22 de março de 2003

OUTUBRO

OUTUBRO

Nei Duclós

Trago a nova: eu mudo
lento, e é tudo
Sinto ser assim
por estações: aos turnos

Posso voltar
ao ponto de partida
mas luto

Sei que vem outubro
Flores, fruto de seiva
romperão no mundo
(Trabalho duro:
sugar de pedras
rasgar os caules
colher ar puro)

Lento e bruto
eu mudo
Sei que vem
outubro

(Do livro Outubro, IEL/RS-A Nação, 1975)

12 de março de 2003

CIRANDA

CIRANDA

Nei Duclós

Se eu chorasse
não estarias comigo

Se eu odiasse
eles teriam vencido

Porque és amor
não sou covarde

(Do livro No Mar, Veremos, Ed. Globo, 2001)

9 de março de 2003

NOVO TESTAMENTO

NOVO TESTAMENTO

Nei Duclós

Se Deus fosse um pesadelo
a chance de acordar seria o tempo
e o gosto de dormir a nossa igreja

Ninguém poderia combatê-lo
a não ser o sonhador e sua teia
cercando a neve em incêndio

Abraçado ao luar, viria o peixe
nesse ataque feito de surpresa
e pássaros voando sobre o gelo

Mas despertar não seria Deus exposto
em carnes penduradas pelo susto
ou asas condenadas à frieza

O levante se faria em outro plano
com o avanço da manhã de seda
desabando os materiais do sonho

Deus assim mostraria um novo rosto
aberto como alguém que vem de longe
oculto para não perder o fôlego

(Do livro No Mar, Veremos, Ed. Globo, 2001)

www.consciencia.org/neiduclos

7 de março de 2003

HÁ UM POEMA EM CADA AMIGO

HÁ UM POEMA EM CADA AMIGO

Nei Duclós

Há um poema em cada amigo
custa descobri-lo
precisa tempo, distância
comunhão, exílio

A magia custar a florir
como os versos simples

O inesquecível está na mão
mas o braço é um longo caminho
entre a ponta de um dedo
e o coração

(Do livro Outubro, 1975, A Nação/IEL/RS)
nei@consciencia.org