Nei Duclós
TENTEI VER ALGUNS EPISÓDIOS DE Veep, sobre bastidores da
política presidencial americana com a Julia Louis-Dreyfus, que estava ótima em
Seinfeld. Achei apelativa e grosseira, feita para chocar, forjada, com
baixarias explícitas ditas em ambientes que deveriam ser sóbrios e sérios.
Acham graça nisso e até dão prêmios, mas eu não engoli. Outras séries começam
bem e decepcionam como na terceira temporada de Better Call Saul, cheio de
chatices como o pentelho do irmão de Saul, o Chuck e suas paranoias elétricas e
o velhão gangster brincando de seguir os criminosos numa sequência besta de
aparelhinhos eletrônicos rastreadores. Mas pode haver surpresas. As duas temporadas anteriores foram ótimas.
Saul pode ir pelo mesmo caminho do Feed the Beast (Alimente
a fera), que o Netflix teve a manha de colocar a única temporada sem avisar que
a série foi cancaleada. Ela é cópia da produção dinamarquesa Bankerot.
Americanos não suportam a existência de outros países. Precisam plagiar o
sucesso alheios (chamam de refilmagem mas é chupação pura e simples). A série
começou com 1 milhão de telespectadores nos EUA e acabou com 200 mil, e isso
foi fatal. Onde estão os erros? Em todo lugar, apesar da caprichada produção e
a esforçada performance do elenco.
David Schwimmer é o bobão de sempre, apesar de quase ter se
recuperado na série de OJ Simpson, onde se saiu bem num papel dramático. Mas
neste roteiro ele é o corno absoluto que o “melhor” amigo traça sem dó,
servindo-se da esposa dele (que morreu num acidente), seduzindo também a
namorada, podendo ser até o pai do garoto que sobrou do casamento de David (que
interpreta um sommelier, o babacão provador de vinhos), e que ele venera. Ou
seja, não sobra nada para o bobalhão enquanto o outro esperto faz todo tipo de
estrepolias, se envolvendo com a máfia e colocando todos em perigo.
Jim Sturgess, o garotinho cool de Across the universe, não
tem biótipo nem aplomb para fazer um chef descolado. É apenas um gurizão
qualquer que ganhou uma barba para ver se convencia. Mas o pior não é a
situação desesperadora de perdedores dos dois amigos de infância, mas o descuido
do roteiro em relação aos detalhes,. Os personagens desconhecem fatos óbvios e
fingem surpresa quando descobrem. O mafioso mata meio mundo, incluindo
policiais, e jamais é perseguido, vive no bem bom. O garoto traumatizado que
ficou mudo tem comportamento normal de quem vive falando e também não convence.
E há também concepções forjadas de politicamente correto, com a esposa negra do
branquelo, a namorada latina etc. Tudo muito fake.
Tudo acaba num fogaréu. Foi a maneira de acabar com a série,
que entrou num beco sem saída. Restaurante chic no Bronx? Não colou. Ou seja:
não fazer sucesso não significa que seja ruim, mas neste caso é. E fazer
sucesso, como em Veep, não quer dizer nada. Ainda estão insuperáveis as séries Wolf Hall, Downton Abbey , Breaking
Bad e Mad Men.
Nei Duclós
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