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12 de agosto de 2009
A DITADURA LUTOU CONTRA A DITADURA
Nei Duclós
Ditadura e democracia são conceitos claros na política brasileira. Tudo o que os atuais donos do dinheiro público fazem é democracia. Lula pede concessão de rádio para filho de Renan Calheiros; Collor, uma década depois de ser defenestrado do Planalto por inúmeras acusações de crimes e fraudes, consegue absolvição da Justiça e ameaça contar os podres de Simon; Jereissati grita “o dinheiro é meu” no plenário, depois pede desculpas; a grande rede de televisão usa dinheiro lavado extorquido dos fiéis, enquanto continuam os apelos do Criança Esperança; o presidente do Senado disse que não disse o que realmente disse e está gravado e não sai do cargo nem a pau; o caso dos prefeitos do ABC assassinados, onde as testemunhas foram fuziladas, continua na mesma. Tudo isso é democracia.
Humberto de Alencar Castelo Branco, que derrubou um presidente trabalhista duas vezes eleito, pelo voto e o plebiscito, foi um grande democrata. Idem Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo. Os generais presidentes só são identificados com a ditadura quando lembram que eram gaúchos. No resto do tempo, causam comoção trepidante em inteligências como Elio Gaspari, ex-ghost writer de Ibrahim Sued. O ACM, que coisa, que estadista da democracia, mesmo ameaçando jornalista de morte em frente às câmaras. O próprio Sarney lutou muito contra ditadura, apesar de passar a maior parte da vida política sendo presidente da Arena e do PDS. Jarbas Passarinho, que destruiu a educação brasileira, é outro democrata admirável.
Todos eles lutaram contra a ditadura. Quando falam em ditadura no Brasil não é essa de 1964 para cá. Essa é a democracia. A ditadura era o que o Jango, assassinado covardemente no exílio, queria implantar no Brasil com a ajuda dos comunistas (os que atentaram em 1935 contra o governo constituinte de Vargas) e sindicalistas (os que assumiram agora o poder nos fundos de pensão e na manipulação das massas via cultura brega e eventos lotéricos). Ditadura era o Brizola armado para defender a Legalidade em 1961. Ditadura era, em suma, o presidente Vargas, eleito maciçamente pelo voto direto em 1950 e obrigado a se matar em 1954 depois que uma onda de democratas varreu a face do país com o início da campanha injuriosa que dura até hoje.
Democratas eram o Lacerda (toc toc toc), que derrubou três presidentes da República e deu um tiro no pé para colocar a culpa no Vargas . Era JK, o Peixe Bem Vivo, que apoiou o golpe de 1964, como atesta matéria na revista O Cruzeiro publicada logo depois da chamada Redentora. Todos esses democratas, a Banda de Música da UDN, os tubarões, latifundiários, reacionários de extrema direita, gorilas, bandidos do PCC que pararam São Paulo com a conivência do governo federal , são democratas até o osso. Ditadura, repito, era a Era Vargas, a esplendorosa época do Brasil soberano, em que qualquer câmara que apontasse para qualquer parte do país mostrava uma nação forte, orgulhosa, brilhante. Isso precisava ser destruído pela mediocridade.
Conseguiram. Mas como o Brasil ainda mantém algumas coisas boas, tudo fruto da Era Vargas, é preciso completar o serviço. Para isso existe a política engessada que enquadra o trabalhismo pífio dos atuais partidos pseudo-trabalhistas. E a indústria do espetáculo, que cuida para arruinar a memória e a honra de Vargas, como faz esse idiota do Tony Ramos, ator do novo filme de Daniel Filho, Tempo de Paz. Nele, Tony é o ex-torturador da política política de Vargas que assume o cargo de chefe da Alfãndega e no fim da II Grande Guerra, em 1945, decide quem entra e sai do país. A trama é sobre o confronto entre ele e um ator polonês que faz tudo para provar que não é nazista e assim conseguir licença para morar aqui. O bandido tem medo dos presos que torturou e que estão sendo libertados. Por isso enche o saco de suas vítimas.
Vi uma imagens no you tube. Lá está o ator Ailton Graça no papel de uma espécie de Gregório Fortunato, o guarda-costas de Getulio, pivô da crise que acabou derrubando o presidente. Todos os elementos da calúnia estão presentes. Costumo dizer: eles não dormem em serviço, por isso eu não posso baixar a guarda. Essa turma que se locupleta na atual ditadura, que ficou milionária graças ao monopólio da comunicação conivente com as torturas e lambe saco dos ditadores e que vive à tripa forra na fase atual da falsa democracia, essa turma de cangaceiros continua caluniando o grande presidente Vargas.
Por que insistem? Por que é preciso. Se eles deixarem um só dia de caluniar Vargas, poderão perder as tetas gordas nas quais se locupletam. Execrar a era Vargas é a única chance para a mediocridade. O povo brasileiro poderá acordar, veja o perigo. Tony é um canastrão asqueroso que se considera um ator popular, só porque suas caricaturas, ao ocuparem vasto latifúndio de exposição na mídia envenenada, tem repercussão. Tony, apelido americano do sujeito que tentou imitar Tony Quinn de Zorba o Grego, Tony, o bobalhão da respiradinha rápida (o que encerra no subtexto a exclamação: “ei, eu estou interpretando!”), se acha o grande denunciador de Vargas. Mas é preciso que se diga.
Quem lutou contra o nazi-fascismo foi Vargas, não eles. O que fez a direita, a qual Tony pertence? Usou a vitória de Vargas, a vitória da FEB, a vitória do Estado Novo a favor da liberdade nos campos da Europa, para gerar a mais monstruosa obra caluniosa da história mundial. Imediatamente após a vitória, a culpa pelo nazismo, torturas, massacres, que sempre foram da direita e seus aliados, passou para o colo de Vargas. Foi assim que eles se livraram do mico e colocaram nos ombros do presidente o crime que cometeram, o de terem inventado sistemas políticos de extrema direita (nazismo, comunismo), o que ensangüentou o mundo.
O que fez Vargas a partir de 1930? Primeiro, tirou o Brasil das garras da extrema direita, que mandava aqui desde a queda de Dom Pedro II. Depois, derrotou militarmente o revanchismo da hegemonia paulista, que levou uma tunda em 1932. Vargas então foi eleito pela Assembléia Constituinte, por sua vez eleita pelo voto direto, com o voto da mulher pela primeira vez. Seu governo legitimamente eleito levou um golpe, uma quartelada na chamada intentona em 1935, que foi derrotada.
Em reação ao golpe da esquerda, a direita se assanhou e quis assumir o poder. O álibi perfeito era a “democracia”, mas o golpe estava preparado na porção nazista das forças armadas. Getulio, apoiado pelas forças nacionalistas, instaurou o Estado Novo. Um regime que lutou na Europa de armas na mão contra as ditaduras de direita, que consolidou as leis do trabalho, o único plano real de distribuição de renda do Brasil em toda sua história, instalou a siderúrgica de Volta Redonda, base da nossa indústria, zerou a divida externa, guindou o salário dos trabalhadores a níveis de Primeiro Mundo, hoje pulverizado em economias informais.
È contra a magnífica obra política e social do presidente Vargas que anões como Tony Ramos vem caluniar, encher o saco, identificar o grande estadista com a ditadura que ele, Tony, e seus amigos defenderam por décadas (depois, posaram de democratas). E continuam defendendo, pois isso dá lucro. Estão com o baú cheio de dinheiro. E jogam pedra no estadista que se imolou em frente à nação e até hoje é lembrado como o único poder a favor do povo trabalhador. Quando se compara o gênio político de Vargas a esses troços que assumiram o Planalto desde 1964 dá para ver com nitidez que tipo de quadrúpedes se apoderaram da nação. E sequestram o imaginário do país, caluniando sem cessar.
São todos ditadores. Ganham os tubos porque lutaram ou lutam “contra a ditadura”. Essa é a armadilha mortal do Brasil da nossa época, que será lembrado pelo triste papel que desempenha nos índices sociais, na política internacional e na visão criminosa que tem do próprio passado.
RETORNO - Imagem desta edição: Daniel Filho, que é um grande ator, ensina Tony Ramos a caluniar a Era Vargas, no ensaio do filme "Tempo de paz".
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