Nei Duclós
Não presto atenção ao perfil oficial do tempo. Trabalho as
margens, sem querer, é próprio da minha natureza. O drama é o presente, a
memória, quando não há luto, é sempre uma celebração. Devo estar errado. Quando
vejo os destaques de outros tempos, vistos hoje, noto que vivi intensamente
cada momento, mas sem atinar para a essência do que será considerado no futuro.
Trafeguei nos bastidores, onde o exercício não faz parte do estrelato.
Devo estar certo. Vi anteontem no NetFlix, Negócios em
Família (1989), de Sidney Lumet, com Sean Connery, Dustin Hoffmann e Matthew
Broderick. Historia de migrantes, pai, filho e avô, que se unem para cometer um
crime e assim resgatam os vínculos e passam a limpo os passos dos ancestrais
que vieram do outro lado do mundo para Nova York. A cena contundente do funeral
ao som de uma canção irlandesa é o ponto alto do filme.
Tudo muda e some e fica apenas esse resgate: as brigas
domésticas, os planos limitados, os desejos íntimos. Tudo vira cinza que se
espalha pela avenida transformada. O autor do roteiro e do livro que originou o
filme é Vincent Patrick, um coringa nos scripts de várias obras. Desta vez, ele
está inteiro com seu trabalho de genuína competência.
Claro, vale aqui o lugar comum: não se fazem mais filmes
como antigamente. Lumet/Patrick encaram a morte em família e nos revelam que a
eternidade é o que esta vivo. A memória apenas puxa alguns anzóis perdidos no
mar do passado. O resultado está sempre aquém do esperado, mas nada funciona se
não houver o sentimento. O tempo é a palavra coração. A ficção acerta mais do
que a História.
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