16 de novembro de 2008

TIGRE À SOMBRA


Nei Duclós

Talvez a morte seja a eternidade
Uma surda revolta contra o tempo
Um corte na avalanche dos segundos
Um jeito de evitar a próxima aurora
Resolver de vez a espiral do futuro
Evitar a dor da espera e o desespero

Talvez a morte seja a soma do presente
Como um iceberg visto à distância
Perfeito, em sua alegoria imóvel
Posto ao largo pelo vasto continente
Que se basta, como um tigre à sombra
Depois de devorar todos os rebanhos

Somos alimentados pelos minutos
Como velhos confinados em fazendas
A sorver a sopa servida com descaso
Mas temos apenas esse prato de espuma
Para enfrentar o fim do mundo previsível
O frio que vem do cosmo, a idade hostil

Um dragão na sesta, isso é a eternidade
Coleção estéril, savana de miragens
Caçadores confinados longe na floresta
Jipes sem serventia apodrecendo ao sol
Rifles de repetição enterrados nas raízes
E fotos de safaris em ninhadas de abutres

Talvez a morte seja o fim desses eventos
Que é a vida ressecando o próprio seio
E a eternidade, uma festa de surpresas
Perfil extremo de um Deus sob o sereno
Aquela estátua de Deus que nos aguarda
No sopro da varanda em tetos de silêncio

SERENO - 1. Imagem para este poema: John Wayne em "Rastros de Ódio", de John Ford. 2. Esta é mais uma edição do Diário da Fonte no fim-de-semana. Esporte, cinema, poesia: um jornal precisa ter de tudo. Mais!, te cuida.

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