30 de novembro de 2008

A SOMA DE TODAS AS MÍDIAS


É moda pontificar sobre jornalismo, principalmente depois que os blogs deram uma tremida no espaço tradicional da mídia, obrigando os jornalistas que ainda estão nos veículos de comunicação a aderirem à nova ferramenta. Há excelentes blogs desse tipo, como os de Luiz Carlos Merten (se recuperando de uma cirurgia cardíaca e produzindo sucessivos posts, um melhor do que o outro), do Estadão, e o do Paulo Moreira Leite, da revista Época. O bom do blog de quem está numa redação é que nele se destacam as pessoas com algo a dizer, como os dois citados acima. No geral, os jornalistas de redação que mantêm blogs adotam uma abordagem prudente e civilizada, ao contrário de outros, que adoram chutar o balde sem olhar a quem.

Toda inovação é soma, jamais exclusão. Um blog não substitui um jornal, um jornalista blogueiro pode ser melhor ou pior do que um blogueiro sem formação jornalística. Nos sites da mídia oficial, há um banho de novas informações com as fotos enviadas de toda parte, dos vídeos agora fáceis de produzir, do espaço dos comentários que, quando não xingam, podem muito bem dizer algo que preste e assim por diante. Ainda não caiu a ficha de que a emergência das novas mídias digitais está transformando radicalmente o universo jornalístico, apesar de as análises escancarem essa evidência em qualquer texto sobre o assunto.

Na prática, as coisas ainda não mudaram. E não mudarão enquanto acharem que blog e site são coadjuvantes e não protagonistas do noticiário. Quantas vezes vemos a intervenção pífia de internautas perguntando obviedades para os narradores bem postos nas grandes redes? É que é difícil mudar quando carreiras inteiras e patrimônios se fizeram à custa de um paradigma que permaneceu intocado por mais de cem anos, mesmo que tenha havido muitos avanços tecnológicos. A passagem para o off-set, que eliminou as gráficas a chumbo, não provocou nem de longe o nível de mudança que está ocorrendo hoje. A Internet, a mídia das mídias, engole tudo e deixa para a tradição uma margem muito limitada de manobra.

O grande problema é que o jornalismo praticado nos grandes veículos sofre um impasse de conteúdo e forma exatamente por ter sido dominado pelas grandes corporações, que interferiram perversamente no modo de fazer jornal. As corporações de vanguarda, da área digital, são mais espertas. Deixam todo mundo livre e dispõem dos dados pessoais, profissionais e tudo mais de qualquer pessoa conectada. Estamos na mão de quem nos proporciona essa liberdade, não é uma contradição?

Um aspecto da realidade de hoje é que as comunidades de relacionamento (e existem várias, não apenas o Orkut, como Facebook, Multiply etc.), são, elas próprias, poderosas mídias, que disseminam informações variadas. Elas se somam às grandes novidades como o you tube e os espaços dedicados à produção audiovisual. Para onde isso vai nos levar?

Acho que a inundação sempre reflui e as margens aparecem de novo com os leitos reacomodados. Ou seja, depois do deslumbramento e explosão iniciais, há sempre uma recaída, uma reflexão e isso já está ocorrendo. Usar um blog não significa que sejamos blogueiros. Blog é ferramenta para o jornalismo no sentido amplo, e isso inclui a produção autoral. Um jornal deveria suportar tudo, desde reportagens literárias até mesmo poemas no corpo do noticiário. É o que fazemos aqui no Diário da Fonte, espaço pioneiro de informação autoral, que desde 2002 bate o bumbo sem dó. Ou vocês acham que eu ia falar sobre jornalismo e internet e, como acontece normalmente, não iria citar o Diário da Fonte, que continua praticamente anônimo?

Enquanto isso, aumentam os links para textos daqui e do meu site. Cinema tem sido muito referendado por várias fontes. Sinal que não estamos sós, que a diversidade dos assuntos tratados acaba chamando a atenção de uma público de grande diversidade. Mas o que estava dizendo, mesmo? Ah, o jornalismo. Ontem, enviei um e-mail para o Comunicar Erros da Folha Online, notando que numa frase curta eles tinham colocado quatro vezes a palavra “mortes”. Sugeri uma alteração. Eles me atenderam. Achei muito civilizado. Mas continuo lamentando a eliminação do copy desk. Como nós, os editores de texto, somos necessários, cada vez mais! Podem me contratar, que eu deixo.

RETORNO - Imagem de hoje: meu amigo Luiz Carlos Merten, que sabe tudo sobre cinema e mais um pouco.

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