31 de julho de 2007

DE REPENTE, INGMAR BERGMAN


DE REPENTE, INGMAR BERGMAN

Fico impressionado com a cara de pau dos responsáveis pela programação da TV brasileira. Eles cercam a percepção dos telespectadores, da primeira infância à última idade, com todo o lixo disponível produzido pelas mentes mais hediondas e mentecaptas da indústria de alienação. Escolhem a dedo as porcarias que veiculam do amanhecer à última sessão. Socos, tiros, pontapés, as mais variadas crueldades, os cínicos perversos corruptos mais descarados ficam décadas expostos à cidadania desarmada. De repente, um sujeito lá da Suécia morre e eles precisam fazer aquela cara de boi compungido, de sabedores desde criancinha, que se trata de um dos maiores cineastas do mundo, Ingmar Bergman, autor de várias obras-primas que jamais são incluídos na rede de baixarias.

O que custa para esses animais veicular num horário decente – qualquer horário, vai – um filme como Morangos Silvestres, que arrebatou público e crítica nos anos 50? E Fanny e Alexander, por que não colocam esse belíssimo filme no lugar dos van damme e das máquinas mortíferas? Ah, porque o povo gosta mesmo é de pancadaria. Quem gosta de levar pontapé são esses tarados que escolhem os filmes. Devem adorar ser amarrados num poste e levar chicotada, pois não há outra explicação. E Gritos e sussurros, filmaço que faz tremer as pedras? E A Fonte da Donzela ou O Sétimo Selo, este um parâmetro para todo o cinema de vanguarda que veio depois, Glauber Rocha inclusive?

Ah, não dá Ibope. Duvido. Bota coisa fina que todo mundo vê. As pessoas estão secas por cultura e arte. Querem preencher o vazio promovido pela crueldade dos que cuidam do imaginário do país. Pois se trata do velho dilema do ovo e da galinha. Se você cria gerações no berreiro do sertanojo, como as pessoas vão descobrir que existiu um Tamba Trio, um João Pacífico, ou que existe um Zé Gomes? Se você só apresenta assassinatos, torturas, explosões e reuniões de traficantes em galpões abandonados, ou então adolescentes idiotas arrotando e se pelando em frente às câmaras, como as pessoas vão achar que uma vida decente pode ser gratificante, cheia de emoção e realizações? É porque eles querem moldar os destinos das pessoas, por isso atiram a mente e o coração na vala comum onde eles mesmo chafurdam.

O mais trágico é ver a edição sobre a morte de Bergman. Críticos e cineastas aparecem por um segundo com alguma frase pela metade. Não dá para entender o que eles realmente pensam do grande cineasta. Qual a influência que Bergman teve, qual sua contribuição à dramaturgia, ao teatro, ao cinema? Ah, mas temos o Arnaldo Jabor, que fez sua intervenção tradicional. Primeiro, se exibiu com alguns nomes cult, mostrando uma erudição que lhe escapa. Depois, partiu para seu território favorito, a baixaria, dizendo que Bergman teve uma ótima vida pois “comeu” as mais lindas atrizes suecas. Essa é a visão de cineasta que Arnaldo Jabor tem. Diretor de vários filmes horrendos, é isso o que ele deve pensar de uma vida plena: a de “comer” gente.

A cultura, para o pensamento conservador é um ornamento a ser proferido por pessoas como Jabor, o palhaço Bozo da televisão da baixeza e da ditadura. Como podem as criaturas saber que existiu um Bergman, que foram contemporâneos de um gênio, que perderam o principal da produção de pensamento da sua época, que ficaram á mercê desses animais que nos governam. Vejam as cenas horrorosas veiculadas normalmente pela mídia. Olhem o trio de energúmenos ao lado do caixão de ACM: Renan Calheiros, o suspeito de inúmeras contravenções, José Sarney, o fundador da ditadura civil, e Edson Lobão, o pianista. Vejam Nelson Jobim fazendo pose de fodalhão no local do acidente da TAM. É disso que se ocupa a mídia. Agora, as mulheres de Bergman, cercadas por paredes e cortinas vermelhas, só na hora do funeral, quando os bobalhões pomposos que apresentam os telejornais fazem gênero de conhecedores do assunto.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: Max Von Sidow joga xadrez com a morte, a cena impressionante de O Sétimo Selo. 2. E vamos nos preparar para mais bobagens: morreu também Antonioni.

30 de julho de 2007

PLANETA SUBSTITUI MUNDO


PLANETA SUBSTITUI MUNDO

Mundo é o conjunto de países, planeta é terra de ninguém. Mundo tem fronteiras e História, composto de aduanas e guerras, cemitérios e cidades, populações e praças. Planeta é território disponível, só conta a água disponível, a terra arável, o habitat das espécies, montanhas e rios. Mundo atrapalha: quem quer saber por que existe até hoje a floresta amazônica?

O importante é colocar uma expedição lá em busca de biodiversidade, remédios milagrosos, pedras preciosas, petróleo, DNA de índio. Que importa saber que a Amazônia foi preservada no século 19, quando era proibido até navegação interna e por isso podemos hoje ver a floresta sendo invadida pela incúria e pelos sucessivos governos entreguistas.

O melhor do mundo aos poucos é substituído pelo melhor do planeta. O grande atleta deixa de pertencer a um país para se concentrar na própria individualidade. Confesso que fiquei chocado com o Cafu quando gritou o nome do seu local da infância no momento em que ganhamos o pentacampeonato. Esperava que ele gritasse o nome do Brasil soberano.

Mas esse sentimento de pertencer a um grande país, que não seja a América ou algumas dessas ricas nações européias, já entrou em desuso (a não ser quando há alguma campanha publicitária oportunista). Somos do planeta, e a geografia tradicional foi substituída pela ecologia.

Quando Al Gore mostra a terra perdida no universo, como se fosse apenas um pixel, um ponto de luz, ele está dando o seu recado: devemos nos sentir pequeninos diante da grandeza dos americanos, com suas tecnologias mostrando como somos minúsculos. Eles é que possuem os espaços siderais da percepção. A nós cabe a rua tomada pela violência, o esgoto que não chega, a ameaça dos vários apagões e, finalmente, a plantation, a cobertura de cana-de-açúcar, soja e milho para fornecer biocombustível para eles, que ainda disputam o petróleo matando todos os dias cidadãos de um não-país ocupado.

Os países periféricos só existem como fornecedores de exotismos para a indústria global de entretenimento. A miss de Barbados, a top brasileira, o goleador que veio da favela. Não temos um pesquisador, um inventor, uma personalidade séria de projeção internacional. Pertencemos ao planeta. O veneno da nossa jararaca foi registrado por patentes estrangeiras, aliás estão registrando todas as plantas para que não reste dúvida de que tudo é deles. Não pertencemos mais ao mundo, como antigamente. No tempo da rádio El Mundo de Buenos Aires, dos “mejores del mundo”, quando a boca dos locutores se enchiam de pompa.

Somos do planeta, que rima vocês bem sabem com o quê.

29 de julho de 2007

O QUE SE PASSA NA CABEÇA?


Um dos assuntos intrincados da semiologia, da filosofia, da psicanálise, da antropologia, da História – a relação entre a produção de pensamento e o fato - foi prontamente resolvido pelo jornalismo televisivo. O que se passa na cabeça da pessoa que ganha o ouro e sobe no pódio ao som do Hino Nacional? Qual a sensação de estar na final? O que sentiu na hora em que fez aquele ponto decisivo? No quê ou em quem pensou quando finalmente venceu? Como é um tipo de pergunta irrespondível, exatamente porque a resposta é um mistério que ocupa as ciências humanas, então se estabeleceu um consenso sobre pensamentos e sensações que povoam a mente dos atletas na hora do bem bom da vitória. Esse consenso é o discurso formatado com antecedência, já que todo competidor sabe qual será a pergunta feita, invariavelmente, logo depois de receber a medalha.

O escândalo é que a redundância, a reiteração da pergunta sem resposta cabível, é proferida num tom de absoluta novidade. É como se perguntassem sempre pela primeira vez! Chegam a inventar preparações antes do núcleo da pergunta, enrolam um pouco antes do “como é que você se sentiu”? É que a mídia está convencida que faz História, eis o problema. Os jornalistas têm absoluta certeza que estão cobrindo momentos históricos, que não passariam de imagens clamando por uma legenda (a frase colocada embaixo de uma foto). A legenda é exatamente a resposta à pergunta "como é que você se sente neste momento?". No entanto, sabemos que os fatos, em História, são incomensuráveis e só podemos nos aproximar deles com uma metodologia, ou seja, com o rigor do método de abordagem, do que já foi descoberto por autores clássicos ou se desenvolveu a partir dessas fontes obrigatórias.

Você não faz História simplesmente apontando uma câmara ou perguntando. Você, nesses casos, está apenas multiplicando as fontes para a História. Mesmo a filmagem do momento decisivo do gol é uma representação, jamais o fato, que se perde. A História é o que você produz de pensamento na captura do fato desaparecido, apoiado nas fontes disponíveis e obedecendo (ou recriando) uma metodologia. É muito complicado para quem se acha no poder e que vive inventando momentos inesquecíveis todos os dias (e sabemos que as faculdades de jornalismo não ensinam de fato os princípios das ciências humanas).

O grande equívoco começou com o slogan do Repórter Esso, “testemunha ocular da História”. Vou insistir: a História não é visível a olho nu. Nem mesmo se você colocar um telecóspio em cima dos fatos você “verá” a História. A História se forma dentro da nossa cabecinha do porongo (aquela cabaça vazia por dentro que serve para fazer cuia de chimarrão). Exige esforço. Não basta fazer um link, uma passagem, colocar o microfone na boca, arregalar os olhos e gritar Brasil il il il.

Portanto, não adianta querer saber o que se passa na cabeça das pessoas, pois o que se passa nelas é incomensurável. Podem existir versões – e nisso a mídia se especializa, entronizando apenas uma, que é: “puxa eu me senti muito emocionado, pensei na minha namorada, nos meus pais...”.

É um assunto intrincado demais para resolver no bate pronto. Essa dificuldade é um obstáculo a ser removido. É preciso aplainar tudo, fazer com que as pessoas virem zumbis do pensamento, não tenham idéia nenhuma na cabeça, a não ser as frases prontas insufladas pela mídia. "Agora você vai se emocionar, você vai se apaixonar" ou: "Confira, pois conferindo você se sentirá participante desse momento histórico que estamos oferecendo para você, consumidor de todas as tragédias". Ao contrário do que dizem, ser apenas consumidor é abrir mão da cidadania.


RETORNO - 1. Imagem de hoje: porongo. 2. Na euforia ufanista do medalhismo dourado, foi propositadamente esquecido que Cuba equivale a 10 por cento do território e da população do Brasil. Por um momento do Pan, chegou-se a sonhar em ultrapassar, em número de medalhas, a ilha que sofre boicote econômico do Império desde 1962. Cuba erradcicou o analfabetismo e é uma referência mundial de saúde pública. "Como é que você se sente" em relação a isso? Ah, sim, teve cubano que pediu asilo por aqui. Quero ver você viver confinado quando há um mundo a descobrir. Mas tudo isso não impede de colocar Cuba como um adversário ferrenho, nada amigável nem admirável sob esse aspecto, pertencente ao mundo hispânico. Quando vemos o deboche e o ódio das jogadoras cubanas de vôlei diante da nossa equipe, sabemos do que se trata. O Brasil é o gigante que precisa ser atingido pelos pequenos. Normalmente, nos prestamos a esse papel.

27 de julho de 2007

ROLAND BARTHES, ESSE É O CARA


Roland Barthes merece que dediquemos as ele não apenas a leitura atenta e encantada, mas o reconhecimento do quanto contribui para entendermos melhor a nossa época, que ele decifrou como ninguém. Estou me referindo, claro, ao seu clássico Mitologias, escrito entre 1954/1956 e publicado em 1957. Não me aprofundei ainda em seus outros escritos, mas só esse livro já me alimenta por uma década. Posso assegurar que os melhores momentos do Diário da Fonte são puro Roland Barthes, ou o que aprendi com ele.

No momento em que ele escreveu que as “franjas obstinadas” nas testas dos personagens do filme Julio César, de Joseph Mankiewicks, eram a “ostentação da romanidade” inventada por Hollywood, abriu-se um clarão e uma estrada infinita de insights sobre filmes, livros, reportagens, imagens etc. Se Barthes, o gênio que foi convidado para ser professor da Escola dos Altos Estudos da França pela sua obra radical e profunda, tem a ousadia de enxergar uma evidência dessas, é porque toda a manipulação a que estamos submetidos pode ser lida de uma outra maneira.

Foi assim que descobri que em “De olhos bem fechados”, Stanley Kubrick mostra como a alta burguesia impede que as outras classes sociais a enxerguem, para melhor dominá-las. Ou que, no cinema, não existe reconstituição de época, mas apenas composição de cenários em função da narrativa, como escrevi no ensaio sobre o filme “As horas”. Quando Barthes mostra o filé com fritas como expressão da “francidade”, do perfil nacional da França, ou o cinema sobre lugares exóticos como uma das muitas armadilhas da exclusão de uma cultura de classes (texto que sintonizei com meus posts sobre documentários que distorciam o mundo animal e o colocavam sob as patas da hegemonia humana) Barthes está abrindo nossos olhos para o poder da mistificação que nos esvazia.

Ler o mito, para reconciliar “o real e os homens, a descrição e a explicação, o objeto e o saber” é, para Barthes, revelar a função essencial dos mitos. O importante é não deixar-se levar pela iconoclastia, a relação sarcástica com o tema, pois essa é uma armadilha do próprio mito, que a tudo impregna. O leitor de mitos, com o qual Barthes se identifica, é diferente do mitólogo, o decifrador de mitos, que acaba se separando da comunidade a qual se dirige, pois acredita pairar acima dos mortais quando acha estar demolindo as certezas. Vimos como os mitólogos proliferaram nas mídias, principalmente na Internet, onde todos são Paulos Francis a sapatear sobre todos os assuntos. Produzir ou consumir mitos é tão alienante quanto ser um sarcástico demolidor de mitos.

O importante é ler com os olhos livres, para entender o mecanismo da alienação promovido por essa cultura que transforma História em Natureza, no dizer de Barthes. Ou seja, essa cultura que encara as coisas como eternas, imutáveis, e esconde as transformações que sofremos ao longo do tempo e das ações. Esconder que somos seres mutantes, transformar o ideal da classe dominante em ideal humano, é a função da vasta gama de mitos que nos cercam por todos os lados.

Vemos isso diariamente, na imprensa e na televisão. Os eventos são apresentados de forma mitificada, para manter essa situação de arrocho econômico e político. O imobilismo nos governa. Vejam como nada muda, por mais que mudem os governantes. É que a imposição dos mitos é tão vasta e profunda, que tudo conspira para que continuemos nesse ambiente sinistro em que as coisas são assim “desde que mundo é mundo”, como costumam dizer.

Barthes é uma ferramenta poderosa para nos desvencilharmos dessa arapuca. É por isso que, toda vez que leio Mitologias, me transformo. Esse cara, Roland Barthes, ao abraçar o “incontornável Marx” (como agora estão se dando conta) se debruça sobre o poder de manipulação da indústria moderna de fabricação de mitos. Melhor para nós, que podemos carregá-lo como um passaporte para as realidades encobertas pela dominação.


RETORNO - No posfácio da edição da Difel de Mitologias, escrito em 1970, Barthes diz que sua análise é datada e tema se tornou mais complexo. Sem compartilhar do mesmo rigor do autor sobre a própria obra, prefiro encarar o livro como uma senda generosa (e ao mesmo tempo rigorosa) de inspirações e idéias. A partir desses ensaios, é possível trilhar novos caminhos na leitura das inúmeras camisas-de-força que nos amarram.

26 de julho de 2007

O FUTEBOL ARTICULADO



Se o futebol fosse dividido (e não articulado) entre força e arte teríamos que ler os cronistas esportivos. Como não se divide, podemos dispensar os luminares da bola.

O que nos oferece a campanha da seleção brasileira feminina de futebol, campeã deste Pan no Rio? Primeiro, que futebol é o esporte verdadeiro. Basta lembrar nossa ansiedade na hora em que o caroneiro das vitórias alheias, o oportunista Galvão Bueno, chamava alguma briga aos pontapés e interrompia a transmissão da final do Brasil contra os Estados Unidos, quando as gurias da camisa amarela deram um vareio de cinco a zero nas gringas.

Queríamos, nessas interrupções, o esporte de volta, esse jogo coletivo que depende da resistência, do treinamento, do preparo, do fôlego (e por isso ele é força) com o coroamento do talento e da técnica (e por isso ele é arte). Não queríamos ver pessoas se chutando e vibrando quando levavam algum tranco pelos flancos (talvez levar pontapé na bunda conte pontos, sei lá).

Pequeno intervalo para Galvão Bueno, que só apareceu no apagar das luzes do torneio, com a cara lambida, se apropriando de toda a trajetória não só das jogadoras como dos seus colegas da Globo, tendo o desplante de implorar apoio às atletas, ele que faz parte do monopólio, que pega a parte do leão na divisão de verbas, pois meu caro contribuinte, você acha que sai de onde a bufunfa que mantém a Globo com a mão em tudo o que é transmissão esportiva?

Voltamos ao jogo. Futebol não é espetáculo nem pugilismo, é futebol mesmo. Quando a combinação entre força e talento exibe o estado de arte da equipe, temos o que a crônica esportiva suspira, algo como 1982 sem os italianos. Esquecem-se que no próximo lance, as americanas virão com tudo contra as gurias brasileiras, pois aprenderam uma dura lição no Maracanã: não podem subestimar um conjunto que se aprimorou na sintonia entre suas partes, graças ao esforço e à cultura acumulada do futebol pentacampeão do mundo. Nesse próximo evento, o Brasil feminino terá que resgatar um pouco de Dunga para chegar a Telê Santana. Pois tudo nessa vida é movida pela dialética.

Veja a diferença do Brasil em relação ao resto pela rigidez dos joelhos. As gringas, por exemplo, por mais eficientes que tenham sido neste longo período em que nossas atletas amargaram o exílio da parte mais alta do pódio, jamais poderão desamarrar os joelhos. Estes ficarão sempre presos, como se alguém os tivesse atado com cordas de aço. É preciso soltar as articulações para que exista futebol brasileiro. Vimos isso nas corridas em direção ao gol. Quando as brasileiras atacavam, tudo nelas estava solto. Não perdiam tempo, como as gringas, em firmar o corpo nos joelhos presos e atarrachados com algum parafuso invisível.

As articulações soltas nos tornozelos faziam com que as bolas da linha de fundo chutadas para dentro da área chegassem de maneira perigosa, às vezes até quase cometendo um gol olímpico. O totózinho final de esquerda e de chapa para fazer um dos outros gols também é revelador. O pescoço solto e a cabeça firme fazia com que a bola quicasse mais de uma vez nas cabeças das jogadoras brasileiras em direção às redes. O drible final antes do lance matador vem dessa soltura em campo, viabilizada pela dureza do ofício e pela herança do futebol pentacampeão do mundo.

Não quer dizer que Dunga estava errado ao não subestimar os adversários e colocar em campo a equipe possível de maneira prudente, mas firme, que depois do susto contra o México se firmou e venceu a Copa América. As gurias também tiveram que tirar o salto alto contra o México. Voltaram mais objetivas, pois o treinador lhes ensinou que elas só podem brilhar depois do serviço feito. Não se coloca uma coroa na sola do pé. Não se exala um perfume pela raiz. O futebol arte é o esplendor do futebol força, jogado com as articulações soltas.

Quem quiser que explique de outra maneira.

RETORNO - Imagem de hoje: Marta, cracaça e goleadora.

A INDIGNAÇÃO É UMA IMPOSTURA


A tragédia é permanente e gera uma indignação surda, instável e sem nenhuma repercussão. Num país sem lei, tudo tem que ser negociado todos os dias. É a manobra no trânsito, a velocidade na estrada, a vaga no estacionamento, a visita do fiscal, a remuneração do trabalho, o prazo da dívida vencida, o calote, o arrocho, a informação negada, a viagem pela metade. Esse é o ambiente onde o ranger de dentes é fartamente distribuído a uma terceira idade furiosa, uma juventude em fuga, uma população em pânico.

Quando a tragédia extrapola seus limites cotidianos, e confirma as tendências esboçadas na rotina (a pista insuficiente abraçada à superlotação do aeroporto, por exemplo), a indignação abandona o foro íntimo, ganha corpo e chega a ocupar as atenções da mídia e de algumas autoridades, mas só por algum tempo. Logo depois, volta ao seu leito normal.

É o que se espera de uma indignação tornada inócua por se tratar sempre de uma impostura. Pois ela não é movida coletivamente por uma reação ao evento trágico e sim pela inércia individualizada de hábitos cristalizados. Pode até se agrupar, momentânea ou permanentemente, mas jamais consegue infletir sobre o que sempre escapa, os destinos. Ela não toma forma de uma representação conseqüente, antes se estilhaça no momento mesmo de se manifestar. Ou fica confinada a alguns testemunhos mais exaltados, ou se derrama em lágrimas das pessoas próximas às vítimas, exatamente as menos indicadas para expressar a indignação que deveria ser uma ação política.

Trata-se de uma impostura pois os mesmos poderes que guardam a revolta trancada em camadas espessas, canais obstruídos e mistificação em massa se apressam em selecionar as manifestações que vão desaguar na vala comum. Desagregada pela falta de um sistema democrático verdadeiro, que paire acima dos interesses que mudam o batismo de aeroportos para atender dores repentinas (como aconteceu com o Dois de Julho em Salvador), a indignação permanece atônita, diante da sua própria inoperância.

As fantasias costumam assenhorar-se do espaço vazio deixado pela revolta que roda sobre si mesma. Uma delas é o desejo latente da “volta” da ditadura, como se na ditadura não estivéssemos ainda. O mito de que nos libertamos dos opressores é talvez a verdadeira tragédia nacional. Entronizamos um simulacro de democracia para nos servir de álibi para a saudade do arbítrio, que teria o dom salvacionista para o desamparo. Que democracia é esta? costuma perguntar a indignação tornada uma impostura.

Num país onde são enterrados com honras nacionais os impostores que derrubaram um governo duas vezes consagrado nas urnas (o de João Goulart, nas eleições presidenciais e no plebiscito), sem que nesses funerais tardios nenhuma autoridade se manifeste contra a manipulação da opinião pública e a malversação dos poderes, convivemos com a ausência completa de oposição. E não temos oposição porque a indignação é um simulacro, é uma certeza de que é inócua, é apenas um desabafo da hora, um abraçar entre lágrimas, um dedo em riste, algumas palavras inspiradas na sabedoria de ocasião e no descrédito de que somos realmente uma nação.

Tudo o que realmente importa faz parte apenas de um sistema de perigosas superficialidades: disputa de butins, privatizações, corrupção, ineficiência, especialmente a teórica. Não estamos acostumados a pensar o Brasil com o espírito público que formou a grande nação e que poderia evitar o ambiente sinistro de tragédia permanente, pública ou privada, de responsabilidade ou não do governo. Costumamos culpar ou mitificar o passado para cristalizarmos o álibi do imobilismo.

Abrimos mão inclusive do épico, já que fomos reduzidos à tragicomédia. Não temos mais os gestos que fazem parar o tempo e redirecionar a História. Nossa cultura é a da migalha, do resto. Somos uma fagulha no chão abandonado e coberto de combustível.


RETORNO - Imagem de hoje: Favelão na Via Dutra, vista pelo lado direito de quem chega a São Paulo. Foto de Helcio Toth. Se a indignação não fosse uma impostura, não teríamos um espetáculo desse porte e visibilidade. Teríamos bairros decentes.

25 de julho de 2007

O HOLOCAUSTO DO PSICOPATA MEL GIBSON


Psicopata é uma pessoa doente e perversa, que não sente culpa pelos seus crimes. Mel Gibson se enquadra nesse perfil. Seu filme Apocalypto é fruto dessa mente que deveria receber tratamento e não Oscar. Para justificar a destruição das civilizações da América pré-colombiana, ele usou de um expediente torpe: apresentou os maias como um império voltado para o aniquilamento em massa dos outros povos. Como eram totalmente culpados, segundo a versão cretina de Gibson, então se justifica todo o massacre promovido primeiro pelos espanhóis e depois pelo resto da Europa. O México é o que é hoje porque tem culpa no cartório. Merece ou não o internamento um sujeito desses?

O mais nojento do filme é mostrar as pirâmides como se fossem carros alegóricos fake para sacrifícios humanos e a fantástica capital Tenotchitlan como um monturo de carnificinas variadas. Fantasiados de monstros, os sacerdotes daquele mundo perdido se dedicam às mais diversas crueldades. As cenas foram tomadas emprestadas dos espetáculo romanos filmados na Itália, a deterioração dos clássicos bíblicos de Hollywood promovidos pela Cinecittá..

Aliás, Gibson chupa o tempo todo. A seqüência da manipulação do eclipse pelos sacerdotes é totalmente chupada de um filme egípcio que eu vi e não lembro agora o nome. O sangue que pinga do alto é copiado de Rio Bravo, de Howard Hwaks. A cena dos cadáveres amontoados é mistura de filme do Holocausto judeu com a clássica cena de E o vento levou, em que a câmara afasta e mostra o quadro dantesco das vítimas da guerras. E por aí vai.

No fundo, Apocalypto é idêntico aos filmes que Gibson protagonizou, como Máquina Mortífera, em que uma correria pontuada de assassinatos resume toda a ação. Há ainda a relação incestuosa entre o algoz e a vítima, uma insistência para justificar a morte horrenda que o algoz sofre numa armadilha para pegar paca. As cenas iniciais que mostram os povos da floresta em harmonia social e com o ambiente é de uma cretinice sem par. Os “índios” são grosseiros, brutos e viúvem implicando uns com os outros. Suas lendas têm ligações com o fundamentalismo cristão, como a serpente como fonte do pecado do saber. É tudo armação, a partir inclusive do dialeto usado no filme. É o selo de “autenticidade” de Gibson, como se ele estivesse falando de algo “real”.

Nada é real na percepção medíocre e perversa de Mel Gibson. Ele faz parte de uma linhagem de cineastas psicopatas como Tarantino e Scorsese. Basta ver Gibson dando entrevista. Ele faz as mesmas expressões quando interpretava um policial suicida e homicida em Máquina Mortífera. Levanta as sobrancellhas enquanto arregala os olhos e torce a boca como se estivesse proferindo sabedorias ocultas que só ele tem acesso. Apareceu num documentário recentemente com uma barba de sacerdote pagão. É o que ele é: um sacerdote do Mal, a inocular veneno pelas mídias afora.

23 de julho de 2007

O VÔO DA CHINA IMPERIAL


A China sempre foi uma ditadura, desde as antigas dinastias, passando pelo poder absoluto do comunismo de Mao e desaguando no atual regime dos mandarins globais. A China infesta o mundo de quinquilharias enquanto vendem uma auto-imagem de nobreza eugênica poderosa, especialmente no cinema. A partir de "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee, em que os guerreiros voam, o cinema chinês saiu, pela mão do cineasta Zhang Yimou, do seu humanismo memorialista (Lanternas Vermelhas), socialista (Nenhum a menos) e partiu para o superespetáculo da auto-estima imperial.

Herói, O Clã das Adagas Voadoras e A Maldição da Flor Dourada são o que a China quer de nós. São filmes que seqüestram nossa percepção para o poder absoluto da nação que quer dominar o mundo. Para isso, se serve do talento dos seus cineastas e a parceria com seus asseclas americanos (o entusiasmo do bastardo Tarantino pelas artes marciais é típica). Invadem a mente mundial com o perfil de um país coeso, que emana de uma única fonte de poder: sua História, vendida como absoluta, quando não passa de uma representação comercial. Brilhante, assombrosa, exatamente por isso, pelos seus objetivos inconfessáveis.

A China não se mistura, se alia para tomar conta de mentes e mercados. Você vê alguém não chinês num filme chinês? Não estou falando dos filmes de Hong Kong ou Taiwan, mas esses promovidos pela China Imperial. Os desertos intermináveis, as florestas imaginárias, as multidões de soldados com suas bandeiras coloridas esvoaçantes (herança de Kurosawa em Ran) , os megafilmes de Yimou são uma colagem de grandes cineastas (especialmente as inúmeras versões dos mesmos eventos, como em Rashomon, também de Kurosawa). É preciso que haja muitas camadas narrativas para que não se descubra o núcleo, que está vazio.

Um vazio preenchido pelos vestidos vermelhos entre folhas outonais douradas ou pulos estéticos sobre lagos em Herói, pelo sangue sobre a neve ou pela impressionante seqüência da luta no bambuzal em Adagas Voadoras. É isso que Yimou espera que fique retido na retina dos espectadores, conforme confessa no making of. Seu álibi é o cenário, mas seu crime é justificar a expansão chinesa pelos quatro cantos do mundo. O recado é direto: uma nação una, única, não contaminada (eugênica), poderosa, com mais tempo de História que qualquer outra, merece mandar no mundo.

Mas Zhang Yimou, cineasta de primeira grandeza, autor de inúmeras obras-primas, continua sua trajetória com O longo Caminho ou Happy Days. O fôlego monstruoso do seu cinema é um feito pessoal, individual e não pode ter seu crédito repassado para o mando imperial da nação chinesa. Ele se prestou ao serviço, mas não interrompeu sua trajetória de encantar o mundo com o poder de suas imagens. Pudera Yimou ficar no que chamam drama e jamais ter partido para o que chamam de ação. Mas há ação em seus filmes pessoais e dramáticos, e drama demais em seus filmes de ação.

Dividir o cinema em gêneros é sinal de pobreza teórica, impunemente repetida desde os chefões de Hollywood até a prateleira da locadora de dvds. Sumiu, por exemplo, o gênero policial, o mais clássico de todos. Você tem o suspense, que se confunde com terror, mas não tem mais o bom e velho policial. Talvez porque os crimes não sejam mais localizados e não haja mais anti-heróis que, no fundo, são personagens éticos, como os detetives durões. A brutalidade tomou conta do mundo e uma das formas de mascará-la é transcender a invasão com um show de cores e formas nas telas.


A China coloca na roda o sonho que devemos ter com ela. A China mesmo não tem essa auto-imagem. O que conta é o que eles querem repassar: um imaginário triunfante, que mistura Shakespeare, blockbuster e Kurosawa, numa maçaroca pós poderna de tirar o fôlego dos espectadores e de confundir as crítica. Não podemos simplesmente malhar Yimou ou ignorá-lo. O lance foi perfeito: pegaram o melhor para nos seduzir. Mas nós, prisioneiros do país continental, sabemos de cór esse tipo de manha. Quem deveria voar somos nós, os inventores do avião a partir das lições da natureza. E não os chineses, que navegam bambus como se estivessem na casa da sogra.

22 de julho de 2007

TEXTO ESCLARECEDOR SOBRE A CRISE AÉREA




Reproduzo aqui, contrariando o que sempre faço no Diário da Fonte (99,9% de textos exclusivos) o texto que acabo de ler na edição dominical do Diário Catarinense. Quero compartilhar estas revelações da reportagem de Carolina Bahia.


"UM SETOR SEM COMANDO


Carolina Bahia
/Brasília

A disputa pelo poder e um processo de descentralização mal-estruturado estão na raiz da crise aérea que destroçou famílias brasileiras na última semana.

Criado no governo Fernando Henrique Cardoso, com a formação do Ministério da Defesa, o novo modelo de gestão saiu mesmo do papel sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi no gabinete do então todo-poderoso José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, que o perfil da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) recebeu os últimos retoques. O que seria o golpe na militarização do setor aéreo do Brasil resultou em uma estrutura sem comando.

- Há uma crise de gestão. Falta organicidade. O setor é hoje um monstro de três cabeças - reconhece o ex-ministro da Aeronáutica, brigadeiro Mauro Gandra.

Até 1999, as decisões sobre os rumos do setor aéreo estavam centralizadas no Ministério da Aeronáutica. Ao criar o Ministério da Defesa - e extinguir as pastas militares - , o governo FH dividiu as competências entre Infraero, Aeronáutica e o antigo Departamento Nacional de Aviação Civil (DAC), sob o guarda-chuva da nova pasta. Por trás dessa mudança, no entanto, se instaurou uma briga pelo poder.

A caserna relutava em abrir mão do controle aéreo. Até o Ministério dos Transportes articulava para ficar responsável pela coordenação integral do setor. À época, a pressão foi tanta que a principal inovação do programa, a criação da Anac, uma agência reguladora que seria o novo canal de contato com as companhias aéreas, foi para a geladeira do Congresso. A Anac engoliria o DAC, um órgão da Aeronáutica, e teria independência administrativa e receita própria.

- Não podemos aceitar isso - dizia o então diretor-geral do DAC, brigadeiro Jorge Godinho Nery, hoje assessor especial do ministro da Defesa, Waldir Pires.

Interesses políticos prejudicam gestão

O impasse, porém, não resistiu à crise financeira que se abateu sobre as companhias no início do governo Lula. À frente das negociações - que incluíam até uma saída para a derrocada da Varig - , o então ministro José Dirceu via no desenho da Anac um instrumento para a organização do setor. O problema é que a agência, além de sofrer resistência dos militares, já nasceu com vícios: em vez de se tornar um órgão genuinamente técnico, serviu a interesses políticos. Na direção, remanescentes da equipe de Dirceu. A presidência ficou com Milton Zuanazzi, homem de confiança de Dilma Rousseff, que assumiu o lugar de Dirceu.

- Um dos problemas da gestão pública é a excessiva influência política na designação dos dirigentes. Neste caso, foram designados para um órgão importante pessoas indicadas por critérios partidários, e não pela competência técnica - observa João Paulo Peixoto, professor de Política e Administração Pública da Universidade de Brasília (UnB).

Também a Infraero entrou na conta da distribuição de cargos, beneficiando os aliados da hora. Dentro do setor privado, as críticas se multiplicam. Empresários ligados às companhias aéreas reclamam que há 20 anos não existe um plano nacional para o setor, nem mesmo para orientar a construção de aeroportos. A estatal acabou virando um foco de denúncias no Tribunal de Contas da União, onde mais de 70 processos de irregularidades aguardam análise.

- A Infraero constrói o que ela quer e dá mais atenção às áreas de shopping do que às pistas - reclama um ex-dirigente da Varig.

Sobram também críticas do setor privado para a Aeronáutica, especialmente no episódio dos controladores de vôo, que são subordinados à Força. Depois do acidente da Gol, ameaças de greve e motins colocaram os aeroportos brasileiros em estado de alerta permanente.

- A crise dos controladores está inserida numa crise geral. E quem deveria estar conduzindo o processo, dando um rumo para todas essas falhas, é o Ministério da Defesa - alerta o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção ao Vôo, Jorge Carlos Botelho.

(carolina.bahia@zerohora.com.br)"

RETORNO - Imagem de hoje: foto de Helcio Toth.

21 de julho de 2007

A DITADURA APROVEITA O LUTO


Lula teve que se explicar em rede nacional e ainda foi obrigado a anunciar uma série de medidas tardias para o apagão aéreo. Foi forçado a isso pois seu anão moral, o microscópico Marco Aurélio Garcia, fez um explícito top top top, ao melhor estilo Fradinho, do Henfil, quando soube que um problema mecânico tinha sido a causa do acidente em Congonhas e não, acreditou ele, o governo. Se não foi o governo, então por que o governo anunciou as medidas? Soubemos também que as autoridades aeronáuticas que estão no poder em toda esta crise foram condecoradas pelo vice-presidente José de Alencar, o rei da toalha quente, que definiu o gesto do anão Garcia como infeliz.

Infeliz é a nação, não só por amargar este governo, mas por voltar a ser refém da direita, que está com tudo e não está prosa. A morte de ACM mostra o quanto a ditadura civil está no auge. Todos caíram de elogios a ACM, o homem que ajudou no golpe de 1964, que foi ministro e governador da ditadura, que foi co-fundador da ditadura civil junto com José Sarney. Todos se desmancham em elogios. E na televisão, o “povo” lamenta a morte do pai da Bahia. Com devido respeito aos mortos, é possível fazer pelo menos uma, uma só, crítica ao que foi vivo e ficou por 40 anos prejudicando o país?

Por ser culpado, e por ter sido identificado com a esquerda por um certo tempo, o governo entrega o país nos braços do reacionarismo mais explícito, agora sintonizado com a “indignação” diante da má gestão petista. A culpa, claro, é da esquerda, dirão. Precisamos da direita de novo, vamos elegê-la. Será a vez de mais ditadura, e de forma mais explícita. Talvez nem com o dourado do PSDB, mas algo troglodita mesmo, ou então alguém de punhos de renda que use luvas de chumbo. Vai saber.

Enquanto isso, os aviões continuam enfrentando as mesmas dificuldades, pois os aeroportos são os mesmos, a falta de manutenção é a mesma, as autoridades, agora condecoradas, continuam firmes. Esperam que não haja tão cedo outro acidente, mas como não haver se a pista molhada continua dando problemas, se os aviões continuam arremetendo, se os reversores são problema recorrente? Claro que a idéia é privatizar a Infraero e o controle de vôo. Deixar de investir para sucatear e desmoralizar, morra quem morrer. E aí abocanhar o butim. O objetivo é acabar com todo o patrimônio do Brasil Soberano.

É top top top na nação, que foi convidada a relaxar e gozar com a crise aérea. Os anões morais tomaram conta do país desde 1964. Continuam no poder. É tocante a cena de Sarney aos prantos chorando a morte do ultrareacionário pai da Bahia. ACM foi o homem que definiu a continuidade do monopólio global depois do período militar da ditadura. O cara que impediu que as concessões de televisão, quando era ministro das Comunicações, fossem para mãos progressistas.

O luto em plena ditadura, que aproveita a dor coletiva para firmar-se mais ainda.

20 de julho de 2007

A FALTA QUE FAZ A VARIG





Esta é uma foto antológica de Marcelo Min, síntese de todo o cinema noir e, de quebra, do cinema que se faz hoje inspirado nos grandes filmes policiais do passado. Foto de vanguarda, com elementos de graphic novel. Foto de denúncia, que vale por dez mil reportagens. O clima sinistro do país entregue aos assassinos. O que faz a dupla de detetives embaixo do guarda-chuva? Eles estão mudos diante da tragédia, exaustos de saber os motivos de tanto crime. Foto viajante, plasticamente soberba e, por ser perfeita, histórica.

Para acompanhar esta foto, coloco o texto de Clovis Heberle sobre o acidente de Congonhas (atenção, o texto abaixo é Clovis Heberle, que voltou do Rio para Porto Alegre, de avião, depois do acidente):


"A suspeita de que o Airbus A320 tinha problemas, detectados há quatro dias, no reversor - e esta poderia ser a causa do acidente em Congonhas, desnuda outro vilão nesta crise aérea onde o que não falta são vilões. Eu me lembro que a velha Varig mantinha uma bem montada e operada "oficina mecânica" para fazer as revisões e eventuais consertos dos aviões da empresa. Funciona até hoje em Porto Alegre, e prestava serviços também para outras empresas.

A Gol fez diferente: só opera com aviões novos, para não gastar com manutenção (como aqueles caras que trocam de carro todo o ano para não ter nem que trocar pneus). Me parece que a TAM ficou no meio do caminho. Mantém em sua frota vários Fokker, apesar de todos os problemas que já causaram (casualmente o mais grave deles, a queda em Congonhas, também por causa do reversor), e tira o maior proveito possível de cada um dos seus aparelhos para conseguir atender ao aumento da demanda causado pela quebra da Varig.

O vôo 3054 estava com todos os lugares lotados, e isto é normal. Falta avião para tanto passageiro. E aquele defeitinho constatado há quatro dias no aparelho acidentado não foi considerado grave o suficiente para tirá-lo por alguns dias da escala. Não há tempo - nem dinheiro - a perder.

Enquanto isso...impressionado com o acidente em Congonhas, liguei para a Itapemirim/Penha para saber de horários e preço do ônibus-leito do Rio para Porto Alegre. Resposta: não tem leito, só o ônibus comum. A 206 reais, pelo menos 25 horas de viagem. Melhor correr todos os riscos e continuar usando avião. Viemos num vôo direto, de duas horas, a 300 reais."

19 de julho de 2007

A MITOLOGIA IMPERIAL DO VÍCIO


Miami é o excesso da América e precisa de uma intervenção cirúrgica. Vamos definir esse excesso e essa cirurgia, conforme nos narra o filme Miami Vice, de Michael Mann, e à luz do livro de Roland Barthes, Mitologias (1957). A América, terra de migrantes e de oportunidades, paga o preço por ser aberta e democrática e torna-se em Miami uma aberração, uma doença provocada pela distorção quantificada ao infinito das suas qualidades. A riqueza ali é sintoma dessa fraqueza moral que define o vício de Miami. É a culpa localizada como enfermidade do Império que se arvora a ser o juiz do mundo.

Esse excesso de recursos, lazer, dólares, luxos e paisagens não faz parte da América virtuosa, mas sim da soma dos defeitos da outra América, a falsa, a mentirosa, sensual, anárquica, a Latina. Miami foi dominada por cubanos, brasileiros, guatemaltecos, paraguaios. Esse é o mal que corrói a borda do Império. Miami é o centro demiúrgico de um furúnculo, alimentado pela podridão dos povos desqualificados do Terceiro Mundo hispânico situado do mar do Caribe para baixo.

Por estar localizada, tanto na capital desse Mal, que é Miami, quanto nas suas alimentadoras - Ciudad del Leste, no Paraguai, República Dominicana e Montevidéu, as locações “exóticas” (segundo o diretor) que “não estão no mapa” (segundo o ator Jamie Foxx) – é preciso uma operação cirúrgica globalizada, que seja a soma de agências de repressão do Império, que utilizam o meio mais identificável da natureza dos inimigos: a manha, a mentira, a falsa identidade. O truque é fingir-se de traficante para poder localizar o centro nevrálgico da doença, a fonte de suas emanações que contaminam a pureza americana.

Claro que nem sequer é citado que todo o poder dos traficantes vem do consumo da droga e não da sua produção e venda. Mas isso seria reconhecer que o problema é deles, e não do lado de cá. A dupla de detetives, um ator negro e outro irlandês, são a síntese da América inclusiva, que pode sobreviver e crescer com elementos fora de suas origens, desde que a serviço de seus interesses. Eles se disfarçam para conhecer o rosto do Mal, pessoas com nomes hispânicos como José Yero ou Jesus Montoya.


O que revela suas identidades é a própria eficiência: eles são bons demais no que fazem, transportar droga do Terceiro para o Primeiro Mundo, portanto não podem ser confiáveis. É preciso que sejam incompetentes, pelo menos um pouco, para que haja conforto nesse mundo que no Paraguai joga toneladas de embalagens de isopor na rua, a denunciar a falta de lei de terras sem História, fora da Ordem Mundial. Nesse reduto paraguaio, surge a figura de Gong Li no papel da chinesa administradora do dinheiro do cartel e que, claro, cai nas graças do machão irlandês-americano. Para isso servem as mulheres da periferia do mundo: para serem repasto da potência viril dos imperiais.


Toda essa avalanche de mistificações transforma o filme num modelo clássico de manipulação de consciências. Os espectadores brasileiros se identificam com os detetives e elogiam o roteiro bem feito, as interpretações seguras, a aventura e a ação. Mas o que deve ficar claro é a composição perversa de mitos de alienação e dominação. Os heróis são modelos de virtude, ou seja, de força física modelada por corpos cevados na correção aeróbica. Ao contrário dos vilões, que expõem a força bruta de corpos disformes e tatuados, ou a nefasta aparência de intelectuais decaídos, como é o caso de Yero e Montoya, que permanecem sentados a maior parte do tempo.

O Bem corre, se movimenta, age. O Mal aguarda, corrompe e mata. É assim que se faz cinema no coração do Império. Cinema, essa arte estratégica que substitui ou prepara a guerra. O Império já caluniou a Tríplice Fronteira de Ciudad del Leste dizendo que lá se escondem terroristas da Al Qaeda. O filme Miami Vice, que custou assombrosos 135 milhões de dólares (não há limites para financiar a política imperial) simplesmente justifica uma intervenção ao colocar o Paraguai como o centro irradiador de um capitalismo doentio, fundado nas imitações e nas drogas, e não como vítima geográfica da corrupção que vem de cima.

Uma das bandeiras mais explícitas do filme é colocar Havana como parte do estado americano de Lousiana, aliás como acontecia no século 18. “Recuperar” Havana e derrotar o tráfico por meio da inteligência e da tecnologia são os verbos desse filme perverso que merece repúdio.

RETORNO - Imagens de hoje: Jamie Foxx e Colin Farrel na foto maior, Farrel e Gong Li na seguinte e John Ortiz e Luis Tovar na de baixo.

A LÓGICA PERVERSA




Estar sempre com a razão, mesmo que os fatos contrariem as opiniões mais contundentes (que deveriam ser jogadas no lixo imediatamente depois que forem desmoralizadas), é fruto da lógica perversa que tudo concede a assinaturas notórias da mídia impressa e virtual. Para dar certo, é preciso que essa lógica perversa faça parte de um truque vistoso: muda-se o foco dos fatos para o território denso do consenso pretensamente racional. Mas, cuidado: essa mutação precisa de respiradouros, pois é fácil para o leitor compreender que está sendo vítima de uma rasteira, então ele precisa ser distraído com algumas firulas que adquirem credibilidade pela repetição.

Na política econômica vimos como os sucessivos planos, e agora o atual arrocho, foram e são considerados algo irreversível. Só os tontos não entendem que não há saída, não há salvação fora da dependência absoluta. Como são elegantes os textos de economia, em que a lógica perversa nos carrega para o terreno virtual do raciocínio imbatível, onde a conexão entre eventos absurdos ganham status de maioridade mental. Por exemplo: precisamos exportar proteínas para conseguirmos dólares, que serão pagos (ou devolvidos) nos juros da dívida externa. Esse dólar consignado chama-se divisas. Para a carência interna de proteínas, faça-se planos emergenciais de esmolas.

Como a brutalidade dessa política cerca o país por todos os lados, é preciso acenar com algumas lantejoulas do maucaratismo com ares de erudição. “Círculo virtuoso”, por exemplo, eis uma boa firula que serve para dourar a pílula. Existem também tiradas bem nutridas como “não existe almoço grátis”, brandida como verdade absoluta e que faz parte da tautologia imperante, a mesma que entronizou máximas como “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.

No futebol temos vítimas de sobra da lógica perversa. A seleção brasileira, por exemplo, está sempre errada. É preciso que jogadores não consensuais, como Maicon, Juan, Julio Batista, Josué, Doni, ou seja, quase todo o time, fique fora. O que deve entrar seria uma espécie de memória seletiva de vitórias anteriores, algo como o futebol arte com eficiência do futebol força, uma hidra que misture Didi com algum Ronaldo. O técnico está sempre errado. O Luxemburgo é burro, o Dunga é tosco, o Felipão é bruto, o Zagalo é prepotente. Só o analista é civilizado, fino, clarividente, eficiente.

Como os sucessivos títulos da seleção brasileira acabam desmentindo tamanha má-vontade embalada em crítica da razão pura, é preciso que o território virtual da lógica perversa se encha de engrenagens mirabolantes, incontestáveis. Ser prudente é jogar na retranca é uma delas. Ganhar da Argentina na final é puro resultado do contra-ataque é outra. Ou: os volantes só servem para dar pontapés. Mas quando vemos esses virtuoses violinistas do futebol total que são os argentinos caírem feito um saco de batatas diante da superioridade da cultura acumulada do futebol brasileiro, é preciso que a lógica perversa invente alguns respiradouros.

Um deles são os famosos deuses dos estádios. É incrível que pessoas tão racionais invoquem deuses pagãos inventados. Como se a seleção brasileira fosse manipulada por entidades fantasmagóricas, gigantescas, que decidem resultados e isso livraria a cara dos que sempre erram, mas sempre querem estar com a razão. Teve gente que disse, antes da final, que se o Brasil ganhasse a Copa América, então esse evento estaria desmoralizado. Ou seja, a realidade é uma coisa incômoda para a lógica perversa, que apesar de ser contrariada todos os dias, continua firme, impune, imponente.

O importante é colorir o lugar-comum das idéias com a vestimenta invisível de uma credibilidade que há muito foi para o ralo. Uma das cores mais intensas é o pensamento politicamente correto. Como existe corrupção na cartolagem e nos negócios do futebol, então a seleção canarinho é suspeita. Mas se argumentarmos que se o Trotski fosse o técnico, e recebesse um não de Kaká ou Kuku, ele convocaria o time que foi para a Venezuela, isso seria encarado como algo fora de propósito. Pessoas íntegras não admitem que a CBF também pega carona numa criatura chamada futebol pentacampeão do mundo, fruto de décadas de esforço de uma nação que sonha com sua soberania plena.

Mas não defenda essas coisas por aí. Será olhado de maneira torta. O dólar despenca por excesso de oferta no país que remunera a especulação da pirataria internacional. Contra isso não há remédio. Agora vêm as eliminatórias, da Copa. A Argentina, enfrentando times inferiores, vai brilhar no início. Vai ser um deus-nos-acuda. Que craques, que coisa! Vejam o Tevez, dando uma saraivada de pontapés enquanto morde a língua a exemplo dos loucos da Idade Média. Que portento, que talento. E como somos decadentes com nossos Maicon, Julio Batista, Juan. Como estamos sempre errados diante da lógica perversa que, como a política econômica que entrega o país, não dá mostras de querer tirar o time de campo. Será preciso expulsá-las?

RETORNO - Imagem de hoje: Rescaldo, de Helcio Toth. 2. Este texto foi publicado na seção Literario do Comunique-se.

18 de julho de 2007

SOMOS NOSSOS PRÓPRIOS TERRORISTAS


Foi difícil chegar ao objetivo do atentado, mas no fim deu tudo certo. Primeiro, sucatearam o sistema empresarial das companhias aéreas, destruindo Varig, Vasp, Transbrasil, o que nos remete ao primeiro grande tombo, o da Panair do Brasil, logo depois de 1964. Concentraram tudo nas mãos de duas megaempresas, Tam e Gol, sendo que esta última surgiu do nada e se assenhorou de quase todo o espaço disponível. Também se encarregaram de encher os aeroportos de sempre (não fizeram novos) com muitos serviços de shopping center. Fizeram questão de gerar uma série de problemas de corrupção nos encarregados da infraestrutura dos aeroportos.

Deixaram para lá a qualidade das pistas, que de tanto uso, cederam. Não contentes, fizeram remendos e concentraram grande número de vôos no aeroporto situado bem no miolo da megalópole. Para coroar, não modernizaram o sistema de controle de vôo e entraram em conflito com as pessoas que ficam em frente a uma tela decidindo vidas, em troca de módicas quantias salariais. O confronto dura meses, fazendo com que os aeroportos, para onde deságuam todos os equívocos do sistema de transportes, virassem ambientes infernais. Tudo isso apoiado pela destruição das ferrovias e o abandono das estradas de rodagem.

O atentado foi minuciosamente planejado. Era preciso que Congonhas ficasse superlotado, que a nova pista não segurasse o pouso em dias de chuva e que tudo caísse nos ombros de pilotos e controladores de vôo. Depois de providenciarem cada detalhe, era só esperar o dia certo. Houve alguns treinamentos. No dia anterior, um avião da Pantanal deu uma derrapada na pista e caiu de nariz na grama. Era o prenúncio de que o plano daria certo. Agora era mirar o avião para a avenida lotada em horário de pico, para o edifício onde os funcionários da Tam ficam 24 horas despachando encomendas. Bastava um bom vôo cheio de passageiros, um pouso problemático, uma chuva torrencial e pronto: eis que o plano terrorista deu certo. Centenas de mortos.

Não precisamos de Bin Laden nem de outros estrategistas do terror. Nós mesmos nos encarregamos disso. Cuidamos para que todos os dias a nação imóvel, espelhada na mídia, se queixe das condições dos aeroportos. Depois da tragédia, basta convocar os especialistas de sempre para fazer o rescaldo, enquanto o desespero dos parentes bate na amurada granítica da indiferença e da incompetência. Fosse eu o presidente da República, invadia a Tam e liberava a lista de passageiros no primeiro minuto depois do acidente. Mas não é momento para a ação, mas sim para a “força-tarefa”.

A cara de boi compungido das autoridades faz doer de indignação quem assiste o espetáculo. Serra falando pomposamente em mil graus dentro do avião em chamas é de chorar. O que foi fazer lá? Soube também que o presidente se reuniu com sua ministra e determinou não sei o quê. Isso faz parte do plano: estamos mobilizados para definir discursos que servem como emplastros fitoterápicos em cima da chaga vertendo sangue da nação em pânico. Por que? Porque se acostumaram a ficar impunes. Estão determinados a acabar conosco. Porque deixamos que eles sejam assim.

Fazemos parte do plano terrorista. Nós ficamos ao redor das vítimas e seus parentes e lamentamos muito (é a chance de mais “beijos no coração”). Como somos emocionais e corretos! E como levantamos nossos dedinhos em riste para essa corja que gargalha diante de nós, que não passamos de um rebanho de bestas que pastam infinitamente em direção ao matadouro. A todo momento, à medida em que nos conformamos e nada fazemos, reforçamos os planos terroristas para destruir o que resta do país. E devemos ficar como a cara do apresentador global, fulo com esse evento sinistro bem no miolo da festa do Pan.

Era uma noite para celebrar o ouro que enfim chegava. Os jornalistas maquiados, a felicidade da auto-promoção triunfante da mídia sempre pronta a pegar carona com o que temos de melhor, viu-se a braços com o luto, a dor, a ignomínia. Era a realidade, a forçar o jornalismo de verdade, e a dar um chega para lá ao marketing. Os fatos se impunham na sala do país em horário nobre. Que pena, não dá mais para ficar escolhendo os mais saradões do Pan, as mais gostosas, as mais disponíveis, sem que um gosto amargo de morte se interponha em cada passagem dos repórteres.

Gastar três bilhões no Pan faz parte do plano terrorista. Muito dessa bufunfa foi para dizer que estamos felizes, como sempre. Não estamos. A cidadania entra num avião e não sai viva. Somos nossos próprios terroristas.


RETORNO - Imagem de hoje: foto no local do acidente da Tam em Congonhas, por Marcelo Min.

17 de julho de 2007

OVERDOSE DE PETECA DE PRAIA



Tudo o que é proibido no futebol virou modalidade esportiva. Vamos imaginar que você seja um argentino. Acha que nasceu para a coisa, saltou da mamãe já com a faixa de campeones del mundo atravessada no peito e recebe um toco da seleção brasileira nas fuças de todo mundo. É claro que você vai fazer igual ao Tosco Tevez na final, vai dar uma saraivada de pontapés no adversário que levou a melhor na jogada. Pois isso no Pan é o Taekwondo.

Nada contra o rapaz que virou celebridade, o ouro (que ficou por um tempo solitário) na luta aos pontapés inventada pelos coreanos, mas eu bem que gostaria que a televisão gastasse alguns segundos para entrevistar um dos medalhistas de ouro dos Estados Unidos. Não, pegaram o pobre do lutador e o massacraram com milhões de entrevistas. E aí, como é que você se sente sentindo o sentimento dos sentidos? "Foi um dia de muito glamour", respondeu o Hércules.

A TV mostrou mas não disse que levamos um baile de 14 a dois da República Dominicana no beisebol. Soube pelo jornal, por acaso. O beisebol é um espanto. É um jogo em que os americanos agarram com todas as forças o pau que eles não possuem e gostam de meter no mundo e rebatem uma bolinha minúscula, que cruza os estádios. Aí eles ficam rodopiando num troço chamado base e acham isso uma coisa extraordinária. Experimente, num jogo de futebol, bater a bola com um taco e depois ficar rodopiando na área para ver se você faz ponto. É proibido. Virou, portanto, modalidade esportiva.

Outra coisa impressionante é o Badminton. Parece jogo inventado pelos caçadores de borboletas. Uns marmanjos seguram uma raquete de tênis para rebater uma peteca, que deve saltar uma rede de vôlei. Dizem que tem dois mil anos e é um dos esportes mais praticados no mundo. Duvido. Mas como não sei nada de coisa nenhuma, então deve ser. Nunca vi ninguém batendo raquete de tênis em peteca achando que está jogando vôlei. Também nunca vi ninguém atirando a bola com raquete num campo de futebol. Não deixam.

Se, por exemplo, como aconteceu numa partida na Venezuela, o estádio fica sem luz, não vá querer improvisar um vôlei de praia, colocar umas gostosas se esfalfando para disputar alguma coisa. É proibido, o futebol não deixa, mesmo nos intervalos. É por isso que o vôlei de praia, o esporte mais próximo do Hors Concours, o guspe (lá em Uruguaiana, nos anos 50, não era cuspe, era guspe) à distância, virou modalidade esportiva. O que era feito exatamente para se distrair de um jogo sério como o futebol virou coisa.

Acredito que os chambões em futebol, os caras que nunca decidiram uma partida nos pênaltis, como aconteceu comigo num torneio por mais de uma vez, ou que não fez um gol no ângulo ao pegar a sobra de uma disputa braba na área, como também aconteceu comigo numa aula de educação física, ou seja, aqueles caras que jamais conseguiram dominar uma bola como o Abeguar e o Altamir, craques do Uruguaiana, resolveram inventar todos esses jogos. São ruins de bola, chutam nas canelas e acham que isso pode virar modalidade esportiva.

Tem também as ginastas, que são garotas suicidas que se jogam no abismo. Você vê uns saltos mortais depois de gols feitos numa partida de futebol, mas isso não quer dizer que vá virar briga por medalha. Eu admiro aquela coragem, mas jamais permitiria que alguém próximo a mim se dedicasse com tanta fúria a esse tipo de atividade. Americanas e chinesas parece que adoram. Juízes colonialistas também. Ontem eu vi a Jade ser driblada pelos árbitros. Errou nas barras quando ficou nervosa ao sofrer uma injustiça. O choro é pela injustiça, não por não ter conseguido. É que a ginástica olímpica, ao contrário do guspe à distância, é esporte nobre e deve ser exclusivo do Primeiro Mundo. Só eles podem.


Quem manda ser brasileiro pentacampeão do mundo em futebol. Eles inventaram todas essas bobagens só para nos tirar o brilho de sermos os gigantes do esporte que realmente conta. Ou alguém duvida que o gol do Julio Batista, sem espaço para chutar, que cobriu o goleiro, não é uma obra de arte verdadeira? Quando que uma jogada de handebol, por exemplo, que é outro jogo inventado pelos ressentidos contra o futebol, vai chegar aos pés de um gol desses?

Aliás, o handebol deveria dar cadeia. É uma covardia. Os caras chegam com a bola na mão diante do goleiro e sentam a pua e ainda saem comemorando. Deveriam ser colocados a ferros e levados para a delegacia. Isso na minha rua era punido com surra coletiva.

15 de julho de 2007

DUNGA E OS BRANQUINHAS DE NEVE


A crônica esportiva brasileira é, no fundo, argentina. São todos fãs do Olé, o tablóide sensacionalista dos portenhos. Odeiam a seleção brasileira. Querem ser branquinhos como a neve. Quem vai esquecer a chuva de elogios ao Riquelme, que nesta final era a expressão do desespero? Ele, considerado um virtuose, um cracaço, a coisa mais fofa da mamãe, simplesmente se desmanchava toda vez que ia bater uma falta.

De onde surge esse tremendo equívoco que se repete a cada competição e que serviu para enterrar nosso técnico campeão do mundo, Carlos Alberto Parreira, e que quase fuzilou Felipão em 2002, antes que ele ganhasse a Copa, que encheu o saco do Zagalo em 1970, que a cada amistoso ou campeonato ou torneio vem com a velha cantilena do futebol arte, quando sabemos que arte é fruto de suor e talento? Qual o motivo desse desastre permanente da cobertura esportiva, que usa de todos os truques e artimanhas para incensar a Inglaterra, o Bechkham, o Forlán, o Real Madri e que sei eu mais?

O futebol brasileiro não é Dunga, Parreira, Felipão ou os volantes, cabeças de área ou atacantes. O futebol brasileiro é uma certeza, conquistada ao longo de um século, e que precisa começar do zero a cada competição para conseguir se somar a suas glórias eternas. Ou seja, é uma certeza que se alimenta de dúvidas para se superar. Se transforma assim numa criatura, que é assumida pelos jogadores convocados na hora decisiva. É algo incontestavelmente superior em relação a todos os outros tipos de futebol jogados em todo o mundo. É uma evidência: assim como existem as cataratas do Niágara, que despencam água daquela altura, existe o futebol brasileiro, que ganha a Copa América sem Kaká nem Kuku, mas com ilustres desconhecidos como Doni, Josué, Daniel Alves.

O futebol brasileiro sofre toda vez que precisa começar do zero para se somar às suas glórias. Foi assim sempre, desde 1958, quando mudamos o time no meio do torneio. Em 1962, sem Pelé, instauramos Amarildo e Garrincha brilhou como nunca. Em 1970, tínhamos Felix, Everaldo, Clodoaldo, um monte de dúvidas: será que cumpririam a escrita? Cumpriram. Foi assim nesta Copa América. Dunga trouxe o que achava melhor para vencer e venceu. Três a zero nos virtuoses de araque.

O futebol argentino se acha, ganha antes de ganhar, se prevalece dos cucarachas que os enfrentam, fazem tabelinhas, firulas e deixam molhadinhos os cronistas esportivos brasileiros, tão carentes. É apenas uma correria com precisão de relógio cuco, que se desmonta diante do primeiro rival de verdade. Eles vestem a faixa de campeão na hora de chegar ao local dos jogos. São os grandes pelotudos, os maiorais da cocada preta. Vejam Tosco Tevez aos pontapés, mordendo a língua, à moda dos loucos da Idade Média. É um Quasímodo, uma besta idiotizada. Veja como bateram, chutaram, tão valentões covardes que são.

O futebol brasileiro é outra coisa. Estar sem ângulo e assim mesmo conseguir matar a bola na corrida com o calcanhar, deixando no jeito para seguir a jogada; driblar, só com o movimento do corpo à distância, três zagueiros e colocar no pé do companheiro que chuta de primeira no canto; decidir num milésimo de segundo o chute certeiro e inalcançável. Tudo é obra de arte dessa criatura gloriosa, o futebol brasileiro que tanta alegria nos traz. Obra da seleção brasileira canarinho e não da seleção da CBF, como costumam dizer, pois a CBF é uma entidade que também embarca no que o futebol brasileiro conseguiu ser ao longo de décadas.

Dunga dedicou o título às crianças, à pureza do coração. Foi um brinde à esperança. Contra a desconfiança, ao ódio. Um presente do Brasil soberano ao mundo. Porque todos podem ser o que quiserem, argentinos, ingleses, americanos, franceses. Mas aqui somos brasileiros, do futebol pentacampeão do mundo.


RETORNO - Imagem de hoje: Dunga segundo Mario Alberto.

O OLHAR E O CONCEITO ENQUANTO COISA


A única coisa que dá pé no Brasil é o discurso, a linguagem em ruínas. Fonte de múltiplas granas, o discurso serve para as licitações, as campanhas de marketing e de política, o jornalismo rastaqüera, a narrativa escrita e oral das televisões. Na academia, apesar de tantos trabalhos importantes, o que se destaca é o discurso recorrente e auto-alimentador, que garante preenchimento de vagas, exposição privilegiada e presença garantida em publicações especializadas, além do charme possível de se fazer na mídia.

Dois pilares sustentam a linguagem em ruínas: o olhar e o conceito. O olhar é aquela coisa enquanto viés, entende? Não importa o monte de excremento acumulado, o importante é o olhar sobre a coisa em si. Isso até daria samba se não fôssemos tão brutos. Mas como vivemos na proto-história, toda essa história do olhar é conversa para boi dormir. Quando é alguém como Walter Firmo, que falou do olhar colonizado quando essa palavra, olhar, nem estava na moda (lá pelos anos 80), aí se respeita. Mas quando vira modinha, e centenas de eventos são promovidos para debater o olhar sobre a coisa como um todo, então chega.

O conceito é aquele troço que só se segura enquanto você acredita que esse mundo fajuto que nos governa se baseia em conceitos, entende? O conceito de cabeça de rede no sistema televisivo, entende, está ultrapassada. Mas não é o conceito o foco, é o chuncho, a caixa dois que manipula a coisa. Você tem uma emissora que manda em todas as outras, impõe por exemplo a voz do Faustão para desespero dos lares brasileiros, isso lá é conceito? Isso é sacanagem e com sacanagem não se faz firulas. Para acabar com a mania do conceito só metralhando tudo. Aí vamos ver esse teu olhar sobre tantos conceitos.

O que comanda é a força bruta, a grana preta, a testosterona vencida (a senilidade mental dando as cartas sobre a putaria em todos os níveis da vida pública). Não é o olhar enquanto conceito, entende? Toda a produção literária e acadêmica do nosso tempo é pura perda de tempo se não temos como impedir que um bando de cretinos idiotas manipulem a percepção pública, como acontece em todos os espaços da mídia. Agora você vai se emocionar. Veja como o atleta está contrariado, dá para ver daqui. Você verá tudo isso depois dos comerciais e mais...Ou: e muito. E mais / e muito: haja saco.

Quando, por acaso, conseguimos ler algo que preste, ou ver algo que não é pura perda de tempo, abrem-se as comportas do choro convulso. Não pela emoção que sentimos ao entrar em contato com um autor de verdade, mas porque lamentamos desesperadamente a grande falta de tempo que é a atual vida brasileira. O mais insuportável é saber que isso é exclusivo nosso, que os outros países mantiveram algumas coisas. Eles tem revistas de informação decentes, por exemplo, jornais com credibilidade, canais de televisão com cultura de verdade, cinemas nacionais de ponta, alunos que conseguem estudar. Claro, existe miséria, corrupção, em toda parte do mundo. Mas nós extrapolamos.

O presidente do Senado está sob suspeita e investigação e o Congresso entra em recesso. O presidente é vaiado de maneira brutal e definitiva por uma massa de pessoas que chegam a noventa mil pessoas, vindas de todos os estados, e dizem que é manipulação orquestrada. É bilhão de reais para cá, bilhão para lá. Qual olhar, qual conceito, que poderá peitar essas barbaridades?

RETORNO - 1. Imagem de hoje: foto de Regina Agrella. 2. A Folha deste domingo incensa o golpista Lincoln Gordon, embaixador americano que insuflou o golpe de 1964, e que atualmente escreve suas mentiras em forma de memórias em cima de uma mesa de mogno brasileiro, o que lhe dá saudades do país que ele ajudou a destruir. A matéria dá destaque a algumas declarações bandidas desse artífice da operação Brother Sam, que iria incendiar o país caso houvesse aqui resistência ao golpe. Uma delas diz que Brizola fatalmente seria um ditador de esquerda e que Goulart era fraco para isso, mas tinha admiração por Perón. Lincoln Gordon deu um golpe que colocou nosso país sob pesada ditadura por vinte anos e por mais ditadura a partir de 1985. Para se justificar, acusa as pessoas que prejudicou com seu golpe ditadorial de estado contra um governo legítimo, eleito nas urnas e confirmado por pelebiscito. Além do mais, fica caindo de amores pelo Carlos Lacerda, achando-o brilhante, como acontece hoje em inúmeras reportagens que adoram o Corvo. Quer dizer que a ditadura era do trabalhismo, seu pé-sujo? E não a tua ditadura, que venceu e destruiu o Brasil Soberano?

14 de julho de 2007

VAIA SINFÔNICA NO MARACANÃ



Disse um ministro do governo que a poderosa, densa, insistente, volumosa vaia que o presidente Lula amargou na abertura do Pan foi coisa orquestrada. Então, pelo que podemos ver e ouvir no you tube, foi uma orquestra sinfônica e o maestro é a indignação popular. No momento em que há uma brecha, em que a platéia não é comprada como ocorre nos programas de auditório, em que não existe animador manipulando os gestos coletivos, no momento em que há uma oportunidade de a população se manifestar de maneira unânime, consensual e irreversível, então temos uma pálida noção do que seja um acontecimento realmente sincero, verdadeiro e demolidor.

O Rio de Janeiro é a capital do Brasil Soberano. Foi para eliminar a memória da grandeza do país que a cidade maravilhosa perdeu seu status de capital do país. O Maracanã é obra da era Vargas: gigantesco, soberbo, inesquecível. Palco de grandes manifestações e de grandes frustrações, é lá que o Brasil se encontra, no Rio, caixa de ressonância nacional, como costumava dizer Leonel Brizola. Não se pode negar o repúdio que este governo recebeu ontem na pífia, complicada e ridícula abertura dos jogos.

Abrindo as pernas, Daniela Mercury cantou Cidade Maravilhosa (é mania das cantoras brasileiras atualmente: quando cantam, dão). Cheia de maneirismos, Elza Soares assassinou o Hino Nacional. E a coreografia coletiva foi uma correria sem sentido, tudo orquestrado por um profissional da Disney, que não encontrou aqui o rigor da dança sintonizada, do ensaio bem feito. Além do mais, quem precisa da Disney? Não temos tantos artistas com capacidade de fazer o serviço? Precisamos ser tão colonizados assim? Sim, a ditadura funciona em todos os níveis da vida brasileira.

Depois de sucatearam a Infraero e a Petrobrás, agora é a vez dos Correios. Nunca foram com tanta sede ao pote. São milhares de cangaceiros, saúvas, vampiros, assaltantes que dominam o dinheiro público. Passaram vinte anos denunciando a corrupção e quando tiveram acesso ao butim nele se locupletaram. Merecem mesmo ser vaiados na cara, pegando fundo, fazendo chorar, sem dó nem quartel. Não adianta a televisão amenizar, os jornais acharem que foi uma confusão de protocolo. Foi uma imensa vaia contra o governo traidor do presidente Lula. Por que a imprensa não assume isso? Porque está comprada, claro.

Se fôssemos comparar a vaia a uma sinfonia, escolheríamos as do Beethoven, a quinta ou a nona. Ou mesmo à ópera O Guarani, de Carlos Gomes, que funciona como uma sinfonia, pelo menos para mim, que pouco entendo disso. É um som glorioso que nasce nas catacumbas do talento e da fúria e assoma na vida nacional como um alerta, uma advertência. Nos últimos dias, vi como o monopólio televisivo encheu o saco mostrando as maravilhas do Pan que iria vir. Bastou inaugurar os jogos e já deu problema técnico de iluminação. É tudo marketing. Vejam como as remadoras brasileiras são sincronizadas e sentem saudades dos seus bebês que não vêem há muitos dias. Parem com isso.

A população (não podemos dizer povo, senão nos chamam de populistas) do Maracanã é uma síntese do Brasil. Eu estava representado lá. Isso sim é uma eleição verdadeira: Lula, adeus. Fora, fúúú, chega. Não vá gastar outro bilhão em publicidade para reverter a situação e dizer que você é o rei da cocada preta. Não é. É um presidente traidor, repudiado pelo povo. Sim, povo. Repetindo, como diz o samba: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Soube que o governo descadastrou um milhão de pessoas do Bolsa-Miséria. Claro, o serviço foi feito: a compra de votos. Agora não precisam mais. Só na próxima eleição. Depois falam dos caciques que trocavam voto por dentadura e óculos. Fizeram exatamente a mesma coisa. Búúú. Viva a vaia!


RETORNO - Imagem de hoje: cena de O Guarani, de Carlos Gomes.

13 de julho de 2007

VOCÊ SABIA QUE...

VOCÊ SABIA QUE...

Esse era o título de uma seção da revista Seleções, que aproveito para chamar a atenção sobre algumas coisas:


...o carro elétrico foi fabricado nos anos 90, tinha baterias de última geração que permitiam uma razoável autonomia e poucas horas para abastecer e que ele foi recolhido e destruído? No documentário Quem matou o carro elétrico?(Chris Paine, 2006), as impressionantes revelações que incluem o sucateamento do vasto sistema de bondes elétricos nos Estados Unidos, que foi comprado e destruído pela General Motors. Hoje, ao custo de 150 bilhões de dólares e num prazo de 20 anos, estão reconstruindo o sistema em Los Angeles, que exibia o céu limpo antes do serviço feito pela montadora.




...as cartas de Iwo Jima são fictícias e que a roteirista do filme de Clint Eastwood se baseou num livro escrito 15 anos antes da luta pela posse da ilha japonesa? Antes de ver o filme de Clint, eu não sabia.







...que o filme A Conquista da Honra, sobre a foto de Iwo Jima tem um precedente ilustre, The Outsider, com Tony Curtis, um filme de 1961 em que Clint se baseou fortemente, mas jamais foi citado por ele? Clint é ruim de citação. Disse que preferiu fazer dois filmes, um sobre o lado japonês, outro sobre o americano, ao contrário do que já tinha sido feito de maneira eficaz, mas nem se lembrou de dizer o grande filme que o antecedeu, de Richard Fleischer, Tora, Tora, Tora. Mas Clint é Clint e os dois filmes, sobre o heroísmo fora dos padrões e das cartilhas, são de primeira.



...que Últimos dias, de Gus Van Sant, sobre Kurt Cobain, o roqueiro suicida, é mais uma prova que este cineasta excepcional consegue filmar o abismo que existe entre as pessoas. Jamais poderesmos entender plenamente a cabeça do cara que desliga todas as tomadas para se recolher ao desconhecido. Mas podemos ver como Van Sant compõe sua tessitura, com o auxílio da equipe (como mostra o making off) colocando a câmara não como o olho que tudo devassa, mas a percepção que não consegue atingir o objeto que percebe. O que é o filme, então, se ele filma o que não pode ser filmado, como notaram alguns críticos? É um esgueirar sobre o Outro, quando tentamos saber mais e só ficamos com um punhado de ar na mão.


...que À procura da felicidade, de 2006, com Will Smith, sobre o self-made man Chris Gardner, negro, sem teto que conseguiu juntar uma fortuna de 600 milhões de dólares, é um filme rigoroso, exasperando, sob a batuta do diretor italiano Gabriele Muccino,quase desconhecido e que foi escolhido a dedo por Smith, que se encantou com dois filme dele feitos na Itália? Smith foi indicado ao Oscar com sua performance, que nos deixa aplastados na cadeira porque consegue nos convencer que ele não tem esperança alguma. Coisa de americano, dirão. Não é bem assim. É também um filme sobre a pobreza nos Estados Unidos.



...que estão loucos de medo que o Brasil ganhe a Copa América e portanto já estão avisando que se isso acontecer será a prova de que a competição perdeu completamente o valor, já que Dunga é um anão de cabelo espetado, medíocre e tosco? Haja crueldade e sacanagem na crônica esportiva e fora dela. Li há um mês o Tostão dizendo que Dunga conseguiu seu cargo porque puxou o saco dos cartolas. O fato de ter sido o capitão da equipe campeã do mundo em 1994 não conta, claro. Tostão esqueceu, mas quiseram tirá-lo da Copa de 70 porque estava com o olho machucado e porque não poderia jamais jogar junto com o Pelé.