17 de novembro de 2005

O CAMPEONATO DO MENSALÃO




O campeonato brasileiro chega ao fim junto com a CPI do Mensalão. Foi o pior campeonato de todos os tempos. Onze jogos (ponta de um iceberg?) anulados por corrupção de um juiz, times tradicionais, como Atlético Mineiro e os times baianos, rolando escada abaixo, montes de pernas de pau sem proteína na primeira infância se esbagaçando em campo (enquanto o filé mignon é arrancado do país pela força da ditadura financeira internacional), o monopólio da televisão nos empurrando goela abaixo o caça níqueis da pay-per-view ou a porcaria de suas transmissões na TV aberta (com o auxílio de uma rede clone), com narradores anódinos e comentaristas corporativos (como se o jornalismo não fosse uma especialização de linguagens e sim uma propriedade das profissões reportadas, como jogar futebol ou apitar).

O time ainda líder é cacifado por um fundo que está sob suspeita, seu principal executivo não fala a língua do país, num ambiente onde brilham alguns jogadores estrangeiros, diante da pobreza dos quadros nacionais que restaram da expropriação. A seleção brasileira é o retrato da superconcentração de renda que há no país, a ascensão social lotérica (a velha escolha de Sofia, quando se decide quem vive e quem morre) e a entrega da soberania, já que pegamos o que de melhor produzimos aqui para entregar para os estrangeiros. Aqui, nos estiolamos em estádios caindo aos pedaços, torcidas repletas de meliantes e assassinos, falta total de segurança, bancarrota dos times. Na rodada de ontem, o Colorado de Porto Alegre conseguiu colocar o nariz na reta de chegada e merece ser o campeão, para evitar que a máfia eslava saia gargalhando desse evento sinistro que emporcalhou o futebol brasileiro.


RUÍNAS - O que mais me dói nos gramados brasileiros é ver craque rolando por times variados, longe da época em que tiveram glória suprema, como é o caso do Edilson e o Marcelinho. Também me incomoda quando vejo alguns jogadores se sobressaírem, como o Gustavo Nery, pois já antevejo a compra pelo Exterior. Vi num domingo desses o Silvinho no banco de um jogaço na Europa. Tinha esquecido do Silvinho. Se tivéssemos todos esses magníficos jogadores aqui no Brasil, com estádios novinhos e organizados, em campeonatos eficientes e honestos, venderíamos para todo o mundo a cobertura dos jogos, como fazem os europeus. Ganharíamos muito mais dinheiro. Mas escolhemos o normal: a expropriação de recursos pátrios a troco de banana (para a nação, não para os espertalhões). Formamos nossos grandes jogadores aqui e exportamos. Eles chegam lá com fama de favelados e acabam assumindo cidadania estrangeira. Envelhecem longe de nós e ficam para sempre no coração de torcidas distantes. Ficamos nós com esse monturo, as ruínas de campeonatos estaduais e nacionais, tendo que participar em coisas como a copa sul-americana, de onde fomos escorraçados por falta de competência. Essas ruínas são vendidas a peso de ouro, na publicidade, na televisão, na cartolagem. É um grande negócio, o de destruir a soberania nacional.

CRAQUES - Leio esse bom susto editorial que é Caros Amigos, que vale pela edição de Sergio de Souza, o jornalista top que a grande imprensa não conseguiu mais assimilar, pelos textos de Gilberto Felisberto Vasconcellos, sempre lúcido e contundente, pelas fotos do garoto viajante Gabriel Corrêa, maravilhosas, sobre suas viagens pelo Brasil, e por matérias como Virados para a lua, de João de Barros, sobre o esquema nas loterias da Caixa Federal. A capa é com Marilena Chauí, e sua longa entrevista sobre a crise política. Participa da edição o Emir Sader, que me abasteceu de resenhas durante anos na revista Senhor nos anos 80, quando tinha acabado de chegar do exterior, com seu corpo magro, sua bolsa a tiracolo e cabelo comprido. Sader tornou-se um case nacional com sua briga de cachorro grande contra a Veja e o senador Jorge Bornhausen. Lá estão também Leo Gilson Ribeiro (o jornalista craque na cobertura de livros, exemplo de como se deve fazer nesssa área), o Palmério Dória com uma coluna exclusiva, entre outras atrações. Acumulando vários prêmios, a revista existe desde 1997 e tem uma redação daquelas que deveriam continuar existindo por toda parte, composta dos melhores profissionais e com a coragem que falta a muitos veículos.

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