29 de agosto de 2009

JOSÉ ALENCAR, UM HOMEM DE BEM


Nei Duclós

A longa enfermidade do vice-presidente José Alencar torna ainda mais evidente o quanto ele destoa desse governo, cada vez mais doente. Vimos o quanto o empresário deu credibilidade à chapa vitoriosa com sua biografia, seu carisma e sua maneira desprovida de ambição e pose, tão comuns nos políticos que dominam hoje o acesso ao dinheiro público. E como ele lutou pelos princípios que o colocaram lá, ou seja, o apoio ao capital produtivo, à iniciativa privada, ao empreendedorismo, às leis do mercado sem se sobrepor às leis da nação etc.

Poderíamos até não acreditar nele, mas vemos agora o quanto foi sincero e como sofreu com a traição gigantesca de um governo de araque, que o desmoralizou fazendo tudo ao contrário, enchendo ainda mais as burras dos banqueiros, quebrando setores industriais inteiros, promovendo o desemprego, sucateando o empresariado nacional e entregando tudo de mão beijada para os estrangeiros.

Vemos hoje o homem idoso nas mãos de Deus, onde sempre esteve, como disse nesta sexta-feira no Jornal Nacional. Agradeceu o poder das orações de todos os que clamam por sua saúde. Deu entrevista como sempre, em paz, de cara limpa e olhando de frente, com a doçura que o tempo, a dor e a sabedoria acabam despertando num homem de bem. Fiquei emocionado com seu depoimento curto, incisivo, quase uma despedida, neste apagar das luzes da nação, quando os meliantes são perdoados por monstros togados e pobres cidadãos são humilhados por terem dito a verdade.

O povo que destrói delegacias no interior do Maranhão, que queima ônibus em São Paulo, que enfrenta a polícia que desapropria barracos podres, esse país com a população jogada no lixo, tem em José Alencar um exemplo. Não por ser grande empresário bem sucedido ou por estar doente. Mas por ser digno e fazer parte daquele Brasil soberano que se foi de uma vez nas mãos dos algozes que nos governam. Acredito que José de Alencar candidatou-se de boa fé e achou que poderia influir com sua autoridade nos rumos do governo. Mas foi voto vencido o tempo todo e não é por acaso que seu corpo acusa o duro golpe, multiplicando os pontos mortais que tomam conta do seu organismo.

Longe de ser um sujeito boa praça ou bonachão, como deverão dizer dele quando se for, José Alencar é o brasileiro convicto da sua grandeza, tranqüilo como água de poço, como se diz na fronteira e que conhece seu lugar na História da nação que ajudou a construir. Infelizmente não foi nosso presidente, o que seria uma bênção para todos nós, hoje devorados por essa corja que se sucede no Planalto desde 1964. Talvez não tivesse maldade suficiente para enfrentar os touros e as feras, mas se houvesse a oportunidade de se eleger presidente (o que não aconteceu, pois jamais foi falso como o dono da sua chapa) teríamos um governo equilibrado, sério e, posso apostar, competente.

Mas José Alencar foi usado, assim como todos nós. Acho que ele representa o eleitor não partidário, o que entrou na briga por convicção e que jogou todas as fichas em alguém quem veio do povo pobre, achando que assim poderíamos eliminar a causa de nossos males. Mas o mal cresceu e tomou conta das nossas vidas. A lição de José de Alencar é encarar tudo com grandeza, sem acusações nem ressentimentos, pois não deve nada e tem a consciência tranqüila. Isso transparece quando chega ou sai do hospital, sempre disposto a pensar no futuro.

José Alencar, vice-presidente do Brasil, um cidadão de verdade. Esta homenagem não quer usar seu nome e sua biografia para diminuir o governo do qual faz parte mas não participa. Mas é que sua postura, sua força transparece e faz sombra ao que o rodeia. É inevitável pensar assim. Que Deus o proteja e o preserve e estenda muito sua vida que honra e engrandece a nação. Ele nos dá esperança de que existem pessoas capazes de, no meio da tormenta, manter a serenidade só encontrada nos velhos capitães do mar, os que esperavam a tripulação se salvar para só depois afundar dignamente junto com o seu navio.

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