29 de abril de 2011

VOCÊ E EU


Nei Duclós

você chove eu vento
lágrima que assopro
poça que eu espremo

você vai eu caio
carta de dispensa
praia que não lembro

você tem eu perco
sótão sem sustento
porta para o teto

você corta eu toco
arco de silêncio
lenha em fogo lento

você morde eu beijo
louca que eu alcanço
bodas de remendo

você sabe eu sonho
durma no meu ombro
chore quando é tempo

você leva eu trago
rendas do Oriente
corpo de encomenda

(você aguenta
eu despenco)

HÁBITOS


Nei Duclós (*)

Hábito faz parte da nossa natureza. Incorporamos comportamentos sempre da mesma forma: no começo é estranho, mas aos poucos nos adaptamos e no fim nem sabemos como nos livrar daquilo que começou de maneira tão bizarra. Quem segue os passos de um bebê nota que tudo precisa ser aprendido. Desde a respiração no primeiro momento (quando, no tempo do barato, o tapa providencial desencadeava o mecanismo), até fazer as refeições. Sem falar na disciplina para os estudos, dormir e acordar cedo etc.

Ao crescer, diversificamos. Adotamos o hábito de ler, por exemplo,ou de fumar e beber. Uma página de qualquer autor sempre causava alguma estranheza até que não podíamos mais largar os volumes. A tosse da primeira tragada é o início de uma trajetória que não costuma acabar bem. O consumo da bebida, mostram as pesquisas, cresce no Brasil, principalmente entre os jovens. Não que o livro ou álcool possam ser comparados. Mas estamos falando de hábitos. Melhor escolher os melhores para não perder o rumo.

Existe ainda o orgulho pelos nossos hábitos. Pensamos que eles nos diferenciam, mas somos idênticos em tudo. Precisamos nos decidir a prestar atenção em aula, por exemplo, não nos dispersar, focar no que realmente importa, selecionar. O ambiente interfere em tudo, principalmente as amizades e os sentimentos. As relações familiares conduzem as pessoas a hábitos diversos, mas estes são definidos por decisão pessoal. Somos responsáveis pelo que acumulamos nos gestos diários.

O que pesa são as coisas que aprendemos na primeira infância. Tomar café de manhã (muitos de manhã à noite), almoçar ao meio dia, ficar enrolando o cabelo na hora de divagar, bater nas quinas das mesas...opa, aí vira mania. Imagino que os distúrbios desse processo de formatar nossos hábitos são essas coisas esdrúxulas que fazemos principalmente quando crianças, como andar na calçada pulando as lajotas de duas em duas. Ou raspar o tênis no pé do muro. Existem as sacanagens, como se acostumar a jogar carrapicho no cabelo das gurias, como acontecia até os anos 60 (depois alguns cascudos mais sérios resolveram a parada; ou talvez tenha sido o fim dos terrenos baldios) .

No ano letivo, todos os dias eu fazia a mesma coisa. Ia para aula de manhã, almoçava e descansava até as duas da tarde, escutando rádio. Pegava nos temas até as quatro, hora do café. Voltava às quatro e meia e ficava até as cinco de olho no teto ou continuando minha sessão radiofônica. Aí estudava até as seis. Dividia o numero de páginas de cada livro das 11 matérias pelo tempo que me restava para as provas finais, quando ainda existiam . Veio depois a baba de passar por média, o que os cdfs como eu conseguia já em setembro. Isso mudou meus hábitos para sempre e para pior.

Passar por média me transformou. Começava a vagabundear na primavera. Jogava ping pong aos berros enquanto muitos colegas solfejavam na labuta. Com tempo de sobra, intensifiquei um hábito adquirido desde os nove anos: escrever alguma coisa. Poesia, prosa, o relatório do grêmio da aula. Não teve então química, física ou matemática que me segurasse. Estava fisgado pelas letrinhas. Pobres leitores.


RETORNO - 1. Imagem desta edição: Yvoire, aldeia medieval francesa, foto de Daniel Duclós. 2. (*) Crônica publicada originalmente no jornal Momento de Uruguaiana.

28 de abril de 2011

EM BUSCA DO CÂNONE


Nei Duclós

Só para implicar, costumo dizer que a verdadeira citação é aquela feita de memória, e que a ipsis litteris não passa de plágio. Não é uma afirmação totalmente verdadeira, pois o filtro da mente pode acabar com a frase original. Mas a frase funciona. Serve para evitar a pior ameaça quando se fala de autores e livros: o aborrecimento. Porque nada mais chato do que escutar, sílaba a sílaba, o que foi dito por uma celebridade. Ou aturar a lista alheia dos livros favoritos feita para fazer pose. Nossa imagem depende das leituras que ostentamos, pelo menos é assim que parece na indústria do espetáculo.

Também isso não é de todo verdade, pois o que gostamos de fato costuma coincidir com o que é destacado normalmente em todas as seleções. Ter entre os favoritos Borges, Conrad, Carpentier, Proust, Rosa, Drummond, Cabral, Bandeira não é privilégio de ninguém. Mas o cânone de cada um obedece à personalização de nossa abordagem, à maneira como tomamos conhecimento de livros fundamentais. O acervo real é o que somamos à nossa existência, nessa confluência estranha entre o épico e o prosaico, o transcendente e o pagão, o lógico e o absurdo.

Jean-Luc Godard é mestre em mostrar essa junção de opostos quando coloca grandes autores na fala de pessoas que estão no banheiro escovando os dentes ou em frente a uma máquina de jogar, como ele faz magistralmente no seu recente Socialismo. Mas não estamos aqui para falar de cinema, apesar de Godard ser um autor de colagens clássicas e modernas em oposição à leitura confortável dos best-sellers. “Cheguei e vou dar trabalho”, a máxima do sambista Moreira Silva, serve tanto para Godard quanto para nós, que estamos em busca de um cânone literário.

Para continuar implicando e aborrecer apenas os de má-fé ou excessivamente ingênuos (que se deixam levar por difamações), escolho Monteiro Lobato como meu escritor brasileiro predileto. De Reinações de Narizinho à Chave do Tamanho, de O Comprador de Fazendas à Paranóia ou Mistificação?, Lobato é o escritor maior, eternamente perseguido. Só sua iniciação ao mundo grego antigo já o justificaria como alguém que radicalizou no ofício. Mas Lobato é apenas um. Para não me estender na lista, destaco Joseph Conrad de Lord Jim traduzido por Mário Quintana. Sim, precisa ser o Quintana, senão não funciona (já tentei ler outra tradução, não colou). Mas Conrad sobra: Coração das Trevas, Agente Secreto etc. são uma interminável coleção de maravilhas.

Jorge Luis Borges nos encanta porque tem o visgo dos narradores que fundaram nações e a transgressão de uma vanguarda fora de moda. Ele se alimenta do bizarro sem se entregar a maluquices e compõe uma obra que mostra o caminho (e nem sei porque escrevem tão mal se temos Borges como parâmetro). Borges é um dos poucos autores que releio.

Há Os Passos Perdidos, de Alejo Carpentier, que é a reinvenção do romance, quando o autor mergulha na sua origem para perdê-la, e volta ao mundo real para desmascará-lo. Literatura é maneira que temos de ver direito pelo lado avesso. É uma viagem ao mundo do espelho quando descobrimos, abismados, que lá tudo faz sentido. O lado de cá então adquire sua verdadeira essência: a falta do Absoluto, a morte certa. Literatura é a certeza na vida eterna, que nos leva à paz do espírito.

Não a paz dos cemitérios, mas a do coração habitado. Aprendemos a amar primeiro nos livros. Depois, com as páginas abertas ao lado, damos o primeiro beijo, forçando o olhar para ver se estamos fazendo direito. Esse é o amor verdadeiro.


RETORNO - (*) Artigo publicado originalmente no Jornal Opção.

REALEJO


Nei Duclós


cheiro de flor devora o ambiente
submete o ar como um flagrante
cravo na pétala antes da cama
jogo doméstico, considere o drama

abraço que vale um desespero
o par do perfume longe mas perto
som sem volume, pobreza do verbo
casal que briga na beira da orquestra

uma dança ignora a platéia:
estrelas, e a mortal Lua cheia
escândalo de jardim suspenso

foi apenas o coração partido ao meio
como pote inútil, solar desafeto
a solidão a dois a tocar realejo


RETORNO - Imagem desta edição: September Morning, de Paul Chabbas

26 de abril de 2011

CONFRONTO ENTRE NARRAÇÃO E DESIGN


A cena é famosa. Em primeiro plano, o tenente inglês T. E. Lawrence está ao lado de um poço com seu guia árabe. Ele é o protagonista do foco narrativo tradicional, a história do militar especialista em Oriente Médio em missão especial de reconhecimento das forças do príncipe Faiçal. Ao fundo, no horizonte da imagem tomado pela areia e a luz branca formada pela união do deserto e do céu. desenha-se a linha fina de um vulto negro. É um pequeno rasgo na paisagem que vai se expandindo conforme o personagem que ele representa se aproxima.
O confronto entre a narração, a representação da história tida como real, e o design, a fantasmagoria, é a charada proposta pelos signos desse trecho da obra, no caso o filme de David Lean, Lawrence da Arabia (1962). Dois mundos que não se tocam pelo desconhecimento e o gap civilizatório e geográfico encontram o ponto focal, o desenlace de um desencontro. A perspectiva que se avulta não é um aperto de mão, mas um tiro. Pois o guia reconhece na lista negra que balança e se contorce por efeito dos reflexos do sol sobre a areia, o adversário tribal que impedirá o acesso dos dois à água do poço. Para se precaver, o homem vai até sua montaria para retirar o revólver que tinha ganho de presente na noite anterior do próprio tenente, mas não consegue disparar.

A túnica negra atira antes com um rifle e o guia cai com um buraco mortal na cabeça. É então que Omar Sharif assoma no cinema do megaespetáculo, depois de brilhar no Egito. Em Lawrence da Arabia, ele faz o papel do Sherif Ali, com seu sotaque rasteiro, suas frases certeiras e curtas e sua determinação em não deixar que ninguém usufrua do patrimônio da sua tribo, fator de sobrevivência naquele lugar hostil. O jogo bruto da diferença é todo decidido sem diálogos. As palavras não importam e quando elas surgem é apenas para marcar o território já deflagrado pela aparição, a ameaça e a reação decisiva. That´s is my friend., diz Lawrence. I know read and right, diz a aparição. Você matou um amigo. Tenho formação: duas frases se entrecruzam na ferocidade da diferença.

Mas o fator principal aqui não é a nacionalidade, a raça, a posição na guerra . E sim a linguagem, que define os papéis de cada um. O tenente, a partir desse momento, cruza o umbral de sua própria percepção e penetra no reino improvável dos povos nômades. Ele estava firmemente arraigado em sua nação, mesmo debruçado culturalmente sobre a terra que estudava com tanto fervor. Ele fazia parte de um discurso e buscava outro, mas foi surpreendido por algo diferente, uma imagem em movimento.

O espectador também dá esse passo além do extremo e parte junto para o terreno ignoto das tendas, das preces, do vento sobre as dunas. Lá onde as roupas, os gestos, os princípios, as idéias subvertem o mundo conhecido e desenham uma realidade diversa para os ocidentais. Esse novo mundo fecha o cerco sobre Lawrence, que se envolve até a medula na guerra que não era sua, mas ficou sendo. E só é rompido quando, depois de cruzar o Sinai, vê o topo de um navio cruzando o deserto. A visão do canal de Suez é o caminho de volta para casa, para a infelicidade de voltar a ser o mesmo, a reassumir o discurso. Por isso é aterradora sua fuça tomada pelo pânico de pertencer ao que de todos desconhecem. Ele está irreconhecível. Seu rosto de cera ilustra o olhar opaco de quem viu demais.

O narrador foi colhido pelo corte profundo da paisagem rasgada por aquele fiapo de sombra que deu um tiro mortal. A narração confrontou o design. E o mundo se transformou para sempre. “Eles não virão pelo árabes, nem pelos ingleses, nem pelo ouro ou pelas armas,”diz o tenente em delírio para seu general. “Eles virão por mim”. Pois foi ele que viveu aquele confronto e é ele, portanto, quem decide a parada.

RAF E PINGO


Nei Duclós (*)

Pingo foi um cachorro lendário no folclore doméstico por ter sido o melhor perdigueiro que meu pai teve. Quando foi atropelado na frente de casa, o homem duro que jamais chorava encerrou-se no quarto para soluçar, com lágrimas que ninguém viu, a perda de um parceiro do primeiro time nas andanças pelos campos, paixão de toda uma vida do ex-combatente que só pegava em armas para matar perdiz. Em homenagem a esse exemplar jamais igualado, todos os cachorros que tivemos com aquelas pintas marrons ou pretas no pelo branco ganharam o mesmo nome de batismo. Às vezes, quando eram dois, o outro era chamado de Duque.

A cachorrada sobrava em casa, pois, fora da sua missão principal, a caça, não serviam para nada, a não ser para tomar espaço na casa de muitos moradores. Nela confluíam todas vidas da época e hoje, todos os vetores da memória. Só quando havia barulho de cartucheira, de cheiro de pólvora, de movimento de jipe cheio é que eles se alvoroçavam para algo que transcendia aquela modorra.

É quando saíam para os espaços infinitos dos campos, onde, quando eram moços, afastavam toda e qualquer ave que estivesse por lá, para desespero dos caçadores. Só depois de muito treino e algumas surras eles conseguiam fazer o serviço corretamente, não sem antes passar pelo obrigatório ritual de estragar a caça. Trazer o bicho na boca sem mastigá-lo e depositar aos pés ou nas mãos do dono era uma arte que talvez só o primeiro Pingo dominava com perfeição. Mas não só de perdigueiros era feita a fauna canina.

Tínhamos o Raf, policial que fazia a segurança, já que seus colegas de quatro patas eram uns moleirões e festejavam quem se aproximasse. Raf tinha o porte do sujeito preocupado com os intrusos e respeitava as crianças como se dele fossem. Ou não. Já não lembro direito. Talvez fosse tão inoportuno quanto os outros e ajudavam a fazer a algazarra que deixava os adultos loucos e competia com o barulho da criançada.

Não havia naquele tempo essa paixão pelos pets, pelo menos de nossa parte, ferozes petizes indomáveis. Os cachorros faziam parte da rotina, misturados à bagunça geral. Eram tratados, escovados, vacinados e tudo mais. Mas também sofriam com a indiferença geral daquela vida urbana tão próxima da natureza. Tínhamos o rio perto demais, o campo em todo fim-de-semana, as árvores em carreira pelas calçadas, a maioria cinamomos que davam frutinhas ótimas para usar no bodoque e acertar os vira-latas que passavam.

Essa experiência, de tantos cachorros fazendo presença nos nossos espaços, me deixou um pouco avesso a ter hoje um em casa. Já tive, não quero mais. A gente se apega, eles envelhecem e acabam morrendo. Ainda mais que a morte de Raf me deixou traumatizado. No galpão vazio, ele finou-se e lá ficou até o recolherem. Foi trazido de arrasto por alguém e depois colocado numa carroça para ser enterrado longe. Nosso quintal não tinha lugar para cães mortos. Nem nosso coração, duro como o animal que era carregado.

Não choramos, como fez nosso pai quando perdeu o primeiro Pingo. Mas ficou um travo amargo do cão policial que se foi de maneira tão inglória, diante dos nossos olhos abismados com a primeira manifestação da morte.


RETORNO - 1.Imagem desta edição: A Caçada, de Paolo Uccello (obra que ilustra a capa do livro O Mundo Como Ideia, de Bruno Tolentino).2. (*) Crônica publicada no jornal Momento de Uruguaiana.

25 de abril de 2011

SOMOS APENAS PALAVRA


Além do que fazemos para viver, agimos para ficar vivos. Como postar no Twitter e no Facebook: é o que faço para conversar com os contemporâneos. Neste Diário da Fonte, costumo colocar algumas seletas. Hoje, destaco frases que tuitei durante a Páscoa. O resultado – poesia, política, mídia, comportamento – está aqui.


Vamos por terra, disse o marinheiro. Vamos pegá-los de surpresa

Ok, vou bater o ponto, disse o aventureiro do deserto. Mas depois não se queixem se as tempestades de areia não tiverem com quem conversar

O que diz o amor quando declaram guerra? "Não de novo! Adiar para mais uma geração o pote de mel que se derrama"

Poesia não serve como identidade, mas é a única que tenho

Já estivemos aqui, mas não lembramos. Só quando o vento chama a nova estação, zunindo na nuvem

Somos circo. Em primeiro lugar, trapezistas. E por último, palhaços. Para sairmos rindo do espetáculo

Somos um só, mas imaginados por muitas personas, que se revezam na nossa mente para nos divertir, consolar ou alertar

Todos os personagens pedem para sair. Às vezes, no minuto seguinte ao que seu oposto se manifestou

Jack o Marujo foi convidado para dar uma palestra de auto-ajuda numa fábrica de parafusos. "E eu com isso?" disse ele, e encerrou o evento

Deus nos conjuga, mas não leva o crédito. Só a fé descobre a autoria do verbo

Somos apenas palavra. Alguém nos escreve. Algo nos apaga.

Quando o poema começa muito ruim, peço desculpa à palavra e recomeço. É preciso que ela me receba

Gerenciei minha carreira fazendo tudo errado. No fim, deu certo, porque tomei o rumo que os outros evitavam

A esperança é poder impactar quem nunca soube da citação,o que é raro, já que o ramerrão atinge a mais tenra idade.Melhor seria voltar a ler .

Você gosta de citar autores famosos? perguntei para Jack o Marujo. Gosto de citar a véia, respondeu o capitão

Essas citações recorrentes de obras e autores, sempre os mesmos, com pretensão de ainda dizer algo, não são apenas patéticas, são patetas

Há uma impaciência animal no fast-food, em que as pessoas atropelam para se servir primeiro e ocupam as mesas com ruídos de guerra

Quando é preciso roubar muito, mas roubar mesmo, usa-se a palavra estratégico

"Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se". Slogan para a Coca-cola de autoria de Fernando Pessoa

Povão é a fantasia favorita do pavão


Celebridades internacionais descobrem o Brasil. Precisamos aumentar o número de favelas e de capoeiristas

Casamento do príncipe influencia a tábua das marés

Você diz ou "com certeza" quando é sim ou "fala sério" quando é não, diz Angelica no seu show, implementando o lugar comum como referência

Essas pessoas sem nada a dizer que ficam sussurrando durante horas em entrevistas fake na TV são apenas álibis de campanhas publicitárias

Comemorar gol pondo a mão em concha no ouvido, o dedo indicador na boca ou fazendo coraçãozinho com ajuda dos polegares é o cânone babaca

Sou um zero à esquerda, disse o garoto. Permaneça assim, aconselhou Jack o Marujo. Si se mexer, vão dizer que foste para a direita

Jornal Opção “Socialismo”, de Godard: O Desafio de Entender (texto do jornalista @neiduclos)

Inventar cartas de leitores fazia parte do processo de implantação de um novo veículo. "Elogia minha matéria aí", diziam os repórteres

Ninguém escrevia cartas para as redações, a não ser os compulsivos ou alguém com interesse explícito em algo. Com o email, ficou mais fácil

Truque de marketing: jornal inventava cartas espinafrando a edição para gerar cartas verdadeiras contradizendo as críticas

O verdadeiro ombudsman de um jornal ou revista é a seção de cartas dos leitores

"Certo? Errado" significa: você está iludido e eu não, você não sabe, eu sei. O uso do lugar comum desmoraliza a soberba

"Certo? Errado" é de matar. Ultrapassou o status do lugar comum. É o cânone da muleta da argumentação

Cortava a caixa de sapatos com a tesoura, encaixava as duas metades, fazia a cesta. Enfeitava com papel colorido recortado. Punha a palha



RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

23 de abril de 2011

DEPOIS DO FIM


Nei Duclós

remorso rói até o osso
deixa o vazio de troco
no reboco o desespero
louco caiado de branco

soluço seco no forro
vida longa se consome
lucidez que não dá sopa
brinde secreto do tempo

não se trata de lembrança
somos o que esquecemos
nem de memória ou infância
fomos o que não vimos

mas de uma torpe presença
morcego preso no teto
corredor de badulaque
ruinas de antigo vício

solidão sem esperança
comboio solto na curva
apito que não compensa
coração aos solavancos

sem reparação de danos
descemos no fim da linha
estação do desencontro
cartas de despedida

(Já estive no teu olhar
Depois vim morar no exílio
Faz frio, musa
Joga tua blusa no rio)



RETORNO - Imagem desta edição: Esquina, obra de Ricky Bols.

21 de abril de 2011

NÃO QUERO TERCEIRA IDADE


Nei Duclós

não quero terceira idade
terminal de qualidade
cantigas de mãos ao alto
mostrar talentos bizarros

não quero terceira idade
gente achando que estou bem
pegando à força no braço
falando aos berros de graça

não quero cabelo azul
asilos desnaturados
alpiste às seis da tarde
acelga com abacate

quero um havana bem caro
uísque não falsificado
um prato que tenha carne
um feijão bem temperado

nada disso me faz mal
o que mata são os falsos
conselheiros de decálogos
cartilha ainda nas fraldas

não quero a festa sarada
dos indiferentes ágrafos
marcando com sua ausência
a chover no chão molhado

não quero esse olhar surdo
compreensão de almanaque
certezas de resultados
auto-ajuda diplomada

posso enfrentar a batalha
provei com a longevidade
se afastem, agora é tarde
colham urtigas no mato

não sou o cabeça branca
capaz de aturar piada
nem especial, nem nada
sou só um sobrevivente

não sei porque isso ofende
causa tanto desconforto
não quero atenção, quero
que se fodam, é diferente



RETORNO - Imagem desta edição: Eli Wallach, 96 anos. No front, na ativa.

20 de abril de 2011

AMOR


Nei Duclós


amor novinho em folha
até com pingo dágua
escorre pela fibra
(tremor de clorofila
solar na madrugada)

amor de fruta e maio
de cheiro e som de noite
no abraço que se empedra
(banheira em corpo calmo
sonhar de porta aberta)

amor que não espera
e todo amor não basta
amor do que lhe falta
(valor de uma quimera
eterno, pois se basta)


RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

19 de abril de 2011

A ESTUPIDEZ DA ECONOMIA


Há uma tendência a adotar medidas preventivas contra a avalanche homicida da indústria financeira internacional. Não se trata de acabar com a especulação, o sistema que fabrica dinheiro a partir de artificialismos contábeis tratados como receita e anexados ao gigantesco volume de moeda de mentira, um esquema que remunera regiamente grandes maganos (os donos da globalização e que estão bem representados no governo Obama, assim como estavam no de Bush; aliás, são quase os mesmos). Mas o de se fazer alguns ajustes, necessários, para evitar que o estrago atinja muito forte a metrópole, como aconteceu em 2008. Mas o ministro Mantega acha essa possibilidade um acinte.

O Brasil não tem limites, nem oposição, freios ou qualquer defesa. Aqui se faz, aqui se paga. Aumenta-se em 8 anos a dívida pública em 1 trilhão de reais e tudo fica por isso mesmo. Desmatam tudo e só deixa o cocoruto do Xingu de fora (por enquanto) e ninguém dá bola. Ocupam a terra arável não para produzir alimentos, mas insumos para a especulação. A cana é um deles. Como o açúcar está com preço bom lá fora, então deixa-se de produzir o etanol e assim rompe-se com o acordo com os consumidores.O combustível “alternativo” vai para as alturas e os cretinos acham normal, soterrando a grita geral (a cidadania insurgente tratada como privilegiada). O governo gasta mais do que todas as cortes monárquicas juntas de todos os tempos e ainda eles querem mais.

Então,para que acabar com a festa? Isso é muito perigoso, cuidado com as restrições, disse o ministro amanteigado. O Brasil só entrará nessa se for obrigado, pois, se depender dos gerentes laranjas da nação, fica como está (é muito bandido para molhar a mão, não há dinheiro que chegue). O sujeito pega sua moeda podre, o dólar, enfia no rabo do sistema financeiro e o troço vai inchando, inflando como bolo fecal até explodir na nossa cara. Eles ficam com os lucros, nós com o rombo. Isso é tratado pelos analistas, especialistas e, digamos, “formadores” de opinião, como algo irreversível, do qual não dá para escapar. Ainda se fala por aqui no Plano Real, que foi uma adaptação ao consenso mundial, em que era preciso “debelar a inflação” para que tunga fosse mais proveitosa. O Plano Real é a jóia da coroa, a prova de que somos foda.

O Plano Real não debelou a inflação, mas acabou com a moeda nacional, ou seja, a soberania. Inventaram o real, que é uma unidade monetária que serve de parâmetro para que o sorvedouro de recursos não tenha nenhuma dificuldade de fluxo. A inflação continua, mas em dólar, já que o real é moeda zipada, a inflação em centavos equivale a muitas unidades monetárias do passado. Mas o que vale é a maquiagem, a máscara da economia segura e "em crescimento”. A montanha indecente da dívida pública remunera regiamente o capital especulativo, que se desvaloriza pelo excesso, "fortalecendo" o real.

O real mascara a corrosão do poder aquisitivo.O truque é ampliar a faixa do crédito, tanto para baixo da base da pirâmide quanto para prazos. Mais gente comprando a prazo e não conseguindo pagar. Esse é o fenômeno celebrado, às gargalhadas, pelo mundo que distribui prêmios aos gerentões do roubo (a mídia mundial em crise recebe dinheiro para dar títulos, assim como universidades com seus chefes agraciados com mimos do cliente que se torna “dotor”).

É por isso que a inadimplência cresce enquanto babacas como Eric Hobsbawm babam com nosso "crescimento" e ascensões sociais fictícias. Miséria e violência aumentam. Infra-estrutura foi para o ralo. Corrupção em todos os estamentos sociais e institucionais. Não temos mais indústria. Tudo vem da China ou é montada por chineses aqui. É tudo isso que enche FHC de orgulho, pois adaptou necessidades da pirataria internacional com a capacidade brasileira de sustentar tais bandidos. Ele reivindica o crédito de ter feito a boseira porque o tucano-petismo-peemedebosta é uma coisa só. Ter um duelo babaca entre Lula e FHC, duas faces da mesma moeda podre, é muita contrafação. É um circo situação x oposição para a platéia.

FHC entregou o país, que ficou totalmente à mercê da especulação internacional remunerada regiamente, processo intensificado por Lula . FHC apoiou por dua vezes Lula contra Serra, por isso seu partido perdeu. É um traidor, como o Aecio. Agora posa de opositor. FHC é um bobalhão pernicioso. Não existe oposição porque ele fez o jogo da ditadura civil, do sistema político engessado .

Quem tenta denunciar ou desmantelar esse sistema é chamado de imbecil. “É a economia,estúpido” ou seja, é assim que funciona e calem a boca. Pois não é assim que funciona. A estupidez da economia não deveria ser obrigatória. Como há uma imposição, então todo mundo é chutado para a rua. Como acontece com os jornalistas. Só neste ano, mais de 200 perderam o emprego. Não precisa de jornalista. Os bandidos podem tudo.


RETORNO - Imagem desta edição: os gêmeos univetelinos se abraçam. E o Brasil entra pelo cano.

18 de abril de 2011

PELICA




Nei Duclós


a beleza humilha
seletiva, inacessível
a beleza inspira
pelos mesmos motivos

a beleza é filha
da perfeição de origem
exílio que não compartilha
a posse medíocre

a beleza fica
enquanto tudo expira
mesmo quando se esvai
reina a rainha

a beleza trinca
o aço de alta fibra
com suas mandíbulas
de estelar concílio

a beleza pira
a lucidez mais firme
e arrasta o que ama
com seus pés de vidro

fuja beleza, que te cerca
a polícia
mandei te buscar
luva de pelica


RETORNO - Imagem desta edição: a Cardinale bonita

17 de abril de 2011

SOCIALISMO, DE GODARD: O DESAFIO DE ENTENDER


Nei Duclós

Godard é complicado e vive num mundo à parte. Tem seus motivos para fazer um filme como Socialismo, apresentado em Cannes em 2010, que não são, obrigatoriamente, os nossos quando vemos a obra. Não adianta especular sobre a complexidade da sua trama, incomensurável, sem nenhuma chance de comparação com qualquer outra coisa. Não é cinema, que está morto, como ele diz numa entrevista. É literatura além da ficção. É ensaio feito com colagens de discursos transcendentes proferidos em cenas banais. É um trabalho de inserção da realidade na sua representação, a arte. É o que podemos ver não só pelo que mostra, mas pelo que esconde na sua algaravia espessa de imagens e sons não hierarquizados.

O ensaio é o patinho feio da erudição. É notadamente um escape do rigor, um recreio entre muros que são saltados de calças curtas e cabelos despenteados. Por isso é desprezado pelos lentes que ficam confinados em salas teóricas. Godard trabalha uma série de subterfúgios para instaurar alguma coisa na tela. Trata nações como criaturas coletivas com uma identidade, uma lógica, o que vai contra a globalização. Fala em Itália como Meca da pintura, a França como território do desamor, a Rússia como alguém em busca da felicidade. Tudo costurado por personagens que fazem um cruzeiro nas águas comuns do Oriente e o Ocidente, o Mediterrâneo.

Entender é o que há, diz alguém no seu filme feito de estrutura de arte pop, em que cores e movimentos se sobrepõem cumprindo uma agenda de transgressões.Um grupo precisa saber para onde foi uma parte do ouro desviado da Espanha para a Alemanha na II Guerra. Como se esse tesouro extraviado fosse a pista para entender o poder internacional da indústria financeira hoje, que cultiva tubarões predando cardumes num patrimônio que deveria ser de todos, o dinheiro, representado pelo oceano sendo singrado por um navio de luxo. A origem do atual pesadelo é lá na II Guerra, nos diz Godard. É preciso seguir o roteiro, decifrar a trama e entender como o mundo esfacelado da política das nações reuniu-se em torno de uma impossibilidade, as Nações “Unidas”, entidade que apadrinha a divisão territorial entre o individuo e as múltiplas nacionalidades, na área comum do capitalismo intensificado pela especulação.

Deve-se navegar até a origem, como se volta à geometria, para entender porque migrantes dão as costas para o lugar de onde vieram. Não havia outra solução, diz um personagem, justificando a fuga. No fundo, o cruzeiro marítimo pelo Mediterrâneo é uma circunvolução, um rodar pela mundo dividido entre Oriente e Ocidente, sendo que essas fronteiras não são geográficas, mas humanas e históricas. Esse rodar por Barcelona, Odessa, Argel, que tem tudo para ser turismo de luxo servido ás massas despossuídas de cultura se transforma, pelas mãos de Godard, na busca de um mapa perdido. Achá-lo é fundamental, não que vá mudar alguma coisa, mas para que as pessoas entendam seus papéis, já estão grudadas a eles sem poder enxergá-los, ou seja, entendê-los.

Descobrir o papel que desempenhamos buscando a raiz da atual situação, aparentemente “natural” ( e a câmara de Godard, o tempo todo, denuncia o desconforto desse mundo imerso no caos) é uma procura insana por meio de toda a arte difusa do espetáculo. A profusão de imagens digitais, das câmaras de segurança, das máquinas dos turistas, das lentes de fotógrafos profissionais é apenas essa pesquisa para saber de onde viemos, onde estamos e para onde nos leva essa viagem. Sabemos que ela volta ao seu início, mas precisamos ver qual a sua natureza e que ouro é esse desaparecido que precisa ser encontrado urgentemente por arqueólogos dos bastidores de uma guerra ancestral que dizimou o mundo num tempo que não mais pertence à História, mas ao Mito. É o rastreamento de um crime, que está na fonte do Mal vitorioso.

Godard faz tudo isso à sua maneira, ou seja, aborrecendo o espectador. Coloca falas transcendentes em cenas prosaicas, repete frases e faz citações de todo o tipo que só com o Google poderemos saber exatamente de onde elas vieram. Godard é um chute que desestabiliza o nosso olhar. Temos ganas de esganá-lo a cada sequência, mas saímos melhores do que entramos. Maldito mestre, que nos faz cavocar o que tínhamos escondido, achando que ninguém estava vendo!

15 de abril de 2011

MANIPULAÇÕES



Nei Duclós

Denunciar injustiças cria estruturas teóricas que sobrevivem à denúncia, ganham vida própria e mudam de protagonistas conforme os interesses. Se você denuncia a opressão, qualquer um poderá se colocar no papel do oprimido. Independe das intenções originais. Pode facilmente ser desvirtuado. Isso acontece no atacado e no varejo. É fácil manipular uma denúncia. Se a Justiça pega um político em flagrante, ele vira vítima da ditadura e anuncia sua luta pela liberdade.

A luta pela igualdade acabou gerando uma classe privilegiada dos “mais iguais”, segundo insight de George Orwell em A Revolução dos Bichos. Estamos cercados hoje por esses exemplos. A defesa dos índios transformou algumas tribos em madeireiros. A luta pela reforma agrária gerou uma nova casta de negociantes de terras. A luta contra a ditadura desovou multidões de corruptos (isso não justifica nova ditadura, claro). A necessidade de democratizar a cultura abriu a guarda para a hegemonia da mediocridade. A sociedade do espetáculo, em função da libertação de comportamento, perdeu todos os escrúpulos. Ex-heróis fazem campanhas regiamente pagas. Países modelos de transformação viraram horrendas ditaduras.

Mudanças de paradigmas não podem ser desvinculadas da crítica ao processo de mudança, sob pena de a transgressão se cristalizar num novo status. A cidadania é desvirtuada quando sua lutas são apropriadas por protagonistas que negociam o discurso das reivindicações na superexposição das mídias e nos bastidores. Cidadãos escaldados desconfiam das ondas de pressão anti-tirania. Essa experiência imobilizadora é confundida com submissão. No lugar de condenarmos o que chamamos de "o brasileiro", devemos é procurar entender a complexidade da opressão e das reações a ela.

É fácil desmerecer a nação se nos colocarmos à parte, encobertas pela dupla cidadania, pela ilusão do “sangue” dos ancestrais ou pelo status (quando o resto vira “essa gente”) Não arrostar que o país é obra nossa, ou seja, de uma coletividade que deveria ser regida por políticas públicas decentes, é cair na tentação de colocar toda a culpa nos indivíduos. Vemos como tudo é culpa das pessoas, jamais das autoridades, como se a população tivesse escolha. Mosquito da dengue, por exemplo. Acabaram com os Mata-Mosquitos, funcionários públicos encarregados de dedetização. Acabaram com a fiscalização permanente, como tínhamos em décadas passadas. O que existe são campanhas publicitárias para não estocar água limpa a céu aberto.

Não é preciso voltar aos velhos tempos da dedetização em massa. Mas se existem novas formas de combate, elas devem ser implementadas a partir da ação dos agentes sanitários . Isso não pode ficar a cargo da população. A falta de esgotos e de encanamento para água potável é que geram os criadouros dos transmissores. Não é por opção pessoal da cidadania.

Os exemplos são inúmeros. Não é o povo, mas políticos que escolhem os políticos e os impõem por meio de campanhas milionárias e um sistema engessado de representação. Quando há corrupção, coloca-se a culpa nos eleitores. Está errado.


RETORNO - 1. Crônica publicada no jornal Momento de Uruguaiana. 2.Imagem desta edição: os mais iguais de Orwell. Tirei daqui.


14 de abril de 2011

SAGARANA 43 DEDICADA A SUZANA CHAVEZ


Mais uma edição da melhor revista cultural do mundo:

"Caros amigos e amigas:

É com satisfação que anunciamos a presença on-line, a partir de hoje, do n° 43 da revista Sagarana, em língua italiana, no endereço telemático www.sagarana.net .

Esta edição, dedicada à poetisa mexicana Susana Chavez, assassinada há poucas semanas exatamente por causa das suas poesias de compromisso social. apresenta diversos ensaios e artigos inéditos na Itália: “Milano”, um texto de Cecília Meireles sobre a cidade, “Corsera, Matvejevic: storte Drine italiane” de Bozidar Stanisic’”, “È ora di parlare di letteratura italiana. Se non ora, quando?” do estudioso da literatura da migração Armando Gnisci; ", “Una natura diversa in un mondo diverso dal nostro” de Gabriel Garcia Márquez, e textos de Carla Benedetti, autora de “Calvino Versus Pasolini”, de Serge Latouche, Guy Debord, Vito Teti, Loretta Emiri e de Tomaso Pieragnolo.

O Editorial desta edição, de Julio Monteiro Martins, “Il passaggio della luce sulla carta” trata do destino do livro como objeto, e das novas tecnologias como os leitores de e-book.

Em Narrativa temos nada menos que quatro traduções inéditas: um brevíssimo conto di Arthur Clarke, em seguida "Crollo mortale" de James G. Ballard, que descreve uma hipotética queda (provocada) da Torre di Pisa num futuro não muito distante; “Copacabana” da escritora e crítica do Quebec Claire Varin, sobre o naufrágio do Bateau Mouche na baía da Guanabara durante as festas do Reveillon de 1988, e a tradução do conto "Os Olhos de Jimmy Carter" do escritor nigeriano E.C. Osondu , além de trechos de obras de Ernst Jünger, Natalia Ginzburg, Pier Vittorio Tondelli, Milva Cappelini, Kristin Marja Baldursdóttir e um inédito de Antonello Piana ambientado em uma lúgubre Berlim do século passado.

Em Poesia, além de cinco poesias ineditas de Susana Chavez, a quem é dedicada esta edição , e de poesias de Charles Bukowski e Sylvia Plath, temos uma antologia de poetas contemporâneos da Costa Rica e traduções inéditas dos versos de Angela Carter, Billy Collins e Dora Gabe, além da primeira publicação da poesia de Pina Piccolo, “Mediterraneo 2011:Terzo capo d’accusa” e da de Carlo Bordini, “Preghiera”. E têm ainda os contos e poesias dos novíssimos autores presentes na seção Vento Nuovo.

Neste mesmo endereço telemático encontrarão a atualização da seção Il Direttore, com o conto I rifiuti e l’analista, de Julio Cesar Monteiro Martins.

Esperamos que os os ensaios, os contos, as poesias e os trechos de romances selecionados possam oferecer-lhes muitas horas de agradável leitura.

Cordialmente,

A Redação de Sagarana"

13 de abril de 2011

BIOGRAFIA



Nei Duclós


vivo no mundo da Lua
esta é minha biografia
em cada fase flutua
peça de ourivesaria

um colar de prata nua
um crescente de ametista
corrente fosca minguante
estojo no plenilúnio

guardo no lado oculto
praias inconfidentes
sereia presa em tarrafa
mapas longe do desenho

subo com os pés no monte
como gás neon no vento
pelo luar eu transponho
obituários do tempo

calo quando perguntam
onde meu olhar se planta
brilha a testa do ciclope
voa a louca na varanda



RETORNO - Imagem desta edição: obra de Ricky Bols.

9 de abril de 2011

A FRUTA E O SOPRO


Nei Duclós

uma romã jamais amadurece
assim como o amor, seu lado avesso
colho no quintal a fruta seca
não há rubor na pele verde

sorvo um sabor inexistente
perco para sempre o que não cresce
folhas novas em arbusto incerto
galhos tortos antes do tempo

da mesma forma que o soneto
poema engessado na fratura
a doçura não vem se não há sopro

falta ao coração o mesmo treino
que uma planta possui como um braço
ambos perdem porque se esquecem


RETORNO - Imagem desta edição: Lua Sopra o Tempo,obra de Ricky Bols.

O ATIRADOR NO CAMPO DE CENTEIO


O livro de JD Salinger, O Apanhador no Campo de Centeio, favorito entre matadores, é um monólogo do adolescente Holden Caulfield, de 16 anos, que sai da escola depois que soube da sua iminente expulsão. Seu ódio e falta de paciência contra o mundo adulto, a qual pertence sem ser incluído nele, tornaram-se clássicos do comportamento na sociedade de massas (reações extensivas a todas as idades). O livro foi encontrado em alguns matadores, entre eles, no caso mais famoso, no de Mark Chapman, o chacinador de John Lennon. Claro que a literatura não é a fonte do distúrbio, apenas o revela.

O atirador do Realengo, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, não saiu da escola, era um aluno razoável, segundo os professores, mas voltou a ela para matar. A partir do personagem do livro, foi criada uma indústria da compreensão e apoio. Para o chacinador, nenhum perdão, obviamente. Entre as duas pontas do novelo, o adolescente problemático à beira do suicídio e o ex-adolescente que atira covardemente sobre alunos em sala de aula, numa missão também suicida, desenrola-se o drama principal do mundo: o que fazer ou vai acontecer com os milhões de pessoas criadas neste ambiente terminal que é a ditadura internacional da indústria financeira geradora de exclusão, miséria e ilusões sem limites?

Claro que existe a responsabilidade pessoal dos assassinos. Nem que tudo é culpa da realidade externa a ele. Mas não há dúvida que o esforço oficial de destruir o sistema de ensino, desabitar os espíritos com tudo que é tralha anti-cultural, fechar as portas do trabalho para multidões emergentes e cheias de gás, deixar medrar uma riqueza incomensurável à sombra do tráfico e consumo de drogas só ajuda, ou não? Sem falar nas fábricas de armas e munições, que jamais aparecem no noticiário, ficam à sombra dos fatos como se nada tivessem a ver com isso. Também não se fala nos treinadores profissionais de assassinos, os que instrumentam os loucos com suas ferramentas perigosas.

Diante de uma tragédia como esta, que zipou num só evento o que está disperso no Brasil, terra de assassinatos variados de crianças e adolescentes, a análise fria, o comentário, o choro, a palavra de especialistas, as materinhas humanas, tudo soa falso, inútil. Há uma gana explícita por vingança, o país está nos cascos, em plena guerra. O agravante é a compulsão da mídia de fazer espetáculo de tudo, levando, por exemplo,o herói policial para visitar o menino baleado na cabeça, que o avisou da chacina. Deixem o garoto descansar, não sejam tão cretinos! Tudo pode para mostrar “emoção”?

A pauta não é a emoção, e sim quem treinou o bandido que, ao contrário do que o delegado falou, deve sim ter sido treinado, pois não é fácil manusear um 38, ainda mais carregá-lo rapidamente e acertar vários tiros. Os motivos são conhecidos: o matador queria se vingar do colégio onde foi marginalizado e escolheu as garotas que, na adolescência , não foram acessíveis a ele. Essa é uma percepção bem superficial do acontecimento. Pode muito bem ser mais profundo do que isso. Também não se pode descartar a motivação religiosa desvirtuada, fanatismo fundamentalista alimentada pela informação farta disponível sobre o assunto. Foi iniciativa pessoal ou não. O jornalismo precisa perguntar e não se entregar às aparências ou evidências consideradas incontestáveis.

Talvez o treinaram para outra coisa e ele resolveu, de posse de suas novas habilidades, ir à forra, contrariando seus orientadores, que acabaram destruindo todas as pistas (ninguém ouviu barulho de coisas sendo quebradas, rasgadas, queimadas? Estranho). Agora vem à tona os velhos debates sobre segurança, com as teses sendo colocadas à prova, numa conversalhada sem fim. Nada se faz para resolver os impasses. O medo continua e o crime tem latifúndios para explorar.

7 de abril de 2011

A ÉTICA É BRANCA


Infância é sobrevivência. Do povo, do país, da espécie. No Brasil é artigo descartável, vai para o lixo. Não apenas pelo massacre do Realengo, no Rio, mas pela destruição do sistema de ensino, a desconstrução familiar pelas imposições econômicas e anti-culturais. Além das dezenas de milhares assassinatos por ano, de todas as formas, pela omissão, violência pura e simples, desencaminhamentos, exploração, corrupção. Outros países tem visão diferente. Encaram a infância e a adolescência com seriedade, não como brincadeira. A Dinamarca, por exemplo, onde foi feito In a Better World, de Susanne Bier, ganhador do Oscar de Melhor filme estrangeiro em 2011.

Os dinamarqueses são competentes, civilizados e simpáticos. Pena que considerem a ética algo exclusivo da raça branca, se formos tomar a parte (a obra cinematográfica em questão) pelo todo (a nação). No filme, os filhos dos brancos são problemáticos, fazem parte de dramas familiares, ligados à separação ou morte dos pais e a consequente radicalização no enfrentamento de problemas como bullying ou outros tipos de rejeição (como ter sotaque sueco, por exemplo). Os filhos dos negros, que estão na região do campo de refugiados onde o protagonista dinamarquês exerce a medicina solidária, estão perdidos, fazem parte de uma tragédia insolúvel. São arrancados a frio do ventre das mães pelos algozes em jogos de azar, ou abandonados aos montes em acampamentos.

Os adultos brancos são compreensivos, dão a outra face para bater, e corretos, se arrependem do tratamento dado aos filhos, fazem trabalhos comunitários e acompanham a prole nos estudos e nos passeios. Os adultos negros são vingativos, pegam a unha o bandidão que tirava bebês das barrigas da mãe, deixando o médico politicamente correto impotente. São negros, que se entendam. Enquanto os suecos são discriminados pelo sotaque, mas usufruem de todas as comodidades da sociedade dinamarquesa, as tribos africanas inimigas se dilaceram num território sem lei, onde ao único sinal de espiritualidade é o sorriso exausto do médico branco que todos os dias cumpre sua missão de salvar vidas, para agradecimento humilíssimo dos africanos.

Assim, a piedade, a autocrítica e o cabelo loiro são capazes de dar a volta por cima do drama e consertar tudo. Os garotos que escorregavam para o crime e o terrorismo voltam ao seio familiar e tudo acaba bem. Quanto as negros, esses preocupam: abandonados junto com os adultos, correm atrás dos bem nascidos para conseguir algumas esmolas, como a bola de futebol e o eterno sorriso do bem. Se, por exemplo, num assomo de lucidez, a diretora mandasse seus personagens caucasianos carpir um lote na freguesia da miséria européia, cheia de exclusão e violência, não haveria essa musiquinha de fundo com tanta comiseração em relação ao mundo africano.

Mas branco, por ser detentor da ética, não carpe lote. Ele é médico e pede auxílio para enfermeiras negras para tirar o seu jaleco cheio de sujeira e sangue. Trata-se de um herói do politicamente correto, num filme super bem feito, com excelentes atores e um script que prende a atenção o tempo todo. Há grande poder de sedução em filmes assim. Como todos nos sentimos brancos, mesmo sendo pardos,pretos ou amarelos, também emitimos aquele sorriso alvar do cara que vem do conforto para recuperar os ferimentos de raças subalternas.

Talvez umas chibatadas em público fariam cair a ficha dos dinamarqueses, tão bem postos em sua posição a cavaleiro no mundo. Talvez por serem assim tão excludentes se esforçam tanto para parecerem perfeitos. Será o medo do boi da cara preta?

RETORNO - Imagem desta edição: Mikael Persbrandt no papel do médico Anton

6 de abril de 2011

A GRANA E A TERRA


De que maneira a indústria do espetáculo anexa o homossexualismo como protagonista (e não mais como tema periférico e anedótico) ao circuito do cinema comercial? A resposta é The Kids Are All Wright, Os Filhos Estão Bem, ou Estão no Rumo Certo (o título oficial no Brasil é "Minhas Mães e Meu Pai", que explora exatamente o que o filme condena, tratar a situação como se fosse bizarra). Esse é o objetivo do filme, dirigido por Lisa Cholodenko: mostrar que um casal gay de duas mulheres pode muito bem criar um casal de filhos “normais”, ou seja, hetero e bem encaminhado para a faculdade. Está garantida a linhagem do império, a opção não ameaça a sobrevivência. Ou: tanto faz, os filhos podem ser gays ou não, o importante é que estão bem criados.

O que pega no relacionamento são os vínculos econômicos. A chefe da família é Nicole (Annete Benning, indicada para o Oscar), médica bem sucedida e que provê uma vida de classe média alta para a família; e a “mulherzinha” é Jules (Juliane Moore, sempre um arraso de interpretação), desviada de suas atividades profissionais para virar dona de casa. Fazem sexo inspiradas no cinema pornô com atores masculinos e não se excitam com mulheres na tela porque normalmente são heteros que fingem ser gays (exatamente o que acontece no filme, já que Annete e Julianne não são do ramo que interpretam). É o cinema oficial incorporando o cinema marginal como coadjuvante, como se faz com todo o boom de imagens digitais que assolam o mundo: a Sétima Arte do grande circuito comercial a tudo devora com seus bilhões.

Ambas se defrontam, por obra dos filhos que foram buscá-lo, com o doador de esperma Paul (Mark Ruffalo, também indicado para o Oscar). Elas são intelectuais, e, por força da chefe da família, ligadas ao grande mundo das roupas de griffe, casas espaçosas, restaurantes finos, escolas caras e outros luxos. Ele trabalha com a terra, ascendeu economicamente com a moda natureba depois de ter abandonado a faculdade (que acha inútil, para escândalo das mulheres), tanto é que tem não apenas um comércio de plantas como também um restaurante natural. O sexo das duas, feito de sutileza e imaginação (apesar da alta dose de crueza que permeia todas as cenas eróticas), se contrapõe ao sexo bruto protagonizado pelo homem, em cenas de arrasa quarteirão heterossexual.

É o clamor da terra se opondo à superestrutura da classe social, a tradição diante de sua ruptura. O cheiro da terra excita a amante negra e a “esposa” gay busca na jardinagem a saída para sua situação psicológica miserável. A luta de classes se manifesta não apenas pelo pouco caso à ignorância do homem, mas quando uma das mulheres é flagrada transando na hora do trabalho pelo subalterno hispânico. O empregado é demitido por ter estampado um sorriso de deboche. Jules sente culpa, mas não o readmite. Essa defasagem entre mundos economicamente à parte e com formações opostas (fonte dos preconceitos) é colocada de maneira natural no filme, já que faz parte da vida americana.

Quem usufrui da situação de privilégio são os filhos, que procuram suas origens e estão cheios de dúvidas em relação à vida adulta. Joni (Mia Wasikowska , que fez Alice in Wonderland), procura desengessar fisicamente beijando o melhor amigo, numa iniciativa frustrada. O rapaz, Laser (Josh Hutcherson), que o pai biológico por engano chama de Laze (preguiçoso) tem uma relação suspeita com um fortão da sua idade que o introduz na cocaína. Mas Laser é hetero e acaba aconselhando as mães a não romperem o longo casamento, já que estão muito velhas (uma franqueza adolescente que arranca risos das duas).

Trata-se de uma relação antiga, que deitou raízes na sociedade e que por isso merece ser tratada como qualquer outra, desde que se coloquem os parâmetros que a contestam (para atrair as multidões ainda com reservas) ou a confirmam (para se sintonizar com as multidões que fizeram a mesma opção). O homem, que vendeu esperma por uma micharia e acabou não fazendo família, tenta tirar em vão o atraso. O casal gay, depois da crise de relacionamento (e como se discute relação neste filme escrito e dirigido por mulher!) acaba mais firme do que nunca.

O filme se saiu bem. Além das indicações para o Oscar mantem a escrita de drama familiar comum no cinema americano. Um grande contingente social foi adotado pelo império e será considerado normal desde que não tente se transformar em obrigatório, achar que o armário não está o vazio o suficiente.

5 de abril de 2011

SONHEI COM O MUNDO CORPORATIVO


O mundo corporativo é uma vida pessoal que não te pertence. É pessoal porque você está todo lá, com seu corpo e bagagem, e diariamente cruza o trânsito para chegar às salas e aos corredores portando cabeça, bolso e membros. E não te pertence em nenhuma hipótese, qualquer que seja a posição ocupada. A maioria esmagadora das pessoas não possui cargos, são massa de manobra, permanecem em lugares subalternos. Quem tem posição de mando, pequeno ou grande, precisa se reportar sempre a algo maior, a alguém que muitas vezes não é visto diretamente, pois o verdadeiro poder não deixa que o enxerguem, como mostrou Stanley Kubrick no filme De Olhos Bem Fechados.

Vida pessoal de verdade é quando você tem o comando. Estar à mercê dos sistemas que o cercam, impõem, manipulam e enfim excluem (porque essa é a natureza do poder) é não exercer uma vida plena. Isso significa que existem multidões na mão de meia dúzia, que fazem gato e sapato das pessoas e as colocam no miolo de mil furacões. Passamos a vida nessa arenga sem fim. Com o tempo, vai piorando a não ser que você seja deslocado para um limbo onde ninguém tem interesse em tocá-lo, ou consegue galgar postos não apenas por seus méritos, mas por sua capacidade de derrubar os concorrentes.

Sonhei hoje com o mundo corporativo. Estava eu numa grande estrutura empresarial ou institucional, onde me sentia gratificando nas funções que exercia. No momento (foi essa a sensação, o que o sonho me repassou) em que eu estava pronto para dar um salto no trabalho, graças a paciente semeadura, em que enfim tinha o espaço à altura do esforço, vi sinais na minha mesa, quando cheguei no emprego, de que alguém estava no meu lugar. Poderia ser um casaco ou uma bolsa, não importa o gênero. O fato é que eu estava fora.

A cena seguinte foi a do chefão passando o braço por cima do meu ombro, me explicando porque eu tinha sido excluído e a pessoa então iria usufruir, agora com pompa (pois você é avesso a celebrações fúteis, e isso é fatal) do que eu tinha construído depois de anos de luta interna. Acordei com esse travo amargo tantas vezes experimentado, já que passei por vários lugares, onde tinha sido tenso o tempo todo, feliz às vezes, tendo conseguido fazer o que eu queria quando todos estavam distraídos, e despejado quando se deram conta que poderiam se livrar de mim. O ataque vem de quem está mais próximo. Não procure motivos ou culpados em lugares remotos. É o que senta ao lado, na frente, o que está na fuça e a ficha custa a cair, pois você está envolvido demais para entender o que se passa.

Os inimigos contam com essa vantagem: a proximidade é uma espécie de cegueira. O sujeito que leva a vítima em casa no dia da despedida, esse é o responsável direto. O que a deixa a sós com o desemprego e parte, célere, no seu carro vermelho. Lá vai o fulano cheio de si, livre da presença da criatura abatida com um golpe certeiro, realizado como um fera depois do banquete. Você então se volta para sua vida pessoal, que agora te pertence inteirinha: contas a pagar, e mais contas. Hora de refazer os caminhos, procurar uma saída, ir para onde ninguém quer ir, cavar novo lugar, tornar-se invisível. Até que o Destino, que te ama, te coloca novamente no miolo do drama. Então todos se assombram com tua capacidade de sobrevivência e superação.

Pois és um duro e é bom que saibam: com um guerreiro não se brinca.


RETORNO - Imagem desta edição: o ritual do poder no filme De Olhos Bem Fechados, de Kubrick.

3 de abril de 2011

ESPÓLIO


Nei Duclós

Não sei o que acontece em outras terras
Chove? Mas a nuvem foge pelo espelho?
Que desplante aguaceiro se não molho
Qual lugar que sobra sem que eu veja?

Não estive lá, paisagens que ignoro
ocorrências de narrações coevas
Brilho do sol em páginas apócrifas
desperdício de luz quando eu acordo

O Criador provê o que me toca
Tudo existe ao meu redor, espólio
de avós escrito pela História

Dizem que possuo apenas o soneto
e que o resto é ilusão, cinematógrafo
mas sou meu diretor e digo: ação!


RETORNO - Imagem desta edição: De olho no mundo, obra de Ricky Bols.

2 de abril de 2011

DESORDENAÇÕES CONCEITUAIS NO TWITTER


Nei Duclós

Vou reproduzir aqui algumas frases que postei no Twitter sobre a ditadura civil, mais conhecida como “democracia”. Gosto de conceitos pelo avesso. Minha série “O que é?” é a mais visitada do blog. O estudante vai lá, achando quem vai encontrar algo como a Wikipédia e se depara com definições que só dão rasteiras nos significados. É uma forma de dizer o que penso e sinto, mas como se fosse a imagem do espelho, tudo trocado. Vamos às frases de hoje.

O Estado de Direito é o direito que o Estado tem de não fazer nada direito

Ministério é uma poltrona que providencia dinheiro para quem senta nela

Alvorada é a obrigação que a maioria dos brasileiros tem sem precisar escutar o som do clarim Serve para começar o batente

Planalto é um lugar remoto com palácio dentro, onde até estátua de Cristo some em caminhão de mudança

Congresso é um evento permanente que serve para aprovar aumentos salariais para os organizadores

Voto obrigatório é o direito que as pessoas tem de comer lavagem no mesmo cocho

Voto distrital é quando a urna eletrônica está programada para eleger apenas os valentões do distrito

Democracia é a capacidade que todos tem de cometer crimes e ainda serem considerados cidadãos exemplares

No futuro, o tempo em que vivemos hoje será conhecido como a Época de Ouro da Internet . Arqueólogos escavarao tuits para contrabandeá-los

A Era de Aquario eh esta que estamos vivendo e que cumpre as profecias. Todo mundo diante de um vidro iluminado cheio de peixinhos

Não dê tempo aos seus tuits ou blogs. Quando vier a censura braba, e ela virá, todos teremos bastante tempo para dar um tempo

Aposentadoria é o direito que todos os brasileiros tem de se endividar quando perdem a capacidade de ter um emprego regular

Som alto é uma espécie de vírus mortal emanado por aliens que subjuga as mentes dos terráqueos para enlouquecê-los


Barulho de serra elétrica em fim de semana é a vida espiritual dos brutos

Trânsito é a condenação perpétua das pessoas que exercem uma atividade obsoleta: trabalhar

O bom mocismo que gera Luciano Huck é como a água limpa onde medra o mosquito da dengue

Saúde é o patrimônio exclusivo das pessoas com posses

Regime aberto é quando o criminoso pode voltar a cometer crimes de dia e voltar direitinho para a cela de noite

ALGUNS CONCEITOS DO LADO CERTO

Amigo é o que luta do mesmo lado, fora do círculo de ferro da ideologia, credo, origem, raça, religião, status ou nacionalidade about hours ago via web

Quando sofreres algum revés, não busque as causas longe nem dentro de ti Mas bem perto, em quem você jamais desconfia Está na tua fuça

RETORNO – 1. Impressionante: Ricardo Gama conta como sobreviveu a dois tiros na cabeça, um pescoço e outro no braço. Jornalista, advogado, pai de família e sujeito corajoso paca, Ricardo Gama levou chumbo na cara enquanto uns e outros posam em cima de seus feitos no passado. Ricardo Gama é aqui e agora. 2. Imagem desta edição - I am Spartacus, a cena inesquecivel do filme de Stanley Kubrick, com Tony Curtis e Kirk Douglas, quando todos os escravos assumem a identidade do lider. Disseram a verdade pelo avesso.