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28 de maio de 2016

UM POUCO SOBRE A MEMÓRIA



Nei Duclós

Não presto atenção ao perfil oficial do tempo. Trabalho as margens, sem querer, é próprio da minha natureza. O drama é o presente, a memória, quando não há luto, é sempre uma celebração. Devo estar errado. Quando vejo os destaques de outros tempos, vistos hoje, noto que vivi intensamente cada momento, mas sem atinar para a essência do que será considerado no futuro. Trafeguei nos bastidores, onde o exercício não faz parte do estrelato.

Devo estar certo. Vi anteontem no NetFlix, Negócios em Família (1989), de Sidney Lumet, com Sean Connery, Dustin Hoffmann e Matthew Broderick. Historia de migrantes, pai, filho e avô, que se unem para cometer um crime e assim resgatam os vínculos e passam a limpo os passos dos ancestrais que vieram do outro lado do mundo para Nova York. A cena contundente do funeral ao som de uma canção irlandesa é o ponto alto do filme.

Tudo muda e some e fica apenas esse resgate: as brigas domésticas, os planos limitados, os desejos íntimos. Tudo vira cinza que se espalha pela avenida transformada. O autor do roteiro e do livro que originou o filme é Vincent Patrick, um coringa nos scripts de várias obras. Desta vez, ele está inteiro com seu trabalho de genuína competência.

Claro, vale aqui o lugar comum: não se fazem mais filmes como antigamente. Lumet/Patrick encaram a morte em família e nos revelam que a eternidade é o que esta vivo. A memória apenas puxa alguns anzóis perdidos no mar do passado. O resultado está sempre aquém do esperado, mas nada funciona se não houver o sentimento. O tempo é a palavra coração. A ficção acerta mais do que a História.


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