16 de maio de 2016

CADA ÉPOCA SE BASTA



Nei Duclós

Cada época se basta em sua pompa
e circunstância. Jacta-se, prenhe
de presente, que lhe escapa
Olha-se no espelho
como se adivinhasse o futuro

É como o indivíduo em frente ao café
da praça. Aguarda um grande
acontecimento para fazer jus
à sua soberba. Uma notícia
de arromba, um convite de classe

Não que precise, só que é bom saber-se
importante, mesmo que a noite chegue
e os guardas exijam privacidade
O breu é íntimo de bêbados e estrelas
e não do sujeito com pose e posses

A década é apenas um instante
Parecem séculos. Nada haverá
de destaque sem seu consentimento
Basta alguns anos para tudo
parecer antediluviano

O que parecia eterno é só uma fantasia
logo chega a descendência, indiferente
e o corpo exausto rege a sinfonia
de ossos moídos, carnes imóveis
Tudo é tão recente, dirão os idosos

O tempo é idêntico. Ele se abandona
em quintais sujos. Ficam os sobreviventes
a olhar o subúrbio se perguntando
Nada importa. Até mesmo os livros
dormirão o sono dos justos


RETORNO - Imagem desta edição: obra de Bernard Safran.

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