9 de agosto de 2009

PAÍS DOS PAIS


Nei Duclós

Não sou pentacampeão. Nunca fiz gols
Não sou verde-amarelo do lápis de cor
Nem gaivota de praia ou águia de Haia

Não sou patriota de duas bandeiras
Uma no escanteio, uma na grande área
Não troco de camisa na segunda vaia

Eu sou o país presente dos meus pais
Território sem fim, mar longe do cais
Paredão da serra em direção ao céu

Sou ruínas e glória, o grito e o sol
Chão podre de sombra, cachoeira de ar
Respiro História como um rastreador

Tome distância quando me vir passar
Preciso de espaço para meu embornal
Com verbos vivos a incendiar jazigos

Marcho na avenida, tenho cinco anos,
quem vai tremer diante da criança?
O tempo perfeito de compor canções

O segredo do pé repercute como ferro
Nos remos firmes em forma de braços
Faço gestos duros de trigo e sentinela

Cidadão sem brilho, sou o livre arbítrio
Escolhi o Brasil, nome de um destino
Distribuí rações para corações de vidro

Bato na madrugada, sílabas ressuscitam
Os sonhos se levantam como barricadas
Somos esse país que, teimoso, canto

RETORNO - Imagem desta edição: obra de Portinari.

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