateados pelos governos da ditadura civil? Sinal de prosperidade, segundo Guido Mantega, um pé rapado vindo da Universidade que hoje aparece como se fosse o Henry Ford. Claro, crescemos tanto que acabamos dormindo em Cumbica. Temos tanto desenvolvimento sustentável que enchemos nossas terras aráveis com a monocultura da cana ou da soja. Somos tão confiáveis que as pessoas se matam sem parar, em todos os níveis da vida no Brasil. Estamos em paz, deu tudo certo. Agora conta aquela do papagaio fanho.

E a do papagaio fanho é que tem menos gente no topo da pirâmide, ou seja, a base se ampliou. Menos gente passando miséria. Será? Há mentiras, grandes mentiras e estatísticas, como diz o ditado. Enquanto formos dependentes, pagando os tubos pela dívida externa, enquanto plantarmos cana de açúcar, enquanto tivermos a elite política que se manifesta pelo desvio de verbas, nada seremos. O Brasil é uma anedota que perdeu a graça.


RETORNO - Imagem de hoje: Chaplin em "Tempos Modernos", sua sátira ao capitalismo selvagem.

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