Nei Duclós
O DESAFIO
Nas Diretas já Mino Carta me entregou um calhamaço da
cobertura do comicio da Sé. Estava desesperado. A revista precisava fechar e só
tinhamos meia hora.
- Transforma isso aqui numa coisa legivel, disse ele.
Criei a costura do texto dizendo que o evento de um milhão
de pessoas fora um teste politico para os principais envolvidos. Enquanto
narrava o desafio de cada um fui desfiando os acontecimentos levantados pela
reportagem.
Escrevi furiosamente e Mino arrancava cada lauda da minha
máquina quando eu chegava na ultima linha e ia passando um pente fino com a
caneta. Gostou, publicou.
Foi quando descobri que eu não era mais copy desk. Era
editor de texto. Já podia ser chamado pelos meus pares paulistas de Puta Texto,
espécie de condecoração do ramo.
COPY
A melhor profissão do mundo era a do copy desk. Não
precisava sair à rua, ser "jornalista", atuava nos bastidores. Não
assinava matérias, prescindia da notoriedade. Confundia-se com móveis e
utensílios da redação. Em compensação, tinha carta branca dos editores para dar
cascudo em repórter. Era divertido.
LONGEVO
Quando completei uns 200 anos de profissão sempre tinha um
foca perguntando:
- O sr é jornalista?
- Não, eu respondia invariavelmente.
Isso dava um alívio.
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