26 de novembro de 2008

“EM VIRTUDE DO MAU TEMPO”!


A paisagem derreteu em Santa Catarina. Não se trata de mau tempo, de enchente, inundação. Mas de uma situação completamente oposta ao que existia antes dos quatro meses de chuva. Os morros vieram abaixo e enterraram não as casas, mas as cidades. Os rios terem saído do leito é um evento tradicional, mas a montanha desistir de ser montanha é outra, completamente diferente. Passava todos os dias pela estrada que foi invadida pelos morros que despencaram, aqui perto de casa. Não é que as pessoas estejam ilhadas em Blumenau, Itajaí e várias outras cidades. Esses agrupamentos urbanos desapareceram com a catástrofe. Não é uma tragédia, é o fim de uma aparente normalidade, que não voltará à situação anterior. Sem querer fazer alarme: os saques aos mercados já começaram em Itajaí.

É heróico o esforço dos voluntários, dá gosto de ver bombeiros e soldados do Exército mobilizados, é bonito quando chegam as ajudas de outros estados. Mas tudo isso obedece a paradigmas que não existem mais, foram soterrados. Existe ajuda valiosa em remédios, comidas, colchões etc. Na lista dos itens, surgem utensílios como baldes. Baldes? Mas o que era uma cordilheira hoje está no telhado! Modelos de escavadeiras do tempo da minha infância ficam raspando lama e batendo em pedras gigantescas, que simplesmente rolaram como bem quiseram. Dez anos atrás vi um documentário sobre máquinas de vanguarda, gigantescas, feitas na Alemanha, para transporte, remoção de entulhos etc. Nós continuamos com as velhas Mastodontas, com conceitos ultrapassados. Levarão um mês para desuntupirem as pistas. Não acredito. Levarão mais de uma vida e a pista continuará a perigo.

Aí vem a força tarefa, os milhões liberados pelo governo e que sei eu mais. O que acontece é que o gigantismo do troço colocou todo mundo, governantes principalmente, no chinelo. Todos pagam o mico de serem ultrapassados pela nova realidade. Foi um tsunami que está sendo enfrentado por lamentações , baldes e retroescavadeiras. Todos contam com o fim da chuva, mas ela ronda. Faz um sol ardido, com nuvens esparsas ameaçadoras e dali a pouco recomeça. Levaram três dias para tirar o caminhoneiro do entulho. Dizem que tem vítimas embaixo dos deslizamentos e aí usam dinamite para apressar os trabalhos. Não se procuram sobreviventes nesses casos. É preciso desentrolhar a pista.

“Piove, governo ladro” diria o italiano radical. A culpa, não interessa. O que vale é a visão de futuro. O que vamos fazer com sistemas viários, urbanos, de distribuição de energia (dutos de água e gás se romperam) que não se seguram, que foram superados pelos acontecimentos. Vão querer fazer bondinho aéreo, como prometeram na campanha política? Vão continuar colocando uma camadinha de asfalto em cima do barro e da lama? Vão continuar permitindo que se construa bairros inteiros com casas sem alicerces, que sucumbem diante do peso da água que cai sem parar? Vão viajar para a Europa, como fizeram recentemente no Rio Grande do Sul, para aprender como eles fazem as canalizações, ou seja, vão lá fazer turismo e dizem que vão trabalhar.

Um espetáculo de balé não vai mais se apresentar mais em Blumenau “em virtude do mau tempo”. Que catso é isso? Blumenau submergiu, acabou. Pelo menos a cidade como era conhecida. Ou se parte para uma nova cidade ou vira tudo ruína. Pois seria suicídio insistir nos mesmos esquemas e esperar o quê? Um novo dilúvio? Aqui no norte da ilha, funcionou o sistema de esgoto pluvial implantado pela Prefeitura. Mas bem perto, em Canasvieiras, tem desabrigados. A verdade é que somos muito amadores, em tudo. Somos uma nação não amadurecida. Voluntariosa, corajosa em muitos aspectos, admirável pela força humana que mantém as coisas de pé, funcionando. Mas defasados, obsoletos, desinformados, indiferentes.

Santa Catarina é só um exemplo. O que aconteceu aqui, pode se repetir em qualquer lugar. Que Deus nos proteja. E nos dê forças para que as luzes da mente se acendam e encontrem soluções rapidamente.

RETORNO - 1. A imagem de hoje é de New Orleans depois do Katrina. Aqui não houve furacão, mas chuva e chuva. O Brasil não foi feito para a chuva. Imaginem se nevasse.


BATE O BUMBO - Ainda não me recuperei do Profissão: Repórter, do Caco Barcelos e jovem equipe, que foi ao ar depois da meia-noite, quando o Toma Lá Dá Cá (o besteirol do esgoto) esgotou todos os prazos de tolerância , tendo deitado, rolado e sapateado em cima do horário, obrigando as pessoas a ir dormir, a desistir. Mas eu resisti. Fiquei e vi. Foi uma grande reportagem sobre o julgamento de um crime em Guarulhos.

Jovem assassinada faz com que a Polícia encarcere três suspeitos, que teriam confessado sob tortura. Eles são liberados depois de dois anos, quando outro suspeito se atribuiu a autoria do crime. Os três foram soltos, mas novamente condenados, pois, segundo a perícia, o assassinato fora praticado por mais de uma pessoa. Não entendi porque condenaram os três, se não existiam provas. Condenaram apenas porque o outro, sozinho, não poderia ter sido o autor? Foi por eliminação?

Acho que Caco foi claro sem meter a mão na cumbuca. Caco é liso e super eficiente. Deixou na mão do telespectador o verdadeiro motivo da condenação pesada (mais de vinte anos para dois e nove anos para o terceiro). Ficam as perguntas. O lugar ermo que é desova de corpos, para onde os três teriam sido torturados, foi analisado, está sob intervenção, ou continua lá, na mesma?

Foi terrível ver a testemunha de dentro da prisão que teria ouvido gritos das supostas vítimas de tortura. O cara teve que ficar na delegacia, sob acusação de falso testemunho. Seria o poder de Polícia a verdadeira Justiça no Brasil? Não sabemos de nada. Não damos entrevistas. Não fazemos declarações. Passe bem.

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