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26 de dezembro de 2009
CASO SEAN: O BRASIL NO RALO
Não contesto o direito do pai biológico David Goldman querer o filho Sean para perto de si. Nem os argumentos de que a Justiça brasileira não é confiável, tanto é que o caso passou pelas provas “naturais” de exaustivos meandros. Também não vou ficar defendendo uma poderosa família de advogados brasileiros que queria impedir a volta o garoto de nove anos para seu país natal. O que realmente me torra o saco é a maneira desprezível com que o Brasil é tratado num caso desses, em que a poderosa indústria de espetáculos americana fez uma celebração da própria nacionalidade num evento familiar.
O que me satura os gargomilhos é ver Hillary Clinton e Obama se meterem no assunto, como se fossem os arautos dos direitos humanos, logo eles, representantes e gerentes de um império que não respeita ninguém, invadindo quando e como querem de um lado e batendo no peito a devoção de todas as virtudes de outro. O que realmente me enche a paciência é ver como os americanos passaram por cima da mãe biológica do menino, que o teria “seqüestrado”. Eliminam a fonte do evento, o amor materno, que queria o filho junto a ela, mas não queria mais o marido. Falam em seqüestro o tempo todo, como se o Brasil fosse lá roubar o americaninho e o trouxesse para o meio da selva para entregá-lo à gula dos jacarés.
O que me irrita profundamente é essa palavra que os americanos tornam nojenta, “home”. Vocês sabem o que é home. É o único lugar do mundo que vale, a América, o único país que conta, na visão tosca deles. Tirar o menino das garras do lobo mau foi uma bem sucedida cruzada americana patriótica, como se a criança não fosse metade brasileira e, pelo tempo que ficou entre nós, quase toda brasileira, tanto é que mal fala inglês. Tudo isso não conta. Eles cuspiram no Brasil de tal forma que isso vai, inapelavelmente, respingar na formação de Sean. Ele terá problemas de identidade, já que sua maior porção não presta, é brasileira.
Isso não foi levado em consideração por esse fracasso político chamado Hillary Clinton, que só está no cargo em função de um ressentimento familiar, pois ninguém me tira da cabeça que ela queria ser presidente para desforrar-se do marido, que a traiu na frente do mundo inteiro. Hillary não tinha uma carreira política, até resolver tê-la, quando explodiu a grande farsa do seu casamento. Mulher ressentida (motivos lhe sobram), é totalmente inábil politicamente, tanto é que teve de voltar atrás do caso Zelaya. Nos momentos decisivos ela não apita, então sobra para que se meta em falsos seqüestros de anjinhos americanos por maldosos ricaços brasileiros.
Ela deve ter seu quinhão de poder. Na guerra, precisa obedecer ordens, mas em questões familiares, bate com o pau na mesa, já que está cheia de razão depois de ter sido desmoralizada publicadente pelo marido metido a comedor. Bill gerou Bush com sua boquete. Foi um desastre, apesar de ser, pessoalmente, um gênio. Considero Clinton uma das cabeças mais brilhantes do nosso tempo. Mas colocou tudo a perder.
Obama, acusado de não americano, com nome de terrorista árabe, precisa mostrar que é alguém da home, da América como lar e por isso meteu também o bedelho. É fácil desmoralizar o Brasil, que tem um governo panaca se pavoneando pelo mundo, que abre as comportas das perdas internacionais, já que os juros estratosféricos remuneram nababescamente os especuladores da pirataria global. O governo atual compra a mídia, dominada pela bandidagem financeira.
Por isso agimos como gado em direção ao corte. Não mugimos nem tugimos. Deixamos que desmoralizem o país. Não aparece uma voz forte dizendo que não houve seqüestro. Houve um drama familiar. Uma separação, a opção da mãe de trazer o filho para cá, a morte dela em função do parto do segundo filho e a vontade natural dos avós quererem que Sean ficasse. Isso poderia ser resolvido sem que a nacionalidade americana tratasse o caso como uma invasão do Comando Delta para resgatar a vítima.
Deveria haver civilização, já que tudo isso envolve uma criança. Mas houve apenas barbárie. É justo que Sean fique com David. O que não é justo é o Brasil fazer papel de palhaço, não por culpa do seu povo ou de sua biografia, mas porque somos governados por merdas, que fingem independência, mas basta um poder estrangeiro roncar para todos irem se meter embaixo da cama. Não temos estadistas, temos poltrões. Não era preciso dar uma de machão para depois voltar atrás como uns filhos da mãe. Bastaria analisar o caso à luz do Direito, dar a mão à palmatória, arrumar tudo para que as duas famílias pudessem compartilhar o amor do menino.
Do jeito que foi feito a caca, poderá haver seqüelas. Deus queira que não, mas tudo indica que sim.
RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.
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