Nei Duclós
Pouco há a
acrescentar sobre o terceiro livro de Cassionei Niches Petry, “Cacos e outros
pedaços” (Editora Penalux, 90 pgs., R$ 40,00) depois dos textos introdutórios
assinados pelo professor Sergius Gonzaga (que conheci no final dos anos 60, no
campus da UFRGS conflagrado pela ditadura), o escritor Gustavo Melo Czekster e
de Charles Adriano Campos. Todos apontam a excelência da literatura destes contos,
de fina carpintaria, de ousadia embalada em narrativa sóbria e de surpresas pela
multiplicidade de recursos usados.
Acrescento a
prudência e o respeito do autor ao ofício, a cama realista feita para que o
sobrenatural e o bizarro se manifestem, impondo credibilidade à abordagem, em
que não falta a tragédia, o humor e a autocrítica. O escritor se enxerga imerso
na armadilha literária tecida pelas suas inumeráveis leituras e sai de lá com a
pepita colhida em rio tormentoso, ambientado em montanha inacessível, seu perfil
original que o destaca entre os escritores brasileiros contemporâneos de
primeira água.
Não cabe a
obviedade dos elogios a Cassionei, escolado nesse mundo de vaidades e
equívocos. Cabe apontar a interação que consegue imprimir com os leitores,
levando para eles (nós) seu acervo de preciosidades e o rigor que nos estimula
cada vez que chegamos ao final de um dos contos.
Como o
cinema, a literatura é voltada para si mesma, como provam o Quixote que nasce
de uma biblioteca sobre cavalaria e encontra seus leitores na segunda parte da
obra de Cervantes, o escritor perturbado de Shosha de Isaac Singer, o Gringoire
de Notre Dame de Paris, de Victor Hugo e toda a obra dos mestres como Cortázar
ou Borges. A linguagem inflete sobre sua própria natureza pelas mãos e mentes dos
escritores. Cada arte está confinada a si mesma, assim como o gênero humano se
ocupa de seus limites para atingir a diversidade infinita.
Cassionei
não se perde na sua trajetória, pois aprendeu a lição dos mestres e trabalha
num caminho específico com acesso a múltiplas estradas vicinais. Ele une peças
dispersas de um mosaico transparente, quase um vitral, mas sem a pompa e o
colorido desta arte sacra. ´Sua obra trafega como cavalo ensinado que de
repente levanta voo.
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