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22 de abril de 2017

O MOSAICO LITERÁRIO DE CASSIONEI





Nei Duclós

Pouco há a acrescentar sobre o terceiro livro de Cassionei Niches Petry, “Cacos e outros pedaços” (Editora Penalux, 90 pgs., R$ 40,00) depois dos textos introdutórios assinados pelo professor Sergius Gonzaga (que conheci no final dos anos 60, no campus da UFRGS conflagrado pela ditadura), o escritor Gustavo Melo Czekster e de Charles Adriano Campos. Todos apontam a excelência da literatura destes contos, de fina carpintaria, de ousadia embalada em narrativa sóbria e de surpresas pela multiplicidade de recursos usados.

Acrescento a prudência e o respeito do autor ao ofício, a cama realista feita para que o sobrenatural e o bizarro se manifestem, impondo credibilidade à abordagem, em que não falta a tragédia, o humor e a autocrítica. O escritor se enxerga imerso na armadilha literária tecida pelas suas inumeráveis leituras e sai de lá com a pepita colhida em rio tormentoso, ambientado em montanha inacessível, seu perfil original que o destaca entre os escritores brasileiros contemporâneos de primeira água.

Não cabe a obviedade dos elogios a Cassionei, escolado nesse mundo de vaidades e equívocos. Cabe apontar a interação que consegue imprimir com os leitores, levando para eles (nós) seu acervo de preciosidades e o rigor que nos estimula cada vez que chegamos ao final de um dos contos.

Como o cinema, a literatura é voltada para si mesma, como provam o Quixote que nasce de uma biblioteca sobre cavalaria e encontra seus leitores na segunda parte da obra de Cervantes, o escritor perturbado de Shosha de Isaac Singer, o Gringoire de Notre Dame de Paris, de Victor Hugo e toda a obra dos mestres como Cortázar ou Borges. A linguagem inflete sobre sua própria natureza pelas mãos e mentes dos escritores. Cada arte está confinada a si mesma, assim como o gênero humano se ocupa de seus limites para atingir a diversidade infinita.

Cassionei não se perde na sua trajetória, pois aprendeu a lição dos mestres e trabalha num caminho específico com acesso a múltiplas estradas vicinais. Ele une peças dispersas de um mosaico transparente, quase um vitral, mas sem a pompa e o colorido desta arte sacra. ´Sua obra trafega como cavalo ensinado que de repente levanta voo.


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