28 de novembro de 2005

DISCURSO NA PRAÇA

Pela primeira vez, discursei em praça pública. Foi na sexta-feira, na inaguração da Trigésima Primeira Feira do Livro de Uruguaiana, da qual sou patrono.As emoções, resgates e revelações desses três dias de ouro serão reportados aqui ao longo dos próximos dias. Por enquanto, vai o discurso.

Exmo. Sr. Prefeito Sanchotene Felice
Sr. secretário de cultura Miguel Ramos
Demais autoridades aqui presentes
Escritores e escritoras da minha terra
Queridos conterrâneos

É uma honra e uma alegria para mim ter sido convidado pelo sr. prefeito para ser o patrono da feira do livro de Uruguaiana, que inauguramos hoje.

Esta é a terceira feira consecutiva da qual participo e posso dizer que os livros me trouxeram de volta à minha terra.

Aqui nasci e me criei, nesta cidade que tem busto de poeta na praça, junto com pessoas que também abraçaram esta vocação, de expressar nos textos e nos poemas tudo aquilo que nos forma como cidadãos e habitantes deste tempo de mudanças.

o livro é memória e identidade, mas é também projeção para o futuro. o livro sobrevive a todas as ameaças e permanece firme no seu papel de difundir conhecimento, de seduzir, de encantar e de nos orientar.

Um livro faz a diferença numa formação e pode mudar o curso de uma vida. Ele nos acompanha em nossa trajetória com seu acervo de sonhos, informações, imagens e momentos baseados no que vivemos ou criamos.

A leitura é o que nos transcende, o que nos impulsiona, que nos dá referências,que nos abriga e nos estoca. por isso este ofício de escrever é muito mais do que uma profissão, embora exija a mesma concentração, estudo e esforço. É uma ponte com nossos semelhantes, são as águas infinitas de um rio que não morre, é alvorada e poente, é revelação e mistério.

Nada substitui o livro e seus conteúdos cevados no silêncio. O espírito precisa da leitura para não perder o fôlego, para desabrochar, para nos levar até onde devemos ir na missão a nós reservada.

Hoje a leitura está disseminada por fontes as mais variadas, graças à tecnologia que chega em todo lugar e leva a cultura universal para cada canto da terra. Com raras exceções, não podemos mais dizer: esse autor eu desconheço, ou deste livro não ouvi falar. Basta procurar na rede mundial de computadores que lá estará, disponível, acessível, algo sobre o que ouvimos de relance ou muito do que queremos aprender.

O livro é parte fundamental da história das nações. Serviu como insumo no desenvolvimento de um pequeno país como a Inglaterra, que difundiu o conhecimento técnico para todos os que trabalhavam na marinha mercante. Para cada tarefa existia um manual, para cada problema havia um livro à mão, como uma ferramenta indispensável, que levou os ingleses para todos os portos do mundo.

Assim foi com o Japão no radical movimento cultural e político do século 19, quando os livros disseminaram pela população os avanços do ocidente e foi assim que o Japão tornou-se uma potência.

Foi principalmente pelos livros que traziam as revelações do iluminismo, que os franceses aprenderam a romper barreiras e a mudar o curso da história da humanidade, com sua grande revolução.

No Brasil, ainda temos um longo caminho a percorrer. É duro reconhecer que temos ainda poucas livrarias, muita falta de leitura e escritores que lutam para publicar suas obras.

É por isso que uma feira como esta é fundamental para que haja esse encontro entre leitores, livreiros e autores, para que haja debate, identificação, para que possamos sonhar de olhos abertos e agir a partir dos planos que aqui surgirem.

Vejo em Uruguaiana o florescimento da prática do livro. Há movimento na cultura impressa, tanto na imprensa quanto nas livrarias e nas editoras. Precisamos de bibliotecas, públicas e privadas, pessoais ou coletivas e incentivo para que as novas gerações queimem etapas e possam emergir com toda a força graças à leitura que renova, o livro que transforma, o escritor que se manifesta e encontra acolhida no coração e no entendimento dos contemporâneos.

Esta feira, que existe há mais de 30 anos, é o símbolo desse renascer cultural. Baseado na história e na realidade atual desta cidade, desde a época em que poetas lutaram e morreram nas revoluções, até a presença hoje de tantos autores importantes, digo que Uruguaiana é uma terra de escritores e de leitores.

Pode não ter chegado ao patamar que idealizamos, mas é importante definir metas, acreditar no potencial que dispomos e desencadear as forças represadas.

Nada pode contra a força do conhecimento. o livro, como a alma, é eterno. Tudo o que foi produzido ao longo dos tempos está agora conosco, palpitando, como um pássaro de luz que nos convida para o amanhecer.

Vamos aceitar esse convite. Vamos nos orgulhar do que somos e temos. Vamos lutar para construir que há de melhor. O livro é a solução perfeita para acabar com o pessimismo, a desesperança ou o fatalismo.

Vamos aprender com os livros, aprender que vivemos num universo em movimento, e que devemos estar preparados para as transformações que estão em curso.

O que nos define não é raça, cor ou classe social. O que nos dá um rosto é a cultura que temos, o saber que compartilhamos, o sopro de vida que nos leva para frente.

Uruguaiana é, mais uma vez, a terra do livro, território da nossa cidadania, porta de entrada do Brasil soberano, esse país herdado, feito com o suor e o sangue dos nossos ancestrais, que aqui velam, de olho em nós, esperando de nós nada mais do que coragem para enfrentar as dificuldades e sair delas com a vitória nas mãos.

A vitória de um povo que vive, sofre e sonha. E que jamais foge à luta.

Está inaugurada a Trigésima Primeira Feira do Livro de Uruguaiana.

Muito obrigado

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