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2 de novembro de 2005
VOAR É COM OS POETAS
Estarei na Feira do Livro de Porto Alegre nesta sexta-feira, dia quatro, às 16h30min, a convite do poeta Marco Celso Viola para debater o tema, na Sala O Retrato - CCCEV, "A Poesia Marginal e a Geração Mimeógrafo Numa Cidade Sem Memória, As Razões Do Esquecimento - em debate, as origens das primeiras publicações realizadas entre 1969/1972, em mimeógrafo no país, que posteriormente dariam origem a chamada geração mimeógrafo e poesia marginal". Na mesa estarão presentes também Cláudio D'almeida e artistas convidados que declamarão alguns poemas. É importante esse resgate e a projeção que faremos para o futuro do trabalho ainda erradicado das análises e antologias, quadro que já está tendo uma reviravolta, graças à militância reinauguranda por Celso em Portinho. Vou ao sabor do vento, não tenho nada preparado. O importante é trabalhar o assunto a partir do que será posto em pauta. É colocar o espírito de inclusão literária e a dialética recorrente que sempre desemboca em vanguarda e ruptura, volta ao ponto de partida, reinício e retomada. A viagem cíclica que as gerações assumem ao longo do tempo precisa da contrapartida da crítica e da análise, sob pena de selecionarmos apenas alguns itens dos movimentos literários, que assim ficam à mercê de idiossincrasias e interesses. Romper com esse vício é um trabalho para poetas longevos como nós, sempre atentos ao que está pegando no país da exclusão.
VANGUARDA - Por indicação do jornalista Marlon Assef visito o blog de terrorismo poético de Ari Almeida (pseudônimo), que participa de um grupo de Curtitiba que joga poemas de estilingue nas vidraças, reproduz sons de bois no matadouro em churrascarias e veste-se de travecos em dia de missa para peitar a tolerância católica. O blog traz links arrasadores no mesmo tom e merece ser visitado, não para sermos incluídos neles, mas para sabermos como está a disposição na meninada nesta época de trevas. As performances do grupo estão a anos luz do que fazíamos. Éramos até muito comportados, pois colocávamos poemas em cartolina na praça e fazíamos livros mimeografados. Hoje com a internet, em que teoricamente há muito mais espaço para a inclusão, a barra pesada sobre novos autores continua firme e ainda mais sofisticada. O tom dos blogs citados é radical e não espere nenhuma consideração. Não finja que você é do movimento, porque não é. Uma coisa que precisamos reiventar é o respeito ao espaço alheio, não querer regular tudo. Na intenção de agradar os que estão em crescimento ou, maduros na faixa dos vinte anos, estão loucos para romper com tudo, projetam-se ações que acabam intensificando a distância entre uma cultura assimilada e outra emergente. Ari Almeida escreve com absoluta liberdade. Seu texto sobre nanotecnologia, que está na primeira página, é manifestação de um espírito livre, sem nenhuma concessão de linguagens. Escreve sobre assunto sério sem abrir mão de palavras que lhe dão na telha. Seria bom que os jornalistas lessem o que ele escreve, e como escreve, para sacar o que é produzir uum texto com absoluta liberdade. Mais não digo porque não quero cair na boca do povo radical. Eles propõem colocar som alto para incomodar a vizinhança, por exemplo, coisa que me expulsa de qualquer simpatia pelas propostas. Mas há vida ali e literatura sem algemas ou falsas esperanças.
EXCLUSÃO - Acredito que o verbo convencer é um dos mais importantes hoje. Nos discursos, os estadistas costumam dizer que estão convencidos disso ou daquilo. Na crítica, há convencimento total, pois faça o que você fizer, se não estiver na área dessa certeza, jamais terá espaço. Foi isso que deixou Celso invocado e foi por isso que ele foi à luta e preparou-se para falar sobre poesia política, coisa que já está fazendo em conferências e num futuro livro, e sobre nosso pioneirismo na poesia marginal da época braba da ditadura civil-militar. Não me considero totalmente excluído, pois consegui publicar em editoras importantes (apesar de não merecer resenhas na grande imprensa) e sou cronista de um jornal importante, o Diário Catarinense, que estreou nesta terça-feira um novo visual. Além disso, fui convidado para ser patrono da Feira do Livro de Uruguaiana. Mas tudo é muito misturado, pois não consegui publicar os vários livros que preparei este ano, a começar pelo meu novo livro de poemas. Mas, como disse Moacyr Scliar, é preciso paciência, não só por parte das novas gerações, mas dos veteranos. Publicar em livro no Brasil é sempre uma complicação. Venceremos.
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